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Alonso: a diferença que um piloto faz

SÃO PAULO (cadê meu ovo?) – O sorriso estampado no rosto de Ron Dennis ao final do GP da Malásia não deixa dúvidas. “Acertei”, ele parecia dizer, sobre a contratação de Alonso. E sobre a aposta em Hamilton, como não? Antes de começar o campeonato, considerava-se a dupla da Ferrari, Raikkonen-Massa, a mais forte da […]

SÃO PAULO (cadê meu ovo?) – O sorriso estampado no rosto de Ron Dennis ao final do GP da Malásia não deixa dúvidas. “Acertei”, ele parecia dizer, sobre a contratação de Alonso. E sobre a aposta em Hamilton, como não?

Antes de começar o campeonato, considerava-se a dupla da Ferrari, Raikkonen-Massa, a mais forte da temporada. O noviciado de Lewis impedia que se imaginasse uma performance tão boa logo de cara na parceria com Fernandinho.

Mas, depois de duas provas, dá para afirmar sem medo de errar que Alonso-Hamilton é a dupla do ano.

A largada dos dois foi fenomenal, e a defesa de posição de Hamilton contra Massa, uma aula de pilotagem — com direito a X e tudo. Ali, parecia Felipe o novato e Lewis o veterano.

Massa acabou errando, e já na sexta volta tornou-se carta fora do baralho. Chegou em quinto, resultado muito ruim para quem largou na pole. Pior para ele, Kimi não quis andar mais que o carro e se contentou com o terceiro lugar. Marcou mais 6 pontos, foi a 16 e abriu 9 de vantagem sobre o companheiro. Em duas provas, é muito.

Pitaquinhos, para não ficar enrolando…

– Felipe, o mais rápido da pré-temporada e dos treinos na Austrália e na Malásia, está apenas em sexto lugar no campeonato, com 7 pontos, 11 atrás do novo líder Alonso. E junto do chorão Fisichella, da decadente Renault.

– A McLaren não vencia uma corrida desde Suzuka/05, com Raikkonen. Foi a primeira dobradinha desde Brasil/05, com Montoya-Raikkonen.

– Hamilton: duas corridas na vida, dois pódios. Bom ou quer mais?

– Fernandinho: segundo na primeira, primeiro na segunda. Bom ou quer mais?

– Kimi: para a Globo, “conservador”. Se fosse um brasileiro, seria “inteligente e maduro”.

– Aliás, a Globo… São todos meus amigos, antes que pensem bobagem. O que não quer dizer que tenho de achar tudo que dizem bonito. Além do mais, acho que isso é orientação da casa, não é possível. Na Globo, brasileiro não erra, mas sim “arrisca demais e sai dos padrões”. Se não passa, “é culpa da F-1”, ou tem seu desempenho “limitado” pelo que está na frente. A corrida teve um monte de ultrapassagens. Felipe não errou. “Foi além do limite, é questão de estilo”. Não avaliou mal a tentativa de ultrapassagem. “Faltou ter menos sujeira aí”, sendo “aí” o pedaço de asfalto onde ele foi parar para tentar fazer a curva. Alonso e Hamilton não largaram bem, e Felipe mal. “Precisa ver como é o dispositivo de largada da McLaren”. Massa não foi precipitado. “Mostrou uma Fórmula 1 diferente dos últimos anos”. O brasileiro não jogou o pódio no lixo. “Pagou o tributo pelo arrojo que tem”. Aí, no fim da corrida, o repórter pergunta a ele se errou. E Massa: “Lógico”.

– Ou seja: narrador e comentaristas podiam ter dito apenas, naquele momento, que Massa cometeu um erro. Porém, não disseram. Ficaram fazendo firulas a corrida inteira. Firulas que não aplicam a outros pilotos, de outras nacionalidades. Aliás, é preciso parar com esse negócio, também, de determinar para quem temos de torcer antes de começar a corrida. “Vamos todos torcer por Felipe Massa!”, é como abrem as transmissões, é como fazem as chamadas. Por quê? E se eu quiser torcer para o Sutil? Ou para o Liuzzi? Posso?

– O que quero dizer, é que meus amigos globais são bons o bastante para não precisarem fazer o que fazem. Entendem de corridas, conhecem o assunto, são experientes, inteligentes e competentes. Em resumo: não têm necessidade alguma de fazer o papel ridículo de animadores de torcida, “cheerleaders” televisivos, pachecos fora de época. A audiência não vai subir ou cair se o narrador for realista o bastante para dizer o que realmente aconteceu. As cotas publicitárias estão vendidas. O piloto não vai cobrar dele uma eventual crítica. E se cobrar, que o mandem plantar batatas. Por que é tabu na Globo dizer que um brasileiro cometeu um erro?

– Para ser justo: no encerramento da transmissão a palavra “erro” foi usada. Cheia de atenuantes, na linha “é disso que o povo gosta”. Mas ouvi, sim, alguém dizer “erro”.

– Me estendi sobre TV, mas é algo que me incomoda. Não só pela F-1. Por tudo. Na Globo, por exemplo, não houve superfaturamento de obra nenhuma dos Jogos Pan-Americanos, o orçamento não estourou, o fato de os ingressos não serem numerados não quer dizer nada, está tudo lindo, maravilhoso. É uma emissora que presta vários desserviços a quem a assiste, quase todo mundo. Bem, chega. Vamos a mais pitaquinhos malaios:

– Rubens fez uma corrida muito boa, para quem largava em último com aquele desastre ecológico ambulante. Wurz também. Mas nenhum dos dois pontuou.

– Rosberguinho era um que merecia marcar pontos. Quebrou no fim, quando estava em sétimo.

– Fisichella largou excepcionalmente bem. De 12º no grid, para oitavo na primeira volta. Terminou em sexto. Fez uma boa corrida. Kovalainen, um pouco menos: 11º no grid, oitavo no final. Pelo menos pontuou e tirou um pouco da carga sobre seus ombros.

– Não se iludam com o “conservadorismo” de Raikkonen. Ele andou com o motor baleado pelo superaquecimento de Melbourne. Não pôde acelerar tudo que gostaria, sob pena de arrebentar a bagaça e ficar sem ponto algum. Também por isso ficou longe na luta pela pole. Vai continuar na briga pelo título.

– Alonso não tem nada de bobo, é algo que se sabe faz tempo. Mas notaram quantas vezes ele diz “obrigado” pelo rádio quando vence uma corrida? Transfere o mérito todo ao time. É assim que se conquista uma equipe. É assim que um piloto se torna adorado pelos que trabalham para ele.

– Alonso é favorito ao título? Para mim, não é grande novidade. Piloto faz muita diferença.