Blog do Flavio Gomes
Blog

RECORDES & REFLEXÕES

SÃO PAULO (bom, isso) – O tema, baixo-astral e candente ao mesmo tempo, ajudou. A presença na home do iG também, claro. E graças ao bobinho do Porsche que tira racha na Anhanguera, este blog bateu ontem todos seus recordes de audiência. É ótimo, porque quanto mais gente for exposta a essa discussão, melhor. Não […]

SÃO PAULO (bom, isso) – O tema, baixo-astral e candente ao mesmo tempo, ajudou. A presença na home do iG também, claro. E graças ao bobinho do Porsche que tira racha na Anhanguera, este blog bateu ontem todos seus recordes de audiência. É ótimo, porque quanto mais gente for exposta a essa discussão, melhor. Não se deve ocultar a realidade, é preciso exercer a cidadania e a indignação.

Ser capaz de se indignar é a primeira e indispensável qualidade de qualquer jornalista. Mesmo que não leve a nada — meu e-mail para o comandante do policiamento rodoviário, por exemplo, foi solenemente ignorado até agora, e duvido que aconteça algo ao garotinho que guia inclinando os ombros como se estivesse diante de um console de Playstation. Mas levou à reflexão de milhares de pessoas, por mais breve que tenha sido, o que já é alguma coisa — embora seja deprimente constatar que uma parte não desprezível (numericamente) dos que se manifestaram tenha expressado um pensamento tão raso e medíocre, agressivo e hostil, defendendo o meliante e atribuindo à inveja a revolta que pautou a maioria dos comentários.

É deprimente porque acho que uma grande parte da juventude brasileira está irremediavelmente perdida, o que compromete o futuro do país. Gente que pensa assim (vocês não têm ideia da quantidade de comentários que fui obrigado a apagar; são outros bobinhos, que têm seus IPs todos registrados e poderiam levar lindos processos na telha) não tem solução e me faz pensar que a máxima da Elis, não confie em ninguém com mais de 30, precisaria ser invertida, hoje. Não confie em ninguém com menos de 30, isso sim, claro que com as exceções de sempre. Mas noto que especialmente nas grandes cidades o perfil de boa parte da molecada é exatamente esse: matem, atropelem, briguem, desrespeitem, foda-se.

São os verdadeiros rebeldes sem causa, expressão até simpática, cunhada numa época em que havia muitas causas para se rebelar contra, e aqueles que se rebelavam sem causa alguma eram divertidos e anárquicos. Hoje essa gente rebela-se contra o quê, mesmo?

Se fossem capazes de se autoanalisar, entenderiam que se rebelam contra o vazio de sua existência, a pobreza de seus propósitos, a incapacidade de encontrar objetivos de vida, a falta de sentido em tudo que fazem. São prisioneiros do hedonismo e do exibicionismo, portadores de um vácuo absoluto, bestas quadradas que passarão pelo mundo deixando pouco mais do que uma página no Orkut e uma produção literária repleta de “aes”, “blzs”, “vlws”, “intaums” e “akis”.

A internet é um barato, sem dúvida. Sabendo usá-la, com todos seus defeitos e imprecisões, uma ferramenta que pode mudar o mundo. Mas cada vez que passo diante de uma lan-house e observo que 100% dos computadores estão conectados no Orkut com jovens que gastam horas diante da tela trocando “aes”, “bjuuusss” e “blzs”, constato que não está servindo para nada. Não há exatamente inclusão digital, nisso. Há, sim, a globalização e padronização da babaquice e da inutilidade, ócio em estado bruto.

Sorte de quem se salvar disso.

Ah, os números… Foram 56.595 visitas ao blog ontem, com 47.951 visitantes únicos, o que é um bom número. O recorde anterior era de 3 de novembro do ano passado — salvo engano, o dia seguinte à decisão do título da F-1 em Interlagos —, com 38.751 visitas e 30.713 usuários. Vieram até aqui internautas de 61 países e 741 cidades diferentes.