Matinas vestia uma camiseta preta com um morango estampado e a inscrição www.morango.com.br. Foi a única coisa que estranhei naquele cara sempre agitado, uma usina de ideias, que conhecera no jornal sempre de gravata e camisa social — geralmente gravatas pouco convencionais e camisas, idem.
“Você tem um site de F-1, não tem?”, eu tinha, “Então queremos que você faça o maior site de automobilismo do mundo”, ok, eu faço, e isso foi tudo. Por cima, me falou do nascimento de um novo portal, que teria sites parceiros em várias áreas, me pediu um projeto, marcou nova reunião, e quando fui ver, no começo de 2000, lá estava eu na caótica redação num prédio da Berrini do recém-nascido iG, Internet Grátis, uma revolução para a igualmente jovenzinha internet brasileira, que ainda era cara no acesso e nas conexões. O iG entrou no mercado para dar tudo de graça a quem quisesse. Democracia na rede.
A internet era jovenzinha, mas começava a bombar incontrolavelmente. A cada dia surgiam novos sites e portais, com investimentos monstruosos que eu nunca entendi como poderiam se pagar. Do meu jeito lusitano, com a caneta Bic na orelha para fazer contas, comecei a criar o Grande Prêmio. Eu tinha um site, mesmo, o www.warmup.com.br (que até hoje redireciona seus usuários para a URL atual), onde me limitava a reproduzir as matérias que escrevia para os jornais que compravam minha cobertura de F-1. Quem me convenceu a colocá-lo no ar foi meu parceiro de primeira hora na agência Warm Up, José Otávio Lima Gonçalves, da ProdutoBrasil. Em 1995, quando montei a empresa, era a PB que enviava meus textos a 55 jornais brasileiros por fax, depois por BBS, e mais tarde, finalmente, através de um site próprio para isso. Foi a PB que colocou o Warm Up na web e, depois, o Grande Prêmio. Só lá para 2001 ou 2002 é que passamos a usar os servidores do iG.
Bem, já se vão dez anos. O iG de fato virou a internet brasileira de cabeça para baixo graças à genialidade do Matinas e de seus primeiros sócios, Nizan Guanaes e Alexandre Mandic, mudou de dono duas vezes, hoje pertence à Oi, é um dos grandes portais brasileiros, e o Grande Prêmio segue firme no mesmo barco, tendo se transformado numa das principais páginas sobre automobilismo e esporte-motor do mundo. Aqui não há exagero, nem pretensão. A gente trabalha direito, mesmo, tem reconhecimento internacional e índices de audiência que superam os maiores sites ingleses e americanos sobre o assunto.
Eu teria, como de costume, uma lista enorme de gente para agradecer. Todos que passaram pelo iG desde o início e pelo Grande Prêmio, em particular. Como esquecerei de alguém, é inevitável, que cada um deles receba um beijo e um abraço. Todos sabem quem são, história nenhuma se escreve sozinho. Muitos deles estão neste especial dos dez anos que o iG colocou no ar. Velhos e novos amigos e companheiros, gente valorosa que não mede sacrifícios para fazer algo que parece tão fácil, informar — mas que arranca o sangue da gente dia a dia.
Parabéns ao iG pelos dez anos. Viva nós, viva tudo, viva o Chico Barrigudo. E vamos em frente.