Blog do Flavio Gomes
Brasil

FEIO DEMAIS

SÃO PAULO (venha, chuva, inunde tudo) – Domingo saí cedo do Guarujá para levar um casal de primos até o porto de Santos, de onde embarcariam, recém-casados, para um breve cruzeiro pelo litoral do Brasil. Fomos pela balsa, que por alguma razão que nunca irei compreender eu adoro. Adoro colocar um carro numa balsa, atravessar […]

SÃO PAULO (venha, chuva, inunde tudo) – Domingo saí cedo do Guarujá para levar um casal de primos até o porto de Santos, de onde embarcariam, recém-casados, para um breve cruzeiro pelo litoral do Brasil. Fomos pela balsa, que por alguma razão que nunca irei compreender eu adoro. Adoro colocar um carro numa balsa, atravessar de um lado para o outro, comer biscoito de polvilho no carro enquanto a barcaça segue lenta e forte, o motor a diesel incansável, que ao longo dos séculos leva os carros e as pessoas e as bicicletas de um lado para o outro, a balsa que reina naquele pedaço minúsculo de mar, mas ali é só dela, de mais ninguém.

Bem, esqueçam a balsa.

Saímos pela ponta da praia para procurar o cais de embarque de passageiros. Havia anos não passava pelo porto, hoje me disseram que são 8 km de extensão, e fiquei deprimido com aquela área de uma cidade tão bela como Santos. Tudo velho, quebrado, largado, abandonado, detonado, o calçamento, os armazéns, as casas e prédios e bares e puteiros ao longo do cais, e caminhões, barcos, vagões de trem, contêiners, carros, tudo jogado nas ruas, enferrujando, enfeiando, um cenário de pós-guerra, um descaso total com o bem-estar de quem ali vive e trabalha.

Os caminhões abandonados são chocantes, há dezenas de Scanias laranja, toneladas de ferro se decompondo à maresia e ao tempo, não sei como uma cidade tolera algo assim.

O cais de embarque, outro lixo, pior que rodoviária de megalópole do quinto mundo, uma zona, zero de conforto, barulhento, caótico.

Santos podia ser uma das cidades mais lindas do mundo. Dá pena.