SÃO PAULO (tudo vai ser diferente) – Foi assim, tipo, incrível esse treino de classificação em Melbourne. Tipo, cheio de surpresas. A maior delas, Kubica. Tipo, aquele do narigão. Segundo no grid, primeira fila. A BMW tinha feito uma pré-temporada discreta. Tipo, escondeu o jogo? Ou espetou mais chifres no carro?
Aos pitacos, sem tipos…
– Fico com a segunda opção, o narigudo polonês guiou feito um demônio na sua última volta rápida, daí os chifres extras. Quase estampou no muro, primeiro, e depois quase foi parar dentro do lago. O esforço foi recompensado.
– Hamilton, o pole, também abusou em alguns momentos. Não vai demorar muito, aliás, para que alguém sinta a dureza que um muro tem, agora que acabaram com o controle de tração. Aqui fica o aviso do arauto do apocalipse, este que vos fala: vai ter gente se arrebentando feio nesta temporada, especialmente em pistas sem áreas de escape. Podem anotar: em Melbourne, mesmo, mais Mônaco, Canadá, Valência e Cingapura, ambulâncias serão necessárias. Os carros estão perigosos. Em 1994, o ano começou assim. Todos sabem como terminou.
– Sou a favor, sim, do fim do controle de tração. Só que não com esses pneus. Tire-se o controle, ok; mas que se dê algo de volta em aderência mecânica. Slicks já.
– Voltando ao treino, foi muito bem a McLaren com a pole de Lewis (deve estar se mijando de rir de Alonso) e Kovalainen em terceiro. Mais ou menos é a avaliação de Massa, em quarto. Ótima a Toyota (quem diria!), com Trulli em sexto e Glock em nono (depois caiu para 19º porque trocaram seu câmbio; ou, como diriam na Argentina, “cambio en el cambio”; mais tarde, recebeu nova punição e larga em 19º). E igualmente ótimo Vettel, meu piloto preferido, em décimo, que pulou para nono com a punição ao Timo Neiro.
– E a Honda (quem diria também!) não é um desastre, alvíssaras! Barrichello ficou em 11º (subiu para décimo, depois) e Button em 13º (12º graças a Glock). Mas que ninguém se iluda demais. Se é verdade que especialmente o brasileiro tirou tempo de onde não tem, e merece aplausos, é igualmente verdade que atrás dele ficaram pilotos que, em condições normais, andariam na frente. A saber: Alonso, que fez uma porcaria de treino mas tem mais carro, Nakajima, que também tem um carro bem melhor (Rosberguinho foi o sétimo), Webber, que rodou depois de estourar o freio (Coulthard ficou em oitavo), e Raikkonen (pifou no fim do Q1 e o piloto tem de trazer o carro de volta aos boxes sozinho para continuar; foi empurrado, dançou).
– Assim, a posição normal da Honda considerando apenas a performance, sem contar com os infortúnios dos outros, é ali à frente, apenas, de Force India e Super Aguri. Mas os infortúnios dos outros fazem parte do jogo e, portanto, os japs têm mais é de ficar aliviados com um começo de temporada bem melhor que a encomenda.
– E Nelsinho? Está comendo todos os pães amassados pelo capeta na Oceania. Larga em penúltimo. Fez uma volta ruim, na primeira tentativa no Q1, e a Renault o soltou na pista tarde demais para tentar pelo menos passar de grupo. Aí Sutil rodou, ele teve de tirar o pé e babau. Sorte dele que Alonso não fez picas. Assim, ficou claro que o carro não é lá essas coisas e dá para dividir as culpas. De qualquer forma, uma estréia bem ruim. O que talvez seja bom para baixar algumas bolas e para que ele mesmo, Nelsinho, entenda rapidamente que F-1 é, sem meias-palavras, foda.
– A corrida? Será interessante porque Kubica vai partir feito um alucinado para cima de Hamilton e pode espalhar pena para todos os lados. Kovalainen é quem pode se aproveitar. Temo por Massa. O quarto lugar não deve ter agradado a ninguém na equipe, ele incluído. Se quiser recuperar tudo nas primeiras voltas para mostrar que é macho e não desiste nunca, corre o risco de fazer bobagem. Raikkonen, lá em 16º, terá dificuldades para chegar entre os cinco primeiros. Alonso, se pontuar, que dê graças aos céus.
– Perguntinha básica: por que nenhum piloto reclama de ondulações em Melbourne? Esse asfalto piora de ano para ano. Tem uma freada que dá até medo. Lombada das ruas de SP são mais suaves.
– E já escrevi demais. Finalizo apenas dizendo que é esquisito o pit-wall da Ferrari sem Jean Todt e seus dedos de gnomo com esparadrapos. São os tempos, que mudam o tempo todo. Está aqui meu relógio não me deixa mentir.