Blog do Flavio Gomes
#69

RECADO PARA A FASP

SÃO PAULO (um pouco de seriedade é bom, para variar) – Antes de mais nada, que fique claro (já comecei um texto assim outro dia, estou ficando repetitivo) que não se trata, aqui, de campanha pessoal contra piloto algum. Mas o episódio do garoto do Passat #50 sábado, na corrida “amistosa” da Superclassic, que fez […]

SÃO PAULO (um pouco de seriedade é bom, para variar) – Antes de mais nada, que fique claro (já comecei um texto assim outro dia, estou ficando repetitivo) que não se trata, aqui, de campanha pessoal contra piloto algum. Mas o episódio do garoto do Passat #50 sábado, na corrida “amistosa” da Superclassic, que fez parte da programação das Mil Milhas, merece não só reflexão, como ação.

Felipe Castro é o nome do menino, já mencionado alguns posts abaixo. Digo “menino”, porque ele tem 16 anos. Seu tio ligou para o Marcelo Giordano, que quase o acertou em cheio, para conversar. E revelou a idade dele. Já acho um absurdo sem tamanho um garoto de 16 anos correr de carro. Nem idade para ter carta de motorista ele tem. Mas parece que a legislação esportiva permite que se corra antes de se aprender a dirigir. Mais um desses absurdos do esporte, e não é só no Brasil, não.

Então, se pode, paciência. Mas as autoridades esportivas não podem permitir que alguém vá para a pista sem ter o menor preparo para correr de carro. Isso independe da idade. O cara pode ter 50 anos e fazer o que Castro fez. E as ações têm de ser as mesmas.

O menino Felipe não tem condições de disputar corridas, pelo que vimos na nossa prova. Não é, repito, porque é novinho e porque nós, os mais velhos, não queremos a molecada correndo conosco. Nada disso. Temos pilotos jovens, também, que possuem alguma experiência e se comportam com civilidade. Não estou discutindo a índole do rapaz. Ele pode ser ótimo filho, bom garoto, estudioso e comportado. Seus pais, que permitem que ele sente numa bagaça que vai a quase 200 km/h, são irresponsáveis. O menino não pode disputar corridas. Não sem antes ser avaliado por quem tem a obrigação de fazê-lo.

Se esse rapaz tem carteira de piloto, ele deve ter feito curso de pilotagem. Se fez, e faz o que faz na pista, o curso foi uma merda. Se não fez, e lhe deram a carteirinha, a responsabilidade é 100% das autoridades esportivas (CBA e FASP), que emitem carteira de piloto para qualquer um. Não sei se é obrigatório fazer um curso. Se não for, deveria. Mesmo assim, algum mecanismo de controle deveria existir. É o fim do mundo permitir que uma pessoa entre num carro de corrida sem ter sido avaliado por ninguém antes.

Nossas autoridades (de novo, CBA e FASP, fora as outras federações) são omissas no controle de quem pode pilotar, e colocam em risco as vidas de todos que participam de suas competições. As entidades se jactam de ter não sei quantos mil filiados, mas pergunto: quantos têm condições de correr? Eu, por exemplo, não poderia jamais disputar uma corrida de GT3, ou de Porsche, ou de Stock. Sou um amador. Tenho limites claros. Colocaria em risco a segurança de pilotos de verdade.

Castro, aos 16 anos, não pode correr. Não porque tem 16 anos, mas porque não sabe pilotar. Acelerar o carro, ele sabe. Qualquer um que tenha o pé direito em funcionamento e saiba qual é o pedal do acelerador sabe. Mas correr não é só isso. Há princípios básicos que devem ser aprendidos e seu aprendizado, comprovado. Freadas, traçado, reações a imprevistos, respeito às bandeiras, comportamento nas ultrapassagens, como abrir caminho para os carros mais rápidos, toques, zebras, áreas de escape, sair da pista e voltar, saber se o carro quebrou e está espalhando óleo na pista, tem muita coisa para aprender, e a gente aprende uma nova a cada corrida.

Aos 16 anos, qualquer garoto deveria estar correndo de kart, se gosta de velocidade. Mas já que a legislação, parece, permite, é responsabilidade das autoridades (FASP, CBA) assegurar aos demais competidores que um garoto de 16 anos tem condições físicas e emocionais de competir.

A FASP receberá, amanhã, fotos da manobra de Castro que quase resultou num acidente gravíssimo no sábado. E receberá também este vídeo, postado no blog do nosso piloto Aroldo Teixeira, do Puma amarelo, que com sua câmera on-board filmou a escapada de pista e a volta quase trágica do Passat #50. É pavoroso.

Se diante dessas evidências a FASP não fizer nada, é porque não serve para nada. Deve, sim, fazer valer sua autoridade. Chamar o piloto, junto com seus pais ou responsáveis, mostrar as fotos e o vídeo, e tomar alguma medida que, como disse antes, pode ser uma suspensão, ou uma advertência formal, ou, o que acho mais indicado, obrigá-lo a fazer um curso de verdade e ser avaliado, depois.

Aproveitando… Nossa corrida foi muito bacana, 33 carros e tudo mais. Mas não tivemos briefing, não sabíamos como seria a largada (lançada ou parada), o pace-car deixou a pista, na frente do pelotão, de um jeito absurdamente inseguro, nossos carros não foram vistoriados, não houve Parque Fechado e tudo foi feito, desculpem os termos, nas coxas.

Já disse: corrida não é brincadeira. Pessoas podem se machucar seriamente. FASP, CBA e organizadores deveriam pensar mais nisso do que nas carteirinhas, nas taxas de inscrição e nas eleições do ano que vem.