Blog do Flavio Gomes
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Gira mondo, gira (sexta)

SÃO PAULO (informação nunca é demais) – Tenho notado, nos meus fortuitos encontros com leitores de “Veja” e auscultadores de figuras impolutas que fazem as vezes de comentaristas de política internacional no rádio, um temor extremo do furacão Chávez. Hugo Chávez, presidente eleito da Venezuela, tem sido tratado pela nossa impoluta mídia como um excêntrico […]

SÃO PAULO (informação nunca é demais) – Tenho notado, nos meus fortuitos encontros com leitores de “Veja” e auscultadores de figuras impolutas que fazem as vezes de comentaristas de política internacional no rádio, um temor extremo do furacão Chávez.

Hugo Chávez, presidente eleito da Venezuela, tem sido tratado pela nossa impoluta mídia como um excêntrico perigoso. Que vai tomar os apartamentos da classe média para dividir com os pobres (já ouvi isso antes). Que vai contaminar nossa próspera América do Sul com suas idéias comunistas e totalitaristas.

Oh, quanto medo expressam meus amigos que têm casa na Riviera! O que será de nós com esse louco como vizinho? Vejam, está nacionalizando o petróleo! Vejam, não vai renovar a concessão da TV Globo deles! Oh, o que faremos se isso acontecer aqui? Onde vamos assistir ao “Big Brother”? No meu Land Rover ninguém encosta!

Perco a paciência rápido com esse tipo de gente, e percebo que muitos de meus amigos que têm apê na Riviera têm me tratado como se fosse eu uma versão paulistana do comandante Hugo. Um excêntrico, em suma.

Chávez é o demo da vez. Gozado que é considerado um ditador esquizofrênico, assim o tratam a “Veja” e boa parte da mídia, esquecendo-se do detalhe que me parece relevante de que ele foi eleito e reeleito em eleições abertas e democráticas. Ora, a democracia… Às vezes não funciona, parece.

Dada minha preguiça de aprofundar determinados colóquios à mesa de restaurantes chiques, pensei em sugerir a todos que assistam ao documentário The Revolution Will Not Be Televised, em oito capítulos, disponível no YouTube. Posso estar enganado, mas esse documentário, de 2002, nunca foi ao ar em nossos canais, abertos ou fechados. Ora, a democracia… Bem, a TVA é da Abril, a NET é da Globo. Não me surpreende.

O material foi colhido por jornalistas irlandeses que estavam meio por acaso em Caracas quando a elite venezuelana, tão machucadinha, coitada, tentou derrubar Chávez. Tomou o palácio, instalou um governo, e caiu dois dias depois porque o povo (quem é esse cara?) venezuelano foi às ruas e mandou os caras plantarem batatas. A maioria, hoje, vive em Miami. Porque querem, já que nem os generais conspiradores Chávez prendeu. Apenas expulsou das Forças Armadas.

O que as TVs privadas da Venezuela fizeram com Chávez em 2002, com apoio de certo vizinho mais ao norte, foi uma das maiores cafajestadas da história contemporânea. No fim, fez-se história naquele fim de semana de abril. Mas, aqui, tudo aquilo foi tratado apenas como mais uma esquisitice dessa turma que fala castelhano e tem cara de índio.

(Sobre o tema, recomendo o artigo de Mair Pena Neto no “Direto da Redação”. Aliás, recomendo todos seus artigos.)

Ah, não comentem nada antes de assistir aos oito vídeos. Leva algum tempo. É que para compreender bem as coisas leva mais tempo do que ler duas páginas de revista, ou ver 30 segundos no “JN”. No pain, no gain.