Blog do Flavio Gomes
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O ano em que vi um grande filme

SÃO PAULO (vá) – Ontem fomos ver “O ano em que meus pais saíram de férias”. Muita gente ainda tem preconceito contra cinema brasileiro. Depois de “Central do Brasil” e “Cidade de Deus”, para ficar apenas nos mais famosos, isso já não deveria acontecer. Mas ainda tem muita gente que acha filme brasileiro ruim. E […]

SÃO PAULO (vá) – Ontem fomos ver “O ano em que meus pais saíram de férias”.

Muita gente ainda tem preconceito contra cinema brasileiro. Depois de “Central do Brasil” e “Cidade de Deus”, para ficar apenas nos mais famosos, isso já não deveria acontecer. Mas ainda tem muita gente que acha filme brasileiro ruim. E que gosta de Mel Gibson e Bruce Willis.

Eu tenho preconceito contra cinema americano, por exemplo. Acho tudo uma porcaria. OK, tudo não. Quase tudo. Pronto, assim não me acusam de ser generalista. Quase tudo não é tudo. É quase tudo. OK assim?

“O ano…” é aquele tipo de filme que não tem diálogos supérfluos, cenas desnecessárias, momentos inúteis. Viaja por silêncios e olhares, cada um deles essencial, fala-se e mostra-se o que é preciso falar e mostrar, não trata o espectador como um retardado, é vida real, verossímil, sensível.

Não tem estética hollywoodiana, nem global (embora tenha sido co-produzido pela Globo Filmes), as pessoas são comuns e passam for situações comuns, moram em lugares comuns, comem comida comum, vestem roupas comuns. Uma lição para quem pretende fazer qualquer reconstituição de época no Brasil, no que for.

Não entendo picas de técnicas de cinema, mas sei reconhecer uma boa fotografia, uma câmera inteligente, uma direção competente, um som inacreditavelmente bom, uma trilha sonora de bom gosto e artistas talentosos.

O garoto Michel Joelsas (Mauro), a espevitada Daniela Piepszyk (Hanna) e o comovente Germano Haiut (Shlomo) mereciam três Oscars, são melhores do que qualquer daqueles paspalhos premiados todos os anos em Los Angeles. Germano, lojista no Recife e ator quase amador (fez muito teatro e alguns filmes anos atrás), é soberbo em tudo, nos gestos, no andar, no tom de voz, no sotaque.

Ah, e tem carros, também. E Cao Hamburger parece que entende deles. O filme se passa em 1970. Desfilam pela tela alguns Fuscas, um Esplanada, alguns Opalas, um Zé do Caixão, uma Variant (frente alta, bingo), um Galaxie (500, bingo de novo), um Belcar 67, um ou outro Simca e Aero Willys, algumas camionetes e caminhões e camburões. Nenhum deles, posso garantir, fabricado depois de 1970.

Lindo filme, bela produção, dá até orgulho. Se não viu, vá.