O ano em que vi um grande filme

SÃO PAULO (vá) – Ontem fomos ver “O ano em que meus pais saíram de férias”.

Muita gente ainda tem preconceito contra cinema brasileiro. Depois de “Central do Brasil” e “Cidade de Deus”, para ficar apenas nos mais famosos, isso já não deveria acontecer. Mas ainda tem muita gente que acha filme brasileiro ruim. E que gosta de Mel Gibson e Bruce Willis.

Eu tenho preconceito contra cinema americano, por exemplo. Acho tudo uma porcaria. OK, tudo não. Quase tudo. Pronto, assim não me acusam de ser generalista. Quase tudo não é tudo. É quase tudo. OK assim?

“O ano…” é aquele tipo de filme que não tem diálogos supérfluos, cenas desnecessárias, momentos inúteis. Viaja por silêncios e olhares, cada um deles essencial, fala-se e mostra-se o que é preciso falar e mostrar, não trata o espectador como um retardado, é vida real, verossímil, sensível.

Não tem estética hollywoodiana, nem global (embora tenha sido co-produzido pela Globo Filmes), as pessoas são comuns e passam for situações comuns, moram em lugares comuns, comem comida comum, vestem roupas comuns. Uma lição para quem pretende fazer qualquer reconstituição de época no Brasil, no que for.

Não entendo picas de técnicas de cinema, mas sei reconhecer uma boa fotografia, uma câmera inteligente, uma direção competente, um som inacreditavelmente bom, uma trilha sonora de bom gosto e artistas talentosos.

O garoto Michel Joelsas (Mauro), a espevitada Daniela Piepszyk (Hanna) e o comovente Germano Haiut (Shlomo) mereciam três Oscars, são melhores do que qualquer daqueles paspalhos premiados todos os anos em Los Angeles. Germano, lojista no Recife e ator quase amador (fez muito teatro e alguns filmes anos atrás), é soberbo em tudo, nos gestos, no andar, no tom de voz, no sotaque.

Ah, e tem carros, também. E Cao Hamburger parece que entende deles. O filme se passa em 1970. Desfilam pela tela alguns Fuscas, um Esplanada, alguns Opalas, um Zé do Caixão, uma Variant (frente alta, bingo), um Galaxie (500, bingo de novo), um Belcar 67, um ou outro Simca e Aero Willys, algumas camionetes e caminhões e camburões. Nenhum deles, posso garantir, fabricado depois de 1970.

Lindo filme, bela produção, dá até orgulho. Se não viu, vá.

Subscribe
Notify of
guest

24 Comentários
Newest
Oldest Most Voted
Inline Feedbacks
View all comments
Zé Sérgio
Zé Sérgio
17 anos atrás

O Problema do cinema americano é a quantidade,a gente assiste tanta porcaria que sem querer acaba generalizando.Só para lembrar de alguns excelentes:O Império do Sol,Menina de Ouro,Grand Prix(sim,houve uma época em que os americanos faziam filme sobre F1,tinham 2 gps no ano e piloto campeão do mundo)

Gomes
Gomes
17 anos atrás

Tudo não. Quase tudo. Gosto, por exemplo, da espuma de barbear da Gillette e dos hambúrgueres do White Castle.

Daniel
Daniel
17 anos atrás

Gomes e seu incorrigível anti-americanismo. “paspalhos premiados todos os anos em Los Angeles”? Como assim? Vejamos quem são alguns destes paspalhos: Jack Nicholson, Al Pacino, Denzel Washington, Robert de Niro, George C. Scott, Dustin Hoffman, Walter Matthau, Jack Lemmon, Robert Duvall, Gene Hackman, Tom Hanks, entre outros. Realmente um bando de paspalhos. Sobre o cinema brasileiro, realmente tem melhorado muito, e o preconceito com relação a ele é tão estúpido quanto o preconceito do Gomes frente a tudo que tenha sua origem nos Estados Unidos da América.

Júnior
Júnior
17 anos atrás

Gostei da sua dica. Se você não gosta de filme americano,(eu também sou bastante seletivo, proncipalmente os de sucesso de bilheteria), assista o filme do grupo Monthy Phynton (não sei se assim que escreve) a comédia: BRAZIL, O FILME. É uma comédia longa (120 min) que analiza o “Gigante Sem Cabeça” no ano de 2045. Para os anti-americanos, o filme é ingês.

joli le chat
joli le chat
17 anos atrás

Cinema americano é bom, é ótimo, é fantástico. E o melhor de tudo: não é pago com dinheiro público.
Quem sabe um dia teremos isso por aqui também.

Sucrilhos
Sucrilhos
17 anos atrás

Eu gosto do cinema nacional. mas meio que torço o nariz, pq os roteiros giram quase sempre em torno da ditadura militar ou o nordeste. acho que tem mais histórias sobre esse brasil que poderiam ser contadas.

jovino
jovino
17 anos atrás

Flávio,

Dois filmes brasileiros, para mim, são os melhores que vi até hoje, Vidas Secas, baseado em obra do Graciliano Ramos e O pagador de promessas, que ganhou a Palma de ouro do festival de canes lá no início da década de 60.

Jovino

Helio
Helio
17 anos atrás

o cinema nacional melhorou muito

Olga e Dois filhos de Francisco são dois filmaços também

Carlos Trivellato
Carlos Trivellato
17 anos atrás

Existem produções cinematográficas que admiro: em primeiro lugar a brasileira (ao menos o que se produziu de bom até hoje) e a européia de um modo geral, com destaque aos italianos.
Acredito que, com o relato do Flávio e mais o que tenho lido pela mídia, essa seja mais uma boa produção. Porém, não assistirei a esse filme, para quem viveu a época, ou melhor, sabe de um pouco do que aconteceu na época (poucos sabiam então…), com certeza, será uma recordação amarga de um período triste de nossa história, quando muita gente engajada em defender um ideal ilusório, acabou perdendo a vida por nada, senão, para resultar ,como diz aquele pessoal de um certo partido, “nisso que está aí….”.

Ca
Ca
17 anos atrás

Realmente. Tb vi e gsotei do filme. E não curto muito mesmo filmes nacionais, com algumas exceções. O problema é que sempre tem mesmo muito palavrão neles. Algo forçado até… e desnecessário. Mas este não é assim. Apesar de ser comprido, é legal, sensível e vale a pena. (Além de relembrar algo da Copa de 70, que eu não vi.)

Engate
Engate
17 anos atrás

Pena que não tem mais essas Veraneios…
Acho que um filme brasileiro, pra ser bom, não pode ter artista de novela.
Esse Cazuza, que passou na TV, é uma %!$&#de filme. Idolatria de um inútil vagabundo. Só se salva a atuação do ator principal.

pensem
pensem
17 anos atrás

pensem que 99 porcento do pessoal de esquerda era pego por se acusado de “panfletagem” ou de serem “subversivos” ou ainda de “agirem contra o governo e a patria”

os outros 1 porcento talvez fossem praticantes de atividades nao adequadas

quem não sabe disso no minimo desconhece a hsitoria, e muitos deles sim foram pegos assim, sem mais nem menos, por essas simples acusações

inclusive se voce tivesse um vizinho e achasse que ele tinha material “comunista” com ele, e o denunciasse, de certo alguma veraneio bateria na porta dele e o levaria em pouco tempo

Felipe Bitu
Felipe Bitu
17 anos atrás

E por falar em rir, vejam o que eu achei:

http://malditosfilmesbrasileiros.blogspot.com

Estou me acabando de rir… Desculpem o trocadilho, mas que diabo é isso:

http://img137.imageshack.us/img137/9646/seduzidas24sx.jpg

E concordo com o MvGarcia. Não sou nem de direita nem de esquerda (odeio rótulos), mas nem todo militante de esquerda dos anos 60/70 era santo.

O povo demoniza demais algumas coisas. É tipo o cara que demoniza o George W. Bush, sabendo que é para o Brasil é muito pior um democrata no poder do que um republicano (que horror a época Bill Cliton – anos 90)

Rodrigo Borges
17 anos atrás

Preciso ir ver. Coisas boas ficam pouco tempo em cartaz.

mvgarcia
mvgarcia
17 anos atrás

Eu pretendo assistir esse filme.

Mas uma coisa que eu me pergunto é porque não há contraponto no caso das perseguições?

Quando eu era adolescente, cheio de discursos políticos, mau avô certa vez disse (contra meu discurso): e eles não fizeram nada para receber isto (ser preso pelo dops, por exemplo)?
Hoje eu percebo que a maioria dos artistas, intelectuais, jornalistas, os maiores formadores de opinião, em suas tendências esquerdistas (em geral), foram os mais atingidos, hoje não havendo contraponto, pois esses que geram a produção cultural.

A idéia que fica é que foi uma crueldade sem motivo algum, simplesmente um dia você está indo ao banco e some… será que foi só isso? Tão simples?

Felipe Bitu
Felipe Bitu
17 anos atrás

Aqui em casa eu pago TV a cabo, tem 1.000.000 de canais, mas apenas 3 deles prestam: o Discovery Channel, o History Channel e um canal de filmes nacionais onde vive passando aquelas pornochanchadas com a Vera Fischer e a Adele Fátima. A última que passou se chamava “A árvore dos sexos”, eu acho que eu nunca ri tanto em toda a minha vida, porcariazinha de filme vagabundo, mas engraçado pacas.

gildo - Zé34
gildo - Zé34
17 anos atrás

E aí Flavio, %!$&#filmaço!
Eu acho que meu Zé do Caixão, que é o taxi no filme, vai acabar ganhando o quarto Oscar do filme, como  melhor ator coadjuvante. Foram 5 segundos(de fama…) perfeitos: não rateou em nenhuma das 20 vezes que filmaram a cena… trabalhou direitinho, a pintura tava brilhando( eles até pediram para sujar um pouquinho….para caracterizar melhor um taxi na rua… tive que deixar, né…)
Mas valeu, para estar neste maravilhoso filme do Cao Hamburger emprestaríamos até o #96 e o  Zé 34 da Super Classic, cê não acha?……  

Dot
Dot
17 anos atrás

O grande problema do cinema nacional são os palavrões. É impressionante como eles abusam. Em Cidade de Deus devem ter batido o record mundial tranquilamente.

O cinema americano é ótimo, produz maravilhosos filmes de entretenimento, pois afinal é esta a função do cinema e para isso foi criado, ate que algum idiota resolveu que os intelectuais brasileiros são sempre de esquerda, gostam do Chico e detestam tudo que vem dos EUA e que tem que assistir filmes nacionais já que o cinema americano é lixo e serve apenas para exportar a cultura americana.

Rafael
Rafael
17 anos atrás

Nada como filmes de época, para ver e rever esses maravilhosos carros…
Eu vi esse filme, muito legal. Apenas como informação, as imagens externas foram todas filmadas na cidade de Campinas…

Ricardo
Ricardo
17 anos atrás

Oi pessoal,
FG, ninguem te acusa de ser generalista, mas simplesmente de ser anti-estadunidense (só prá atazanar, pois tambem somos americanos, OK?).
Agora achar que cinema nacional é o píncaro da sétima arte, tenha dó né ?
Tambem assisti ao filme “O ano..” e gostei, mas não vamos exagerar né ?
[ ]´s

sérgio barros
sérgio barros
17 anos atrás

realmente, o filme me surpreendeu, como não havia efeitos especiais, a história foi o foco no filme.
no estadão de hoje, há uma matéria de um colaborador explicando os fatos, pois trata-se de uma história real, e analise as pessoas na época.

André Grigorevski
André Grigorevski
17 anos atrás

Está aí um filme que eu estava pensando mesmo em assistir… E pra quem gosta de carros como a gente, há alguns filmes nacionais recentes bem interessantes.

Joaquim Souza
Joaquim Souza
17 anos atrás

Dever ser bom esse filme…

Agora um filme que eu sou louco é o Bufo & Spallanzani, SENSACIONAL O FILME…

Assistam e leio o livro, do mestre Ruben Fonseca…

Wagner Scaglione
Wagner Scaglione
17 anos atrás

O Filme deve ser bom, mas aqui produzimos muitas tranqueiras, vide:

Casseta & Planeta, os Normais, até Malhação vai virar filme ano que vem.

Imagine a %!$&#que vai sair !