Blog do Flavio Gomes
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Vai começar

SÃO PAULO (haja paciência) – Hoje começa para valer a semana do GP do Brasil de F-1. A mídia brasileira tentará compensar tudo que não fala da categoria ao longo do ano jogando no ar o tradicional amontoado de bobagens que invade páginas de jornal, alto-falantes de rádio e telas de TV nos dias pré-Interlagos. […]

SÃO PAULO (haja paciência) – Hoje começa para valer a semana do GP do Brasil de F-1. A mídia brasileira tentará compensar tudo que não fala da categoria ao longo do ano jogando no ar o tradicional amontoado de bobagens que invade páginas de jornal, alto-falantes de rádio e telas de TV nos dias pré-Interlagos.

Será uma enxurrada de matérias com Massa brincando de autorama, Rubinho conversando com o papagaio da apresentadora oxigenada, Nelsinho andando de kart, telejornais apresentados diante dos boxes da Ferrari, reportagens sobre os moradores do entorno do autódromo que alugam suas lajes e janelas para gente sem grana assistir ao GP, outras sobre as moças que pilotam as empilhadeiras nos boxes, os operários que pintam as zebras e não têm dinheiro para ver a corrida, a solene e famosa vistoria que “libera” o autódromo, os repórteres dizendo que “está tudo pronto em Interlagos”, outros esperando para entrar no ar e avisar que “o primeiro motor roncou” nos boxes. E desfilarão aos nossos olhos os malas que ficam de madrugada na fila esperando abrir os portões, os que acampam nas calçadas, os que vêm de longe, os que se fantasiam de Ayrton Senna, os que torcem por Hamilton, os que torcem por Alonso, os que torcem para a Ferrari…

O de sempre, enfim, mais do mesmo. Como no Grande Prêmio, o site, falamos de F-1 o ano todo, seja onde for a corrida, não creio que teremos rotina muito alterada, exceto pelo fato de que a partir de quarta-feira a sede da empresa passa a ser a sala de imprensa do autódromo.

Este blog, por outro lado, desacelera em alguns horários, porque serão muitos os deslocamentos pela cidade, e o trânsito por aqui anda de amargar.

Como meu carro mais convencional está consertando o pára-choque (amassado por uma besta que puxava uma carreta vazia com seu jipão abominável na alameda Casa Branca), ainda estou escolhendo qual será o eleito para me levar e trazer de Interlagos sem chocar demais os seguranças do portão. Tem de ser um só, porque a credencial do estacionamento gruda no vidro e não sai nem por decreto. Lembro de um ano que fui cobrir a corrida de Karmann-Ghia, e todos os dias tinha de explicar que Karmann-Ghias também têm o direito de entrar no autódromo quando tem F-1. Acho que vou de Lada, este ano. Ou de Candango. Ou de Corcel II. Qualquer um deles vai causar espécie no portão.

Cultivo estranha relação com esta corrida paulistana. Por um lado, sinto certo orgulho de ver todo mundo na minha cidade, meu autódromo sendo tomado por gentes de todos os cantos e carros que a maioria só conhece pela TV. É legal para qualquer cidade ter um GP de F-1, sem dúvida. E Interlagos é um herói da resistência, o que me faz senti-lo ainda mais querido.

Por outro lado, a quantidade de gente chata que coloca o pescoço para fora da gaiola nesta semana se multiplica, e assim fico torcendo para que os dias passem rápido, de modo que eles sumam do mesmo jeito que apareceram.

Como já estou neste negócio há muito tempo, não me empolgo nem mais, nem menos do que deveria com o GP do Brasil. Empolguei-me, sim, em 1990, quando a F-1 voltou para SP. Aquilo foi um acontecimento. Nos últimos meses de 1989, eu saía do jornal quase sempre tarde da noite e ia até o autódromo para acompanhar, da calçada da avenida Interlagos, o trabalho dos operários durante a madrugada. Eles não paravam um segundo sequer, os prazos eram apertadíssimos, foi uma façanha e tanto preparar tudo em tão pouco tempo.

Mas é uma semana interessante, a corrida deve ser boa, há um título a ser decidido e, o que é melhor ainda, duas semanas depois estarei na minha pista para duas corridas da Superclassic em rodada dupla do Paulista. E minha pista vai estar tinindo, cheirando tinta, novinha em folha. Digna do #96 e seus bravos colegas, que emprestam Interlagos a essa turma estranha que passa por aqui todo os anos, geralmente nesta época, para fazer exatamente o mesmo que fazemos: correr.