Blog do Flavio Gomes
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Gira mondo, gira (quinta)

SÃO PAULO (nas asas) – A quebra da BRA nesta semana expõe os verdadeiros motivos do tal de caos aéreo brasileiro. Desde o início, e pouca gente percebeu, a origem de tudo foi a decadência da Varig. Era uma empresa que fazia tudo quanto era destino internacional e voava para todos os cantos do Brasil. […]

SÃO PAULO (nas asas) – A quebra da BRA nesta semana expõe os verdadeiros motivos do tal de caos aéreo brasileiro. Desde o início, e pouca gente percebeu, a origem de tudo foi a decadência da Varig.

Era uma empresa que fazia tudo quanto era destino internacional e voava para todos os cantos do Brasil. Sem entrar no mérito da má administração, que era mesmo escandalosa, o fato é que a Varig morreu (voltou agora sob a gestão da GOL, mas é outra coisa) e as que sobraram não absorveram suas linhas.

E pouco antes dela morreram a Vasp e a Transbrasil, também. Como pode um sistema aéreo sobreviver sem danos à falência de suas três maiores empresas?

De Varig, nesses meus anos todos de F-1, voei para Buenos Aires, Tóquio, Nagoya, Cidade do Cabo, Johannesburgo (era a rota para a Tailândia; a Varig voava para a Tailândia!), Munique, Frankfurt, Londres, Milão, Paris, Nova York, Roma, Los Angeles, Miami, Cidade do México, Toronto, Lisboa, Madri, Zurique… De Vasp e Transbrasil fiz Viena e Bruxelas. Sem contar os destinos domésticos.

As três foram para o saco, sobraram TAM e GOL com seus vôos de tapete vermelho e barras de cereal. Queriam o quê?

Companhias aéreas são um problema gigantesco. A operação é cara, os aviões são caros, as estadias em aeroportos são caras, o combustível é caro. Em regimes econômicos que não estão nem aí para nada, elas quebram como cristal. Foi assim com a Pan Am e com a TWA nos EUA, das que me lembro. Em outros países, os governos acabam ajudando ou participando, como na Suíça com a Swissair, ou na Itália, na França, na Espanha, na Alemanha.

Bem, cada governo gasta seu dinheiro como achar melhor. Por aqui, rezamos atualmente pela cartilha cada-um-que-se-vire e muita gente aplaude. Só sei que cada vez que uma companhia aérea retira os luminosos de seus balcões nos aeroportos me dá uma melancolia tremenda. São grandes empresas, milhares de funcionários com suas histórias de vida, sonhos de décadas, uma tristeza. Eu estava na Austrália quando a Ansett fez seu último vôo. Foi uma choradeira só das pessoas na TV. Companhias aéreas têm o estranho poder de se incorporar ao imaginário de uma nação. Os escritórios da Varig no exterior eram nossas embaixadas informais, onde a gente lia os jornais, falava português, tomava um cafezinho.

O mundo está ficando chato, como digo sempre. E ninguém liga. Neguinho hoje só quer saber de fazer contas.

Abaixo, uma singela homenagem às aéreas que já não voam mais.