Blog do Flavio Gomes
Pequim 2008

OS INVENTORES

PEQUIM (quente, de novo) – Uma das grandes muletas dos historiadores é a China. Quando não se sabe quem inventou tal coisa, é batata: foram os chineses. Foram os chineses que inventaram a pólvora, o macarrão, a pipa de empinar, o leite longa-vida, o desodorante roll-on e o grill elétrico — cujo projeto foi roubado da Manchúria […]

PEQUIM (quente, de novo) – Uma das grandes muletas dos historiadores é a China. Quando não se sabe quem inventou tal coisa, é batata: foram os chineses. Foram os chineses que inventaram a pólvora, o macarrão, a pipa de empinar, o leite longa-vida, o desodorante roll-on e o grill elétrico — cujo projeto foi roubado da Manchúria pelos japoneses na Segunda Guerra e, recentemente, vendido ao George Foreman.

Outra muleta é a dinastia Ming. Todos os vasos antigos de porcelana do mundo são da dinastia Ming. Os templos mais bonitos, também. Jóias fabulosas, tradições milenares, quimonos de seda, manuscritos misteriosos, é tudo da dinastia Ming.

Fazia estas reflexões hoje pela manhã enquanto preparava meu café da manhã e derramei o leite que colocava na cumbuca cheia de sucrilhos em forma de estrelas, sendo obrigado a recorrer ao rolo de papel-toalha para limpar o que sujei, e aí me lembrei de frase lapidar de meu amigo José Henrique Mariante que, um dia, na Bélgica, afirmou sem deixar muita margem a dúvidas: o papel-toalha é a maior invenção da humanidade.

De fato é uma grande invenção, pois limpa o que sujamos. Lenços também o fazem, assim como trapos e esponjas, mas nada limpa com a eficiência e a urgência do papel-toalha, a quem recorremos, normalmente, em situações emergenciais, e ele está sempre lá. Talvez tenha sido inventado também pelos chineses, que tudo inventaram na história da humanidade, eles e Leonardo da Vinci, a terceira muleta a ser citada neste texto, já que quando os historiadores não têm a menor idéia sobre a origem de determinados artefatos, apontam o dedo para Da Vinci sem medo de errar, pois foi ele que inventou o helicóptero, a asa-delta, o moinho de vento, o tanque de guerra e a banheira de hidromassagem, além de ter sido o responsável pelos primeiros estudos de que se tem notícia de anatomia humana, astronomia, numerologia e capoeira como terapia ocupacional.

Mas uma coisa que os chineses não inventaram foi a caipirinha, e ontem tomamos algumas no jantar numa churrascaria num hotel chique, em todo lugar tem churrascaria. Nesta havia um cearense servindo, Beto, que está há dez anos na China correndo o espeto.

Quem fez as caipirinhas foi uma chinesa, que precisa ser mais treinada. Mas já tomei piores, e no Brasil. E eles também não inventaram essa viadagem da água norueguesa Voss, servida com uma “bolacha” metálica com leds no centro. Quando você coloca sobre a “bolacha” a garrafa que tem forma de frasco de perfume Calvin Klein, coisa mais brega, os leds se acendem. Aí tem-se uma garrafa com o rabo iluminado. E é bom que os noruegueses tratem de patentear logo essa viadagem, porque senão os chineses o fazem e daqui a mil anos os historiadores dirão que as garrafas com o rabo iluminado foram inventadas na China, durante a dinastia Ming.