Blog do Flavio Gomes
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o mundo não é a F-1

SÃO PAULO (com visitas) – Tenho lido alguns artigos aqui e ali de gente indignada com a permanência de Max Mosley à frente da FIA. Fazem uma defesa incondicional dos valores morais, mencionam a contrariedade de Bernie Ecclestone, demonstram indignação com o peso dos votos da Assembléia Geral, na qual a Macedônia tem a mesma […]

SÃO PAULO (com visitas) – Tenho lido alguns artigos aqui e ali de gente indignada com a permanência de Max Mosley à frente da FIA. Fazem uma defesa incondicional dos valores morais, mencionam a contrariedade de Bernie Ecclestone, demonstram indignação com o peso dos votos da Assembléia Geral, na qual a Macedônia tem a mesma importância que a Itália, e se alinham aos anseios das montadoras, loucas para assumir o controle da F-1.

Antes de mais nada, e é bom que se diga, a FIA não existe para cuidar da F-1. Suas atribuições vão muito além das corridas de 20 carrinhos que enchem as burras de meia-dúzia de espertalhões. Observar o caso de Mosley sob a ótica exclusiva da F-1 é de uma estreiteza ímpar. É achar que a F-1 é o centro do universo.

Não é. E é por isso que o voto da Macedônia vale o mesmo que o da Itália. Porque a Macedônia pode não ter a Ferrari, mas tem estradas e automóveis rodando — como a Itália.

A Assembléia Geral da FIA não é a Comissão de F-1, ou o Conselho Mundial, que só se preocupa com corridas. Por isso que os chiliques das montadoras não tiveram eco na votação. Afinal, são quantas mesmo as que se colocaram claramente contra o espevitado presidente? Mercedes, Honda, Toyota e BMW? Mais Ferrari e Renault, que vez por outra manifestam uma ou outra restrição aos métodos da FIA?

Diante de uma massa de centenas de clubes, confederações, federações e associações que formam a base da FIA, cinco ou seis fábricas de carros não apitam nada. Por isso até me espanta saber que tem gente que ainda acha que elas, essas cinco ou seis, são capazes de derrubar quem quer que seja. Não são. No máximo, fazem barulho.

Mas é o que elas queriam, que Max saísse para que pudessem tomar conta de vez da F-1, ditar seus rumos, estabelecer suas regras. Encontraram munição farta e barata na revelação das festinhas do presidente para pleitear sua renúncia.

OK, é aspiração legítima, tão legítima quanto a disposição de Mosley de permanecer à frente da FIA. Mas se a idéia é essa, que façam seu campeonato próprio, que se desfiliem, que montem uma liga independente… O que incomoda é querer tomar o poder na marra e com essa argumentação judaico-cristã sobre a moral e os bons costumes. Papo-furado de quinta categoria. E está mais do que claro que o que rege os movimentos das montadoras não é o esporte ou a indignação com os chicotinhos e as roupas de couro; é a grana, são os custos, é a ganância por fatias cada vez maiores do bolo da F-1 que a cada ano aumenta mais.

Mosley preside a FIA desde 1993. Muita coisa aconteceu nestes 15 anos na F-1. E no mundo do automóvel, também. A face mais visível de seu trabalho é a F-1, inegavelmente. Foi sob sua gestão que Senna e Ratzenberger morreram, foi sob sua gestão que a segurança, de carros e autódromos, melhorou barbaramente, foi sob sua gestão que os regulamentos foram mudados muitas e muitas vezes, há quem goste, há quem não goste, mas o fato é que Mosley sempre foi muito lógico em suas argumentações e discursos, e que a F-1 cresceu, enriqueceu, e graças a isso atraiu as grandes fábricas, que então quiseram tomar conta do terreiro, e Max reagiu.

Reagiu porque acha que as fábricas não têm comprometimento algum com o esporte, e sim com seus balanços financeiros, e que seria um risco deixar uma categoria como a F-1 nas mãos de analistas de balanços financeiros, que podem tirar seus times de campo a qualquer hora, segundo a vontade dos acionistas de suas empresas.

Nisso, e isso é a essência, ele tem toda razão.

E é por isso que foi ótimo que Max tenha vencido a batalha.