Blog do Flavio Gomes
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Velório da democracia

SÃO PAULO (cadê todo mundo?) – Adoro eleição. Lembro da primeira de 1982, minha pose de cidadão ao depositar minha cédula soberana, Rogê Ferreira na cabeça. Que, claro, não ganhou. Mas eu tinha 18 anos e era dono do meu nariz. Lembro de 1986, trabalho na apuração, as juntas nos ginásios de esportes, as estruturas […]

SÃO PAULO (cadê todo mundo?) – Adoro eleição. Lembro da primeira de 1982, minha pose de cidadão ao depositar minha cédula soberana, Rogê Ferreira na cabeça. Que, claro, não ganhou. Mas eu tinha 18 anos e era dono do meu nariz.

Lembro de 1986, trabalho na apuração, as juntas nos ginásios de esportes, as estruturas de madeira e as lâmpadas nuas penduradas, os fiscais dos partidos.

A maior de todas, 1989, meu carro um palanque ambulante, estacionava de propósito na frente do jornal, até o dia em que fui chamado à direção, levei uma dura, quase fui mandado embora. Mas no dia seguinte estacionei o carro no mesmo lugar.

E boca-de-urna, e o orgulho do voto no peito, e a chegada das urnas eletrônicas, e as bandeiras, santinhos, a festa na rua.

TVs e rádios direto, olho grudado na tela, ouvido no alto-falante, queria saber tudo.

São quase duas da tarde, o país está elegendo um monte de gente e decidindo seu destino. Não há clima de festa nas ruas. Na TV: SBT passa “O Vidente”. Globo passa “A.I. – Inteligência Artificial”. Record passa “Chuva de Milhões” (o que é isso?). Rede TV! passa “Conexão Gospel”. Na Gazeta, estão vendendo sandálias numa tal de Rede Galinha Morta. Na Band, VT de Milan x Siena, que foi 0 a 0. Na Globo News, o historiador Tony Judt dá uma entrevista no programa “Milênio”.

Ninguém quer saber de nada, eu quero saber de tudo.