O NOSSO BASQUETE

PEQUIM (quem é que vai pagar por isso?) – Se o ouro de Cielo tem muito mais “dele” do que “nosso”, o fracasso recente do basquete brasileiro em Olimpíadas é um desses que devem entrar na nossa conta coletiva de pecados, porque decorre de nossa incapacidade de gerir seja lá o que for.

(Tenho certeza que ninguém, neste momento, se sinta partícipe do fiasco do basquete, nem do de outros esportes, embora muita gente se sinta um puquinho dono do ouro lindo do Cielo, porque ele é brasileiro e não desiste nunca, como nós. Brasileiro adora se apropriar das vitórias dos outros, mas não tem o hábito de repartir as derrotas. Já escrevi bastante sobre isso, em épocas de F-1. Senna era nosso, e nossas eram suas vitórias, todos se sentiam um pouco vitoriosos nas manhãs de domingo e blá-blá-blá, mas ninguém dizia que uma derrota de Barrichello era nossa, também. As derrotas eram dele, individuais, problema da senhora, mora?, mas quando ganhava, aí as vitórias voltavam a ser nossas, e assim gira o mundo do torcedor doutrinado pela mídia do oba-oba, que tem em todo lugar, suponho, mas no Brasil passa dos limites.)

A seleção masculina disputou sua última Olimpíada em 1996, em Atlanta. Não conseguiu vaga para Sydney/2000, Atenas/2004 e Pequim/2008. É uma vergonha. E, neste caso específico, o fiasco pode ser atribuído nominalmente a algumas pessoas, o tal do Grego à frente. Grego, de nome Gerasime Bozikis, é presidente da CBB (Confederação Brasileira de Basquete) há um bom tempo, desde 1997.

Se bem me lembro, o basquete brasileiro viveu uma fase de alguma prosperidade na primeira metade da década de 90. Tinha uma liga, bons patrocínios, bons jogadores, partidas ao vivo na TV, ginásios cheios, cidades envolvidas. O basquete tem tradição no país, e não é de hoje. Os homens ganharam medalhas de bronze nos Jogos de 1948, 1960 e 1964 — o início dos anos 60 foram os melhores, com títulos mundiais e o escambau. As meninas levaram prata em Atlanta/1996 e bronze em Sydney/2000.

Fala-se em basquete no Brasil e imediatamente vêm à cabeça nomes como Rosa Branca, Wlamir Marques, Ubiratan, Oscar, Marcel, Carioquinha, Paula, Hortência, Marta, Janeth. Um país que teve gerações tão boas, e em épocas tão diferentes, não poderia estar vivendo na draga em que está.

O time feminino, aqui, perdeu os quatro jogos que fez, para Coréia do Sul, Austrália, Letônia e Rússia (foto). Um vexame, mas que não deve ser atirado exclusivamente nas costas das meninas. Atletas, em geral, são os menos culpados, embora tenham, também, suas responsabilidades. É só olhar para o masculino. Os melhores jogadores do Brasil atuam na NBA. Nenhum deles quis saber de jogar os pré-olímpicos. A maioria alegou contusão. Um monte de mentiras. Poderiam dizer, e seria ótimo para o basquete, que não defendem a seleção porque a gestão da CBB é uma farsa, são todos picaretas e eles não querem fazer parte desse circo. Prestariam um serviço ao esporte.

Não fizeram nada.

A campanha brasileira em Pequim, abaixo da crítica e da capacidade das meninas, tem outras explicações, além da questão técnica. É só ler mais esta ótima reportagem do Fábio Sormani aqui mesmo no iG. Tem grana no meio. Para variar.

Esse, sim, é o “nosso” basquete.

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Karen-SP
Karen-SP
15 anos atrás

Concordo com o FG, em tudo!

Proponho uma CPI em todas as confederações para ver onde o dinheiro vai (e olha que é grana à beça!).

E o que é que esse Ministério dos Esportes faz?
Deveria é haver uma prestação de contas diária de toda a grana que é direcionada para essas Conferações!
Não quero essa cambada de cartolas gastando o dinheiro dos meus impostos em viagens e turismo olímpico! A cada 4 anos a gente só vê isso: uma fila de engravatados, um monte de atletas sem a mínima condição de participar e todo mundo rindo, passeando, posando pra fotos, e cacarejando p/ qualquer câmera…afinal de cotas, não é o dinheiro deles que está sendo jogado fora, não é mesmo?

Chega de turismo olímpico, chega de desmandos.

Pensei que o sapo barbudo fosse dar atenção especial ao esporte, mas o que vejo é uma conivência submissa a esses cartolas turistas.
E ainda falam em copa do Mundo e Olimpíada no Brasil, mas o correto, em se tratando desses administradores medíocres seria Olim piadas, isso mesmo, é uma piada!

Viva os Gugas, os Aurélios, sem contar outros heróis.
Ave, César, você é ouro. E ele é só seu! De mais ninguém!

Edson Naga
Edson Naga
15 anos atrás

Boa Tarde Gomes.

O q falta ao basquete brasileiro é mais organização de torneios regionais e vergonha na cara dos dirigentes que o comandam…

A CBB precisa criar ligas regionais para garimpar novos talentos para seleções de base e insentivar a pratica da modalidade nas escolas públicas.

O Brasil viveu sempre se destacou pela sorte de aparecer em diferentes décadas jogadores de alto nível que o SR. citou em sua coluna… Nunca houve organização este esporte.

Não existe mais bobo no basquete mundial. A globalização diminuiu a distancia das potencias olimpicas das nanicas…

O q decide as partidas não é o grupo e sim o talento de jogadores foras de sérios que pegam a bola e não termem nos momentos cruciais das partidas decisivas. Infelizmente não temos este tipo de atleta em nenhuma seleção do país.

Estou na torcida velho para q o talento da Super MVP Lauren Jackson da Australia supere o DREAM TEAM USA de Leslie, Taurasi, Bird, Parker, Thompson e Cia na final olimpica.

A Jackson é de outro planeta e será a maior jogadora de todos os tempos com certeza.

Sabe Gomes, na última temporada o STORM caiu na 1º Fase dos playoffs da WBNA adivinha por causa de quem??? Da Estrelinha do Bassul, a mascarada IZIANE. Enquanto a Jackson fazia 30 pts em média, a Iziane conseguiu a proeza de marcar 2 pontinhos no jogo todo. Ela afundou o time de Lauren Jakcson a anos. Era sempre… Graças a DEUS ela foi pro ATLANTA. UFA…

Estou sem palavras para descrever o trabalho do “Mestre” Wlamir Marques nas transmissões de basquete da ESPN Brasil.

Não tô pasando raiva nas transmissões.

Flw Gomes.

Mario Della Nina
Mario Della Nina
15 anos atrás

Tudo culpa do Fim da Educação Fisica obrigatória nas escolas Públicas! Onde a garotada aprendia o básico de Basquete, volei, Handball e competitividade.
A grandes gerações do Basquete, podem perguntar a eles, tiveram noção do esporte na escola.
Pais que sonha grande e não faz nada, vive do suor dos outros!!

Eduardo Torres
Eduardo Torres
15 anos atrás

Mas nós ganhamos o PAN de basquete!!!

João
João
15 anos atrás

Parabéns pelo texto. Me sinto orgulhoso de ser teu leitor, meu caro FG. Abs.

Fabian Oliveira
Fabian Oliveira
15 anos atrás

Se Confúcio pudesse ler este texto, mandaria seu discípulo Gah-Fang-Yotong disparar a vinheta Brasil-sil-sil ao final.

sérgio barros
sérgio barros
15 anos atrás

continuando….afinal a CPI do futebol e a CPI da Nike mostraram o nível dos “negócios” e valores morais que essa gente se vale….

Mas além do aspecto esportivo, é também caso de roubo e polícia, porque o governo através do banco do brasil, caixa economica federal, correios e dinheiro mesmo, além de loterias para esse bando de ladrões, injeta dinheiro que não é visto e não gera os resultados esperados.

Caso de polícia federal em quase todas as confederações e seus balanços mequetrefes e gestões que roubam o presente e futuro do esporte e praticantes e atletas do país.

sérgio barros
sérgio barros
15 anos atrás

1. Não houve preparação alguma para a transição pela saída da geração da Paula e Hortência

2. Fatla pelo menos competência, além de outros valores básicos de pessoas DECENTES, como também foi o caso do Judô com anos e anos a fio com o Mamede fazendo o que fez e todos fechando os olhos, como estã sendo assim também com o Tênis, com o Automobilismo e também o futebol, afinal a CPI

Valdemar
15 anos atrás

Astros da NBA? Esses caras não passam de jogadores medianos e até medíocres em seus times. Estão vivendo num mundo de glamour e ilusão ao lado de jogadores como Kobe Bryant, Kevin Garnett e Shaquille O’Neal. Aqui no Brasil, antes do pré-olímpico, chamavam esses caras de “craques”. Que craques? São todos reservas em seus times e os pachecos de plantão os chamavam de “craques do Brasil na NBA”… São meros coadjuvantes e olhe lá. Só pensam no dinheiro e na projeção que a NBA dá a qualquer jogador que lá chegue e se destaque.

vivi
vivi
15 anos atrás

na minha opinião, essas jogadoras são as menos culpadas de todas. Elas e os jogadores que jogaram o pré-olímpico. Esses caras foram machos e deram a cara a tapa! Só que a bagunça é tão grande que chega a dar vontade de chorar.

É uma pena muito grande o que tem acontecido com o basquete. De segundo esporte nacional para isso que temos hoje! Uma lástima total. E o incrível é ver que essa queda toda coincide com a gestão do Grego!

Nojento!

igual o Coaracy! Bando de gente que fica ganhando dinheiro e acabando com o esporte nacional

Paulo Renato
Paulo Renato
15 anos atrás

Me desculpe, Flávio, mas essa desculpa de não jogar na seleção por causa da confederação, para mim, não pode jamais ser usada.

O jogador tem de ter orgulho por defender o seu país. Não é possível o sujeito ignorar completamente a oportunidade de vestir a camisa da seleção de seu país.

Aliás, possível é, afinal, tivemos vários casos neste último pré-olímpico.

A pátria desses sujeitos é o dinheiro. Mas, como tudo na vida, eles passam e a seleção fica. Perderam uma oportunidade de serem lembrados, no futuro, como aqueles que recolocaram o basquete brasileiro nas quadras olímpicas. Agora, serão lembrados para sempre como desertores. Para mim, serão lembrados assim.

Não importa muito se é culpa do grego, do americano, do paraguaio ou do raio que os parta. Falharam e espero que um dia se arrependam da merd* que fizeram ao desistir de representar o Brasil.

HC
HC
15 anos atrás

Nesse texto vc acertou bonito.

Só mudaria a frase “Não fizeram nada”, para “Não fizeram nada porque são egoístas e só pensam na grana e no status de ‘astros da NBA’ que tem, no país sem basquete”.

Pe. Antonio Vieira
Pe. Antonio Vieira
15 anos atrás

Perdeu porque não tem qualificação técnica superior aos adversários. Simples assim.

Marcelim
Marcelim
15 anos atrás

Há anos que o basquete brasileiro anda capengando.. é um outro esporte que só sobrevive graças ao interior paulista.

Na época em que a seleção brasileira de Hortência e Paula eram campeãs mundiais, medalhistas olímpicas, apareceram times com patrocínios milionários, montaram clubes no Rio , blá blá blá.

As estrelas se aposentaram, a seleção já não encantava tanto e os oportunistas dos clubes cariocas fecharam seus times e o basquete voltou às suas origens: o interior paulista.

Hoje o basquete feminino existe graças à Catanduva, Ourinhos, e outras cidades que desde sempre mantiveram suas equipes e revelaram atletas.

Cidades que mantém equipes com patrocínios modestos ou mesmo sem patrocínio, indo a jogos em ônibus velhos das secretarias de esportes das prefeituras, ignorados por globo, governos e seus ministérios e secretarias dos esportes…

Citaram aí a Isiane… mas quem é Isiane? Assim como a Marta, é uma menina humilde saída lá do nordeste, que foi revelada ao mundo pelos times do interior paulista e hoje joga na WNBA.

Só que ela se acha a “estrela” da seleção. Estrela? Que estrela? Quem é Isiane perto de Hortência, Paula, Janeth, Alessandra, Marta, Helen e tantas outras jogadoras que foram muito mais importantes para o basquete feminino e mesmo dentro da WNBA, onde Isiane é só mais uma jogadora mediana?

O Brasil não precisa de Isiane, precisamos é de apoio para se formar novos atletas, garanto que pelo Brazilzão afora existem inúmeras Isianes que nunca vão chegar a lugar algum por falta de oportunidades em um esporte praticamente inexistente.

João
João
15 anos atrás

Basquete Masculino: desmando total…
Basquete Feminino: estrelismo do técnico: Assim como o Dunga, o Massul quer ser mais estrelas que as jogadoras… O Dunga, como criticou o Sócrates, já começou mal mandando nossos dois melhores jogadores (Ronaldinho Gaucho e Kaká) para o banco, enquanto inventava Afonso & cia…
O Massul coloca nossa melhor atleta no Banco até o finalzinho do jogo e depois quis colocá-la na fogueira… Para ele durante 38,5 minutos a Iziane não servia para ser titular, mas quando a vaca estava indo para o brejo ela é quem deveria decidir… Não aplaudo o comportamento da Iziane, mas acho que qualquer um de nós, nas mesmas condições, se recusaria a entrar…
Já que a coisa está em moda, até o Bernardinho entrou nessa e o melhor levantador do mundo está longe de Pequim. Logo o Bernardinho, que era também levantador, mas cujo maior mérito era SER RESERVA DO WILLIAM, abre mão do melhor a nome de uma autoridade burra…
Estamos cheios de traira…

Francisco Luz
Francisco Luz
15 anos atrás

Gomes, sobre a questão dos jogadores do basquete não comprarem briga com a CBB. Talvez hoje pouca gente lembre, mas o Guga fez isso com a CBT ao se recusar a jogar a Copa Davis.

E o Guga, que só foi o melhor tenista do mundo por um ano (e outro que, assim como o Cielo, dependeu só das forças dele e da família para conseguir o que conseguiu), foi taxado de antibrasileiro, de mercenário, de covarde e não sei mais o que. Depois, os resultados pífios mostraram que ele estava certo.

Resultado prático disso tudo: no Brasil, fora futebol e vôlei (e o judô, aparentemente), qualquer atleta vai ter que lutar sozinho para ir adiante. Como provou a Fabiana Murer, que procurou o treinador da Isinbayeva, o Cielo, que foi para os EUA, o Renzo Agresta, que foi pra Itália, os canoístas que só podem competir em Brotas e Três Coroas… e a lista vai longe.

Anarquista
Anarquista
15 anos atrás

FG, parabens pela cobertura “bloguística” dos eventos. Agora me explica uma coisa: quem paga as viagens e estadias do pessoal que está aí competindo (atletas, técnicos, aspones, etc.)? É o COB? Tem repasses do COI? Qual é o caminho da grana nesta história? Enfim, já que vc. tocou neste ponto sensível do corpo humano (bolso), fiquei curioso. Um abraço.