Blog do Flavio Gomes
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2006

SÃO PAULO (cansei, mas estou feliz) – Macacada, vou tirar férias. Há muito tempo não faço isso, mas desconfio que umas duas ou três semanas por ano para se desligar de um mundo (escrever, gravar, falar, comentar, correr) e se ligar noutro (descansar, tomar sol, água de coco, ir à praia, jogar bola com os […]

SÃO PAULO (cansei, mas estou feliz) – Macacada, vou tirar férias. Há muito tempo não faço isso, mas desconfio que umas duas ou três semanas por ano para se desligar de um mundo (escrever, gravar, falar, comentar, correr) e se ligar noutro (descansar, tomar sol, água de coco, ir à praia, jogar bola com os meninos, andar de bicicleta) é algo mais do que necessário.

Pois farei isso, encerrando as atividades bloguísticas por alguns dias, provavelmente até a primeira ou segunda semana de janeiro.

Fecho 2006 com ótimas memórias. Quando do primeiro aniversário do blog, dia 5 de dezembro, já rolou um certo balanço anual, mas como hoje é o último, decidi deixar no ar, para matar as saudades, um megapost.

Com tudo, ou quase tudo, numa ordem mais ou menos cronológica, desta aventura virtual e coletiva em que se transformou o Blig do Gomes, do qual, suspeito, nunca vou me livrar. E nem quero.

Tudo começou com uma defesa incondicional dos motores a ar da Volkswagen motivada pelo anúncio de que a Kombi 2007 seria equipada com um (argh) motor a água 1.4 do Fox.

“Carros” ainda não tinha sido lançado no Brasil, mas se tem uma Kombi que merece ser o símbolo da minha luta inglória é Fillmore, a simpaticíssima Pão-de-fôrma hippie de um dos filmes mais legais de todos os tempos…

Chegava perto, então, a abertura do campeonato da Superclassic, e eis que o doido aqui manda para o ar um concurso para escolher a pintura do meu DKW de corrida. O prêmio para o vencedor eram ingressos para as Mil Milhas. Se bem me lembro, eu sugeria que se fizesse alguma homenagem ao Norman Casari, que havia morrido no final de 2005.

E eis que me chegam mais de 50 sugestões de pintura, muitas ótimas, muitas boas, nenhuma ruim. Um dos primeiros a mandar seu layout foi o Bruno Mantovani, que acabou ganhando o concurso. Abaixo, o segundo esboço que me mandou (o primeiro tinha a fonte do número diferente, apenas), e que acabou sendo o escolhido…

…gerando filhotes, como a divertidíssima caricatura bolada pelo nosso homem na Paraíba, Maurício de Souza…

…e a “réplica” do Mantovani, que acabou sendo usada na camiseta do #96, mais uma brincadeira divertida, que foi vendida pelo blog e, devo admitir, teve ótima aceitação…

Só que muitas das sugestões vocês sequer chegaram a conhecer, e para não deixar nenhum mistério no ar, vejam como poderia ter sido o #96…


Aí veio a história do MUG. MUG pra lá, MUG pra cá, até que surgiu uma artesã que ainda os fabrica em Jacareí (comprei um monte), veio um original para mim de Florianópolis, e ao mesmo tempo resolvi fazer outro concurso, para mudança do meu capacete. Mais um monte de sugestões, até a difícil escolha de duas, o da esquerda do Felipe Montanheiro e o da direita, do Maurício de Souza. Fiquei com os dois, Felipe mesmo pintou sua criação e a outra foi executada à perfeição pelo grande artista de cabeças de pilotos Thiago Amorim, do Rio.

O blog ia de vento em popa, como se diz, e alguns blogueiros começaram a aparecer nas corridas da Superclassic. Já não vou saber precisar em qual etapa (os bons de memória que a refresquem aqui!), tive a idéia de chamar a macacada a Interlagos para um farnel (muita gente aqui nem sabe o que é farnel, ainda!).

E para minha surpresa, Brandão, Joaquim, Máximo, Salomão, Caio e o impagável Ceregatti, personagens de primeira hora, conseguiram arrastar uns 300 doidos ao autódromo, começando um movimento que, juro, eu jamais poderia sonhar.

Gente de todo o Brasil, com anos de vontade de ver corridas represados, uma gana de falar com seus iguais, contar o que sabe, aprender, ouvir, matar as saudades, sentir, reviver, e como num passe de mágica todos se teletransportaram para o Templo Sagrado, tendo o pobrezinho do #96 como pretexto, mas poderia ser qualquer outro, o carrinho foi um catalizador, e a partir dali ganhou fã-clube, torcida organizada, comunidades no Orkut, um cara para tirar o pó, plataforma particular, miniatura e periga virar personagem de história em quadrinhos…

“De onde saiu tudo isso?”, eu me perguntava na torre, durante o briefing, vendo o pessoal chegando com comidas, bebidas e paixão, “que diabos está acontecendo?”, e acontecia o encontro, ao som de Beatles 4Ever e Zé Rodrix, como disse, de iguais. Amigos que ganhei para sempre, e que passei a levar, cada um deles, dentro do valente #96 até estampar o carrinho num muro num treino, e ele me devolver a gentileza com um pódio no dia do meu aniversário.

Ah, esse #96, retratado pelas lentes precisas de Rodrigo Ruiz e Vinícius Nunes, um monte de lata barulhento e fumacento, que apesar de se arrastar arfando pelo Templo nunca deixou de ter centenas de pares de olhos sobre ele, uma torcida desinteressada e apaixonada mais pelo que ele representa do que, propriamente, pelo que faz nas mãos deste dublê de piloto que vos fala.

Até que um dia resolvi aposentá-lo, depois de duas quebras no mesmo fim de semana, e o povo foi às ruas e não deixou. O #96 é, sem dúvida, o grande personagem do ano para mim. A ele, minhas homenagens.






No rastro dos farnéis, aparece Guilherme Decanini, amante das corridas e pé-de-chumbo juramentado, e me vem com uma história de Fórmula Speed, e você precisa conhecer, precisa andar, precisa correr, e lá vou eu, despenco para Itu, e me apaixono à primeira vista pelos carrinhos (ou seriam karts) abusados, velozes, deliciosos de guiar, com cinco marchas dentro do cockpit e dezenas de novos amigos do lado de fora dele, como o Monis, o Lucca, o Thomaz, todos os mecânicos e todos os outros pilotos, que me fizeram um carro, me deram um presente que não tem tamanho.

E lá vou eu correr, em dia de GP da F-1, anoto a corrida pela TV nos boxes, escrevo na administração com conexão discada comendo um x-salada, e tudo dá certo, menos minha performance, sofrível. Que foi enterrada de vez quando levei a maior sova automobilística da minha vida do Comendador Ceregatti, esse do #41, que pisa mais do que fala.

Farnéis, F-Speed, pizzas às sextas-feiras no Speranza, novos e velhos amigos que se encontram, e o blog que não pára. Gira o mondo, e são as fotos do Veloz, do Joaquim, do Jonny’O, do Caíque, do Sidney Cardoso, da Adriana Greco, no comments, yes comments, cacetadas de todos os lados, Lada, Lada, Lada, carros que gosto, carros que não gosto, ônibus que param, álbum de família sobre rodas, lembranças que voltam, poeira tirada dos arquivos da memória e uma nova vida que, ao menos para mim, se apresenta inteirinha para ser vivida.

Pode parecer exagero, mas este blog, graças a vocês, teve, sim, esse poder de criar uma nova vida para este escriba que, no final de 2005, foi levado a tomar a decisão de não insistir mais em acompanhar todas as corridas da F-1 ao redor do mundo, cansado de aviões, hotéis e, principalmente, louco para ficar mais tempo perto de quem gosta e precisa.

A recompensa foi encontar mais gente para gostar e precisar. 2006 foi o melhor ano da minha vida, e se este blog tem algo a ver com isso, que bom.

A todos, um 2007 ainda melhor. E um muito obrigado. Até a volta. Fui. De Lada.