Blog do Flavio Gomes
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Superclassic: último boletim

SÃO PAULO (é sempre assim) – Bem, macacada, sinto-me na obrigação de informar os últimos acontecimentos, embora o assunto não interesse necessariamente a todos que frequentam este espaço. Mas a algumas centenas de blogueiros interessa, sim, porque essa turma, desde o ano passado, saiu do mundo virtual para se encontrar no mundo real em Interlagos, […]

SÃO PAULO (é sempre assim) – Bem, macacada, sinto-me na obrigação de informar os últimos acontecimentos, embora o assunto não interesse necessariamente a todos que frequentam este espaço.

Mas a algumas centenas de blogueiros interessa, sim, porque essa turma, desde o ano passado, saiu do mundo virtual para se encontrar no mundo real em Interlagos, para ver nossas corridas, se conhecer, se falar, trocar experiências. Nasceram muitas amizades, e assistir a uma corrida da Superclassic virou programa quase obrigatório, daqueles que a gente espera por semanas a fio.

Depois de aguentar o autódromo fechado por mais de cinco meses, voltaríamos a correr neste fim de semana. Eu, desde o dia em que soube que não teríamos boxes, era favorável a um boicote puro e simples. Não corremos e pronto.

Mas nos reunimos na noite de terça, não houve nenhuma indicação de que a pilotaiada iria aderir a um protesto (acho inaceitável não ter box; mas esse sou eu, não são todos) e, acatando essa decisão silenciosa da maioria, resolvi mandar meu carro para o autódromo e ver o que iria acontecer. Não seria eu a estragar o prazer de ninguém liderando um boicote, ou coisa que o valha. A turma estava na pilha para correr, o que é compreensível.

Ontem, ao ver as fotos das tendas armadas atrás dos boxes, decidi intimamente que não iria correr. Mas não iria alardear nada, não queria que minha posição virasse protesto público e rumoroso capaz de aborrecer meus colegas de categoria que, afinal, já tinham decidido correr. Apenas não iria me inscrever e voltaria para casa, na maior tranquilidade do mundo.

Aí, hoje de manhã, me ligam do autódromo para contar tudo que aconteceu. Resumidamente, treinos cancelados por falta de segurança, por conta da montagem da estrutura para a missa, amanhã, do pároco Marcelo Rossi, com previsão de público superior a 1,5 milhão de pessoas. Os pilotos e preparadores que estavam em Interlagos, revoltados, foram à torre e pediram seu dinheiro de volta. Anunciaram oficialmente, junto às autoridades da corrida, que não iriam participar daquele circo.

Quem esteve à frente desse processo, e disso me orgulho muito, foi o Luis Finotti, o Nenê, piloto do Topolino, que chefia a LF. É minha equipe, que tem também o Alberto (JK), Marcelo (Fiat), Henry e Rogério (Karmann-Ghias), Rafael (Chevette), Gulla (Puma), Gildo (Zé do Caixão). Os outros preparadores presentes concordaram com o Nenê: era um absurdo pagar o que pagamos para não treinar e deixar carros e mecânicos expostos nas barracas por cinco dias.

Todos que estavam em Interlagos, pilotos e preparadores, tomaram a decisão de não correr. Pegaram seus cheques de volta. A maioria levou os carros embora, principalmente os pilotos “avulsos”, aqueles que vão com seus carros em reboques, sem equipe, sem nada, apenas com a paixão pela velocidade.

Mas houve defecções. E se tem uma coisa que não gosto é de trairagem. Os que resolveram, no decorrer do período, que vão correr — sem treino, na pista suja de barro e latas de guaraná da missa, com carros nas tendas, sei lá em quais condições —, seja por qual motivo for, traíram o Nenê. Traíram o que eles mesmos tinham decidido de manhã. Eles e seus preparadores.

Finotti teve uma atitude de homem e, acima de tudo, de esportista. Por não concordar com a várzea que virou o Campeonato Paulista, com o tratamento dado pelos dirigentes àqueles que os sustentam, foi embora e levou consigo seus pilotos. Deixou de ganhar um bom dinheiro. É seu sustento, também. Mas não vendeu a honra, nem a palavra.

Os que ficaram, e que vão correr, fizeram isso. Vai ter corrida. Com 10, 12 carros, não importa. São os pilotos e preparadores que não honraram sua palavra e sua posição, assumidas horas antes.

Mas não honraram, sobretudo, a amizade do Nenê.