O carro em questão era um superesportivo nacional, num tempo em que eram proibidas as importações por aqui. Seu nome, Hofstetter. Estilo inconfundível, design inspirado em alguns dos grandes italianos dos anos 70, motorzão, acabamento impecável, portas asas-de-gaivota. Um assombro. O painel, revestido de camurça, me deixou doido. Os bancos de couro, os ângulos da carroceria, as rodas exclusivas, o cinzeiro que quando aberto acionava um exaustor, tudo aquilo parecia um sonho, por ter sido fabricado no Brasil.
O Hofstetter foi a grande atração daquele Salão. Tinha fila para ver o carro, ninguém acreditava que aquela supermáquina capaz de passar dos 200 km/h em breve estaria nas ruas. No fim das contas, como tanta coisa no Brasil, não vingou comercialmente. Foram muitas as razões. Crises econômicas e cambiais, abertura das importações, preço alto, tudo contribuiu.
Elas pertencem a ninguém menos que Mário Hofstetter, o criador do carro, que ainda tem o protótipo feito em 1974 (o vermelho), quando ele tinha 16 anos, o número 2 (do lado dele, exatamente o que vi no Anhembi há 25 anos) e o número 17 (o da foto lá no alto).
Foi esse, o #17, que dirigi para a gente fazer algumas imagens. É um carro excepcional, o fora-de-série mais espetacular já fabricado no Brasil, com todo respeito aos demais — e foram muitos. Quando sentei naquele banco baixinho, com aquele painelzão digital na minha cara, 300 hp turbinados nas costas (o motor é central), aquele vidro enorme quase na horizontal à frente, a porta abrindo e fechando ao toque de um botão…
Ah, rapaz, lembrei de 25 anos atrás, dos meus vinte anos de boy, that’s over, baby, mas sempre tem um jeito de voltar no tempo, e se meu jeito é guiando um carro que um dia me fez sonhar, que seja.