Blog do Flavio Gomes
Grande Prêmio

IG, 10

EM QUALQUER LUGAR (o mundo é um só) – Era dezembro de 1999. Toca meu celular, do outro lado da linha Matinas Suzuki Jr., a quem eu não via desde 1994, quando saí da “Folha”. Rápido e objetivo como sempre, como se tivesse me visto no dia anterior, disparou: “Flavinho, você pode vir aqui conversar […]

cachorrinhoEM QUALQUER LUGAR (o mundo é um só) – Era dezembro de 1999. Toca meu celular, do outro lado da linha Matinas Suzuki Jr., a quem eu não via desde 1994, quando saí da “Folha”. Rápido e objetivo como sempre, como se tivesse me visto no dia anterior, disparou: “Flavinho, você pode vir aqui conversar sobre um projeto?”. Eu não sabia onde era “aqui”, mas disse que podia, sim. E o Matinas me passou um endereço, um prédio desses modernosos na nova Faria Lima, marcou dia e hora e no dia e na hora eu estava lá.

Matinas vestia uma camiseta preta com um morango estampado e a inscrição www.morango.com.br. Foi a única coisa que estranhei naquele cara sempre agitado, uma usina de ideias, que conhecera no jornal sempre de gravata e camisa social — geralmente gravatas pouco convencionais e camisas, idem.

“Você tem um site de F-1, não tem?”, eu tinha, “Então queremos que você faça o maior site de automobilismo do mundo”, ok, eu faço, e isso foi tudo. Por cima, me falou do nascimento de um novo portal, que teria sites parceiros em várias áreas, me pediu um projeto, marcou nova reunião, e quando fui ver, no começo de 2000, lá estava eu na caótica redação num prédio da Berrini do recém-nascido iG, Internet Grátis, uma revolução para a igualmente jovenzinha internet brasileira, que ainda era cara no acesso e nas conexões. O iG entrou no mercado para dar tudo de graça a quem quisesse. Democracia na rede.

A internet era jovenzinha, mas começava a bombar incontrolavelmente. A cada dia surgiam novos sites e portais, com investimentos monstruosos que eu nunca entendi como poderiam se pagar. Do meu jeito lusitano, com a caneta Bic na orelha para fazer contas, comecei a criar o Grande Prêmio. Eu tinha um site, mesmo, o www.warmup.com.br (que até hoje redireciona seus usuários para a URL atual), onde me limitava a reproduzir as matérias que escrevia para os jornais que compravam minha cobertura de F-1. Quem me convenceu a colocá-lo no ar foi meu parceiro de primeira hora na agência Warm Up, José Otávio Lima Gonçalves, da ProdutoBrasil. Em 1995, quando montei a empresa, era a PB que enviava meus textos a 55 jornais brasileiros por fax, depois por BBS, e mais tarde, finalmente, através de um site próprio para isso. Foi a PB que colocou o Warm Up na web e, depois, o Grande Prêmio. Só lá para 2001 ou 2002 é que passamos a usar os servidores do iG.

Warm Up era um nome bom, mas o Matinas queria algo em português, e já não lembro direito quem escolheu Grande Prêmio. Talvez tenha sido eu mesmo. A memória já se esvai. Contratei um jovem jornalista recém-formado, Tales Torraga (que tinha conhecido quando fui dar uma palestra numa faculdade de Mogi das Cruzes), e um companheiro da Jovem Pan, Everaldo Marques (que me ajudava num programa de automobilismo), para me ajudar. A equipe era essa. Hoje somos em oito e meu editor Victor Martins já avisou que precisamos de mais.

Bem, já se vão dez anos. O iG de fato virou a internet brasileira de cabeça para baixo graças à genialidade do Matinas e de seus primeiros sócios, Nizan Guanaes e Alexandre Mandic, mudou de dono duas vezes, hoje pertence à Oi, é um dos grandes portais brasileiros, e o Grande Prêmio segue firme no mesmo barco, tendo se transformado numa das principais páginas sobre automobilismo e esporte-motor do mundo. Aqui não há exagero, nem pretensão. A gente trabalha direito, mesmo, tem reconhecimento internacional e índices de audiência que superam os maiores sites ingleses e americanos sobre o assunto.

Não foram anos fáceis, longe disso, mas quando uma empresa que saiu de uma folha de papel em branco, como o iG, chega a uma década de vida, é impossível não sentir uma pontinha de orgulho por estar do mesmo lado da trincheira durante tanto tempo.

Eu teria, como de costume, uma lista enorme de gente para agradecer. Todos que passaram pelo iG desde o início e pelo Grande Prêmio, em particular. Como esquecerei de alguém, é inevitável, que cada um deles receba um beijo e um abraço. Todos sabem quem são, história nenhuma se escreve sozinho. Muitos deles estão neste especial dos dez anos que o iG colocou no ar. Velhos e novos amigos e companheiros, gente valorosa que não mede sacrifícios para fazer algo que parece tão fácil, informar — mas que arranca o sangue da gente dia a dia.

Parabéns ao iG pelos dez anos. Viva nós, viva tudo, viva o Chico Barrigudo. E vamos em frente.