SÃO PAULO (ninguém aprende) – Recebi algumas dezenas de e-mails de pachecos em geral irados, novamente, com a seita satânica de Maranello. Pessoal da ainda ativa confraria “Barrichello sempre foi um injustiçado sacaneado pela Ferrari e era muito melhor que Schumacher”.
De novo o velho papo. A Ferrari tirou a vitória de Massa, Massa é um coitadinho, a Ferrari sacaneia brasileiros, foi fundada só para isso, os carros da Fiat são umas bombas (concordo, o único bom projeto virou Lada), a Ferrari arrancou de Felipe a chance de ser feliz diante de seu povo, Jean Todt é a encarnação de Leviatã, e isso, e aquilo…
Meninos, contenham-se. O que aconteceu no GP do Brasil foi precisamente o que aconteceu no GP da França. Kimi retardou sua segunda parada, acelerou naquelas três voltas extras até a parada, ganhou a posição. Venceu a corrida sozinho. Em Magny-Cours, a disputa estava aberta, Massa liderou até a segunda bateria de pit stops, Kimi parou um pouco mais tarde, o brasileiro se enroscou em retardatários e o gelado levou a taça.
Em Interlagos, levou também, do mesmo jeito, com a mesma precisão cirúrgica. E mesmo na eventualidade de errar o cálculo, se voltasse dos boxes atrás de Massa, levaria. Afinal, havia um título em jogo. Mas deu certo, nem foi preciso trocar a posição na pista, porque Felipe também se enroscou em alguém, creio que em Nakajima-san, perdendo tempo enquanto o parceiro devorava o cronômetro.
Portanto, não há motivos para biquinho no pódio, nem para jogar para a galera batendo no peito e dizendo “olha aqui, essa vitória é minha, não me deixaram ganhar”. Criancice. A Ferrari acabou de renovar seu contrato. Foi Raikkonen, não Massa, quem chegou à última prova do ano com chances de ser campeão. Para todos os efeitos, Felipe não existia nessa corrida, caso estivesse à frente do gelado-man. Kimi faria o mesmo por ele, se a situação fosse inversa. Schumacher fez isso por Irvine na Malásia, em 1999. Nem por isso a nação germânica queimou fotos de Luca di Montezemolo em praça pública.
Felipe tem todo o direito de ficar emburrado quando quiser. Porque passou o sinal vermelho, porque errou no treino na Hungria, porque o carro quebrou em Monza, porque isso, porque aquilo. Mas nenhuma razão em se sentir violentado em Interlagos. É uma discussão inútil essa de “Massa aliviou ou não?”. Se aliviou, fez o que qualquer um naquela situação teria de fazer, porque não há sentido em tirar o título de um companheiro de equipe em troca de um troféu. Se não aliviou, apenas perdeu a corrida.
