Blog do Flavio Gomes
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Danke, #96

SÃO PAULO (tentei) – Bem, foi uma bela historinha a que esse carro escreveu desde o dia em que decidi livrá-lo de seu destino mais provável, o ferro-velho, em meados de 2002. Disputou quatro campeonatos, quebrou muito, muito mesmo, usou o número 17, depois o 12, correu de 6, até de 99. Mas foi como […]

SÃO PAULO (tentei) – Bem, foi uma bela historinha a que esse carro escreveu desde o dia em que decidi livrá-lo de seu destino mais provável, o ferro-velho, em meados de 2002. Disputou quatro campeonatos, quebrou muito, muito mesmo, usou o número 17, depois o 12, correu de 6, até de 99.

Mas foi como #96 que ele se consagrou, virando personagem, ganhando vida própria e, quem diria, uma pequena legião de fãs. Digo, sem medo de errar, que é dele a responsabilidade por esse belo movimento de apaixonados por automobilismo que casualmente se encontraram neste blog, viraram amigos, passaram a se encontrar, voltaram a frequentar Interlagos e redescobriram, ou descobriram, no caso dos mais novos, as corridas.

Mas, como tudo, um dia acaba. E a fase de celebridade do #96 acabou sendo efêmera: duas corridas com público, faixas e torcida para ele, depois de anos correndo para ninguém, ou só para mim, diante de arquibancadas vazias, sem ninguém para testemunhar seu esforço.

Talvez tenha sido emoção demais para aquele simpático monte de lata. Já da segunda ele quase não participa, mas aí sejamos justos: por culpa exclusiva de quem estava ao volante, igualmente aparvalhado com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo.

Amanhã deveria ser um dia de glória para o #96, um monte de gente planejou vê-lo, mas seu coração de ferro não aguentou. Ontem à tarde deu os primeiros sinais de fadiga, derretendo uma biela sem aviso prévio. Fizemos de tudo para ressuscitá-lo e hoje, depois de horas de trabalho incansável dos mecânicos, deu seu último suspiro.

Foram quatro voltas debaixo de uma garoa fina, até travar tudo de novo. O #96 me avisou lá no fim da Reta Oposta, onde há alguns dias quase morreu numa pancada no muro, que estava na hora de dar um tempo. Cortou o motor e parou silenciosamente.

Conheço bem esse carro para entender seus recados. Entendi e compreendi. 43 anos de bons serviços prestados, os últimos quatro acima de qualquer limite recomendável para um veterano de muitas batalhas.

Pois que a última foi travada, e ele agora ficará para sempre no meu coração e na minha garagem, com as marcas da luta.

Valeu, #96.