Blog do Flavio Gomes
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Ainda os cansados

SÃO PAULO (eu não me canso fácil) – São muitos esclarecedores esses posts de cunho político que coloco aqui de vez em quando. Foram quatro recentemente, referentes ao movimento dos estafados-da-Daslu, uma coisa efetivamente patética que, se eles forem minimamente inteligentes, varrerão para baixo de seus tapetes persas para que as pessoas esqueçam logo. Até […]

SÃO PAULO (eu não me canso fácil) – São muitos esclarecedores esses posts de cunho político que coloco aqui de vez em quando. Foram quatro recentemente, referentes ao movimento dos estafados-da-Daslu, uma coisa efetivamente patética que, se eles forem minimamente inteligentes, varrerão para baixo de seus tapetes persas para que as pessoas esqueçam logo.

Até agora, quase uma da tarde do domingo, mais de 400 comentários foram colocados pelos usuários do blog nesses posts, e fiz questão de não apagar nenhum deles. Nada. Deixei todos, embora boa parte deles denuncie uma total falta de educação, civilidade e etc. de frequentadores deste espaço. É só ler. Chega a ser um exercício divertido.

A esmagadora maioria desses, evidentemente, se esconde atrás de apelidos e e-mails falsos. Não que eu fosse responder a eles. Não me importo, realmente. Em geral apago apenas coisas de mau-gosto, xingamentos, ofensas gratuitas. Não a mim, mas a outros usuários. Só que desta vez resolvi deixar tudo.

Essas pessoas, na verdade, têm vergonha do que pensam e dizem, e da maneira como se expressam. Por isso não dizem quem são e se escondem. Não é algo que me surpreende. Essas pessoas se escondem atrás dos vidros escuros de seus carros, também. Têm medo do mundo e do país, não têm coragem de porra nenhuma. Nem de assumir o que pensam.

Entendo, também, os motivos que os trazem a este blog. A classe média brasileira, a paulistana em particular (pelas estatísticas da página, a imensa maioria dos frequentadores é da cidade; sei quem são, conheço bem meu eleitorado), tem um prazer quase sexual quando xinga, esbraveja, arrota superioridade, critica, se indigna, quando ofende os motoqueiros e os nordestinos, o governo, a polícia que o multa, o buraco da rua em que cai, quando senta à mesa para xingar a empregada, o porteiro, a babá, o Lula, a Marta, os impostos, o motorista do ônibus, o manobrista do restaurante. Me chateia, apenas, que boa parte dessa gente faça parte da minha geração. Que seja gente que pensava como eu quando todos tínhamos 20 anos e muitos sonhos.

Me parece evidente, como disse abaixo, que os últimos acontecimentos do país estão contribuindo para dividi-lo em dois, dois lados com características bem claras, o lado dos cansados, muitíssimo bem representado na manifestação da última sexta-feira e por tantos que deixaram seus comentários aqui, e o outro lado.

Eu estou do outro, como também parece claro, o que poderia me levar a conclamar os cansados a procurarem outro terreiro para fazer suas preces pela volta de seus bons tempos, mas não o farei. Porque, como disse acima, só dando voz aos que se sentem esgotados “por tudo isso que está aí” é possível compreender a profundidade de seus pensamentos, a sofisticação de seu raciocínio, entender sua dor, permitir que expressem sua revolta tão, tão… tão bonitinha.