Blog do Flavio Gomes
Pequim 2008

O NOSSO BASQUETE

PEQUIM (quem é que vai pagar por isso?) – Se o ouro de Cielo tem muito mais “dele” do que “nosso”, o fracasso recente do basquete brasileiro em Olimpíadas é um desses que devem entrar na nossa conta coletiva de pecados, porque decorre de nossa incapacidade de gerir seja lá o que for. (Tenho certeza […]

PEQUIM (quem é que vai pagar por isso?) – Se o ouro de Cielo tem muito mais “dele” do que “nosso”, o fracasso recente do basquete brasileiro em Olimpíadas é um desses que devem entrar na nossa conta coletiva de pecados, porque decorre de nossa incapacidade de gerir seja lá o que for.

(Tenho certeza que ninguém, neste momento, se sinta partícipe do fiasco do basquete, nem do de outros esportes, embora muita gente se sinta um puquinho dono do ouro lindo do Cielo, porque ele é brasileiro e não desiste nunca, como nós. Brasileiro adora se apropriar das vitórias dos outros, mas não tem o hábito de repartir as derrotas. Já escrevi bastante sobre isso, em épocas de F-1. Senna era nosso, e nossas eram suas vitórias, todos se sentiam um pouco vitoriosos nas manhãs de domingo e blá-blá-blá, mas ninguém dizia que uma derrota de Barrichello era nossa, também. As derrotas eram dele, individuais, problema da senhora, mora?, mas quando ganhava, aí as vitórias voltavam a ser nossas, e assim gira o mundo do torcedor doutrinado pela mídia do oba-oba, que tem em todo lugar, suponho, mas no Brasil passa dos limites.)

A seleção masculina disputou sua última Olimpíada em 1996, em Atlanta. Não conseguiu vaga para Sydney/2000, Atenas/2004 e Pequim/2008. É uma vergonha. E, neste caso específico, o fiasco pode ser atribuído nominalmente a algumas pessoas, o tal do Grego à frente. Grego, de nome Gerasime Bozikis, é presidente da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) há um bom tempo, desde 1997.

Se bem me lembro, o basquete brasileiro viveu uma fase de alguma prosperidade na primeira metade da década de 90. Tinha uma liga, bons patrocínios, bons jogadores, partidas ao vivo na TV, ginásios cheios, cidades envolvidas. O basquete tem tradição no país, e não é de hoje. Os homens ganharam medalhas de bronze nos Jogos de 1948, 1960 e 1964 — o início dos anos 60 foram os melhores, com títulos mundiais e o escambau. As meninas levaram prata em Atlanta/1996 e bronze em Sydney/2000.

Fala-se em basquete no Brasil e imediatamente vêm à cabeça nomes como Rosa Branca, Wlamir Marques, Ubiratan, Oscar, Marcel, Carioquinha, Paula, Hortência, Marta, Janeth. Um país que teve gerações tão boas, e em épocas tão diferentes, não poderia estar vivendo na draga em que está.

O time feminino, aqui, perdeu os quatro jogos que fez, para Coréia do Sul, Austrália, Letônia e Rússia (foto). Um vexame, mas que não deve ser atirado exclusivamente nas costas das meninas. Atletas, em geral, são os menos culpados, embora tenham, também, suas responsabilidades. É só olhar para o masculino. Os melhores jogadores do Brasil atuam na NBA. Nenhum deles quis saber de jogar os pré-olímpicos. A maioria alegou contusão. Um monte de mentiras. Poderiam dizer, e seria ótimo para o basquete, que não defendem a seleção porque a gestão da CBB é uma farsa, são todos picaretas e eles não querem fazer parte desse circo. Prestariam um serviço ao esporte.

Não fizeram nada.

A campanha brasileira em Pequim, abaixo da crítica e da capacidade das meninas, tem outras explicações, além da questão técnica. É só ler mais esta ótima reportagem do Fábio Sormani aqui mesmo no iG. Tem grana no meio. Para variar.

Esse, sim, é o “nosso” basquete.