Blog do Flavio Gomes
Pequim 2008

VAI, THIAGO…

TIANJIN (voltando) – Você se lembra desta voz? Continua a mesma. Estridente, chata, insuportável. Mas as minhas medalhas… Quanta diferença! Essa voz do link é da mãe de Thiago Pereira, Rose, que ficou, hum, famosa durante o Pan do Rio porque não parava de berrar “Vai, Thiagôôô!” em todas as provas de que o rapaz […]

TIANJIN (voltando) – Você se lembra desta voz? Continua a mesma. Estridente, chata, insuportável. Mas as minhas medalhas… Quanta diferença! Essa voz do link é da mãe de Thiago Pereira, Rose, que ficou, hum, famosa durante o Pan do Rio porque não parava de berrar “Vai, Thiagôôô!” em todas as provas de que o rapaz participou, acentuando o “o”, compassadamente, uma coisa irritante e evidentemente teatral a partir do momento em que as câmeras notaram aquela gritaria toda e ela começou a aparecer em todos os programas de TV possíveis e virou celebridade instantânea, por conta dos seis ouros do filho (mais uma prata e um bronze) na piscina carioca.

Thiago Pereira despediu-se hoje dos Jogos sem medalha alguma, porque Olimpíada é um negócio que serve, entre outras coisas, para desmascarar a farsa patriótica que quase todas as TVs montam em Jogos Pan-americanos, transformando todos os atletas brasileiros em super-heróis imbatíveis sem lembrar o pobre público que o nível das competições é muito baixo, quando comparado àquilo que acontecerá no ano seguinte. Pan não serve para projetar nada em Olimpíada. Thiago Pereira viu isso hoje. E saiu do Cubo evitando boa parte da imprensa brasileira que o esperava do lado de fora. A mesma imprensa que para gravar a mãe gritando “Vai, Thiagôôô!” serve.

Não gosto desse tipo de coisa. A derrota é chata, frustrante, decepcionante, mas faz parte do jogo. É preciso saber perder. O cara não tem a obrigação de ganhar medalha nenhuma. Está lá nadando por ele, não por uma nação. Que o conheceu no ano passado pela TV, na glória do ouro farto, e agora gostaria de saber porque não veio nada. Ao menos por curiosidade, não para pendurá-lo numa cruz. Era só falar e pronto. Para todo mundo, não apenas para alguns.

Bem que Confúcio, um dia, disse a Gah-Fang-Yotong, seu fiel discípulo: “Se no fim da piscina não encontrar o ouro, vai ver se está no fundo e não reclama”. E deu um caldo nele.