Blog do Flavio Gomes
Brasil

SP, 455*

Bauru no Ponto Chic, pizza na Castelões, um mate com leite na São João, um pernil no Estadão, um café em Congonhas, um filé com catupiri no Moraes, a mortadela no Mercadão, um chopps e dois pastel. Um joguinho no Pacaembu, bolinho de bacalhau no Canindé, acompanhar a São Silvestre da janela, um GP em […]

Bauru no Ponto Chic, pizza na Castelões, um mate com leite na São João, um pernil no Estadão, um café em Congonhas, um filé com catupiri no Moraes, a mortadela no Mercadão, um chopps e dois pastel.

Um joguinho no Pacaembu, bolinho de bacalhau no Canindé, acompanhar a São Silvestre da janela, um GP em Interlagos, carros antigos no Sambódromo, passear de lambreta, um picolé na padaria.

Folhear os livros na Fnac, ou na Cultura, ou na Saraiva, entrar num sebo na Brigadeiro, pechinchar com o camelô, achar uma peça da moto velha num buraco no Pari, pedir um capuccino no Fran’s com chantili.

Um X-salada de madrugada no Chico Hamburger, olhar tudo e todos do topo do Edifício Itália, entrar no Conjunto Nacional, namorar a Oca, o MAM, a Marquise, o prédio da Bienal, respirar o ar do Ibirapuera, ouvir os bem-te-vis, tomar uma água de coco, correr no parque.

Comprar pipoca e ir ao cinema, se deslumbrar com o Municipal, atravessar a Paulista de ponta a ponta, entrar no metrô, comprar bugigangas na 25, subir no terraço do Detran, comer tutu de feijão n’O Profeta.

Xingar o trânsito, o motoboy, o taxista, o motorista de ônibus, e perdoar tudo um segundo depois, comprar um chiclete no farol, deixar o carro para lavar, passear na feirinha do Bixiga, sentar nos bancos de concreto do Masp.

Pegar o jornal na porta de manhã, ler os classificados, procurar a revista na banca, buscar o pão, comprar patê no supermercado 24 horas, ver o Jô na TV, caminhar na garoa, cair no buraco, fechar o vidro, ligar o rádio.

Lembrar do Mappin, da Sears e da Mesbla, cruzar o viaduto do Chá, descer a rua Augusta a 120 por hora, brincar de autorama na Sebring, almoçar no rodízio, visitar o Salão do Automóvel, puxar ferro na academia, levar as crianças ao Butantã e ao zoológico, acabar a noite no Brahma naquela esquina, pegar a Imigrantes, voltar pela Anchieta ouvindo o Silvério e o Milton, pegar as crianças na escola.

Virar a noite na internet, sair de casa antes de o sol nascer, feijoada no Bolinha, sushi na Liberdade, andar de bicicleta na USP, achar um barzinho, uma esfiha, um quibe e coalhada seca no Almanara, tomar o trem das onze, admirar as curvas de Niemeyer no Copan.

Sair para jantar, dançar, transar, comer, beber, deitar, dormir, acordar, trabalhar, rir, chorar, o cinza, a cor, a chuva, a enchente, a Marginal, os marginais, o túnel, a ponte, a vida que pulsa como em lugar nenhum.

Assim se vive em São Paulo, assim se fala de São Paulo em 450 palavras. É muito pouco, não basta, como não bastam 450 páginas, nem 450 anos.

* Este texto eu escrevi há exatos cinco anos, no 450º aniversário da minha adorada e odiada cidade. Não mudaria nada. Acrescentaria apenas cinco palavras, talvez, para o texto ficar com 455. Façamos assim: escolha você cinco palavras e termine o texto versão 2009.