Por isso que Luiz Gustavo Trainini, o Brasil com “L” da nossa série olímpica, só foi mirar o alvo depois que resolveu sua vida profissional. Tem três anos e meio de carreira. Sábado passado, estreou em Olimpíadas participando de sua primeira série, cujo resultado definiria o emparceiramento na fase seguinte. Entre 64 concorrentes, terminou em 61º, à frente de um egípcio, um iraniano e um cara das ilhas Samoa. Não sei como se chama quem nasce em Samoa. Tinha um chinelo chamado Samoa no Brasil, se bem me lembro. Horroroso.
A classificação colocou em seu caminho ninguém menos que Kyung-Mo Park. Quem?, perguntará você. É um sul-coreano que, segundo consta, tem a mira em dia: é o primeiro colocado no ranking mundial de tiro com arco, o esporte escolhido por Luiz Gustavo há três anos e meio “depois que eu já estava com tudo encaminhado na vida”. Trainini, 30 anos, é biólogo, vive em Canoas, na Grande Porto Alegre, e conseguiu encaminhar bem as coisas na vida. Tanto que, embora vinculado ao Sogipa, treina em casa. O quintal deve ser grande.
Hoje ele voltou ao estande para enfrentar Kyung-Mo Park no mata-mata. A partir da segunda fase, no tiro ao arco (arco e flecha, para quem ainda não sacou), um elimina o outro. O sul-coreano eliminou o brasileiro. Fez 116 pontos, contra 99 de Luiz Gustavo. Logo depois de se despedir de seus primeiros Jogos, Trainini, apelidado no meio de “Gavião”, falou com este blog.
O que dizer da sua primeira Olimpíada?
Acho que poderia ter ido um pouquinho melhor. Mas fui pegar bem o número 1 do mundo. A gente fica meio desnorteado, com toda a torcida da Coréia lá… Mas para quem começou há três anos e meio, está bom.
Você disputa uma modalidade pouco popular no Brasil…
Desde criança eu gostava de tiro com arco [seu perfil no guia do COB diz que Trainini viu a modalidade nos Jogos de Barcelona, em 1992, se interessou e resolveu que um dia faria aquilo]. Nunca fiz nenhum outro esporte seriamente. Só que eu não tinha oportunidade. Aí tive de trabalhar, comprei um arco, depois outro, até chegar a ter condições.
É um esporte caro?
Para começar, não. Mas depois tem de investir, comprar um arco bom, outro melhor, é como todo esporte. Um bom arco custa uns 2.500 dólares. E tem de ser importado, porque no Brasil não tem nenhuma fábrica.
E é também um esporte solitário. Onde você treina?
Os treinos mais intensos eu faço em casa, mesmo. Meu técnico é italiano, ele passa um bom tempo aqui. No último ano eu me dediquei exclusivamente ao tiro com arco.
E não foi à falência?
Não.
Você também se dedica à falcoaria, li aqui no seu perfil no guia do COB…
É, eu tenho um criadouro, registrado no Ibama. Trabalho num projeto para controle de aves em torno de aeroportos, essa é a minha especialidade.
Tiro ao arco, falcoaria… Você tem uns hobbies diferentes.
É, tenho umas preferências meio exóticas.
Para terminar, três perguntinhas metidas a engraçadas. Primeira: se você fosse um cupido, mandava uma flecha no coração de quem?
Da minha namorada, Aline.
Qual o alvo que você gostaria de acertar?
O da sabedoria.
E de qual flecha você gostaria de desviar?
Dos impostos.