Blog do Flavio Gomes
Stock Car

AH, AS ASSESSORIAS…

SÃO PAULO (sardinhas) – Essa corrida da Estoque em Salvador está sendo engraçadíssima. As dezenas de assessorias de imprensa mandam depoimentos entusiasmados dos pilotos, todos dizendo que a pista é ótima e que a Bahia é demais. A Bahia é demais. Mas a pista, não. Os pilotos, na verdade, estão é reclamando muito do traçado, […]

SÃO PAULO (sardinhas) – Essa corrida da Estoque em Salvador está sendo engraçadíssima. As dezenas de assessorias de imprensa mandam depoimentos entusiasmados dos pilotos, todos dizendo que a pista é ótima e que a Bahia é demais. A Bahia é demais. Mas a pista, não. Os pilotos, na verdade, estão é reclamando muito do traçado, que não permite ultrapassagens e tem duas chicanes de pneus chamadas pelo Antonio Pizzonia de “surreais”.

A orientação, no entanto, é “global”: pintar tudo de cor-de-rosa e não magoar ninguém. É o que veremos domingo na TV, todo mundo falando bem de tudo, do mar, do Farol da Barra, da Ivete, do acarajé, do ACM.

De qualquer maneira, acho positiva a realização de uma corrida desse porte no Nordeste. A pista ser uma bomba não é algo que me surpreenda. A Estoque há um bom tempo se preocupa muito mais com forma do que com conteúdo — não tem cabimento, por exemplo, descobrirem no dia do primeiro treino que são necessárias duas ridículas chicanes de pneus, que possivelmente serão retiradas amanhã; é despreparo puro.

Mas eu dizia que acho positiva a corrida lá, porque é sempre legal mesmo uma corrida de rua, em que pesem as bobagens dos organizadores (ingressos caros, “praça do telão”, circuito pequeno, entrada dos boxes ruim e tudo mais). Atrai público, chama a atenção das pessoas, agita a cidade. Tomara que dê tudo certo e que o despreparo mostrado na confecção do traçado não seja regra, e que pelo menos a segurança de todos seja preservada.

Sobre as assessorias, o esforço para emplacar matérias de seus clientes tem sido divertido. A última foi a do Popó Bueno, que vai correr com o capacete e o aerofólio pintados por Menelaw Sete, que de acordo com o release que recebi é conhecido como “Picasso brasileiro”. Hum… Será que don Pablo pintaria um capacete e uma asa? Mas ficaram bonitos, ambos, e se Menelaw está longe de ser um Picasso, seu trabalho é bem marcante, merece elogios. Gozado, mesmo, foi ver as aspas do artista no texto que recebi: “O Popó é um iluminado (…). Por isso, ele é muito querido aqui na Bahia” e etc.

Ai, ai, ai.

E a resposta… “Tenho um carinho todo especial pelos baianos. É um pessoal que eu gosto muito” e etc.

Popó não é querido na Bahia. Ninguém sabe quem é Popó na Bahia, exceto o boxeador. Aliás, largue os pilotos estoquianos no Pelourinho sem bonés e camisas cheias de patrocínios, que ninguém saberá quem são. Com camisas e bonés, saberão que não são nativos, ou turistas comuns. E que história é essa de “pessoal que eu gosto muito”? Baianos não são “um pessoal”. Os caras falam como se estivessem indo correr numa aldeia indígena na Amazônia peruana, como se nós, os do Sul Maravilha, devêssemos a todo instante demonstrar “nosso carinho por essa gente”.

Para com isso. O Nordeste está um milhão de anos à frente do nosso Sul Porcaria. Não precisa de elogios baratos.