Blog do Flavio Gomes
Grande Prêmio

SENNA, 50 (23)

SÃO PAULO (bem-vindo, outono) – Bom dia, macacada. O Grande Prêmio preparou um material especial para hoje e amanhã, marcando a passagem do 50º aniversário de Ayrton Senna. Para ler, clique aqui. Nossa pauta é, provavelmente, diferente da maioria das coisas que serão lidas por aí. Aproveito e reproduzo abaixo minha coluna exclusiva para o […]

SÃO PAULO (bem-vindo, outono) – Bom dia, macacada. O Grande Prêmio preparou um material especial para hoje e amanhã, marcando a passagem do 50º aniversário de Ayrton Senna. Para ler, clique aqui. Nossa pauta é, provavelmente, diferente da maioria das coisas que serão lidas por aí.

Aproveito e reproduzo abaixo minha coluna exclusiva para o “Diário de S.Paulo”, que foi publicada hoje no valoroso jornal paulistano, o antigo “Diário Popular”. Não será praxe do blog reproduzir essas colunas, mas como o tema é bem específico, talvez vocês queiram ler.

Senna, 50

            Ayrton Senna faria 50 anos amanhã. Vai ser aquilo de sempre. Imagens de gente depositando flores em seu túmulo, pessoas chorando, camisetas Marlboro, bonés do Nacional. E Tema da Vitória bombando em suas várias versões, inclusive a fúnebre. Saudades eternas, nosso herói, aquelas inesquecíveis manhãs de domingo — que nem sempre eram manhãs, diga-se; 14 de suas 41 vitórias foram conquistadas de tarde ou de madrugada, pelo sagrado horário oficial de Brasília.

            Se Ayrton pudesse protocolar um protesto no Departamento de Reclamações do Além contra essas presepadas, creio que o faria. O negócio dele era correr de carro, acelerar qualquer coisa que tivesse quatro rodas, ganhar dos rivais, e as pessoas aqui só querem saber de lembrar “daquelas manhãs de domingo”. Não do que ele fazia na pista, dos duelos, das ultrapassagens, das vitórias e das derrotas. Mas daquilo que elas, as pessoas, sentiam se apropriando da capacidade alheia.

            É um sentimento egoísta, esse do torcedor brasileiro. Na TV, a gente tem um bordão que se chama “o povo fala”. É quando se sai às ruas para entrevistar transeuntes sobre qualquer assunto. Um “povo fala” sobre Senna dá nisso: “Eu me sentia um vencedor”, “ele lavava nossa alma”, “ele nos enchia de orgulho”.

            Ele corria para vencer. Por ele, por uma equipe inglesa, por uma marca japonesa ou francesa de motores e outra americana de pneus. Em que pese o teatrinho nacionalista que gostava de fazer, com bandeiras e citações ao pobre e sofrido povo brasileiro, Senna fazia o que todo piloto faz: queria derrotar os outros.

            Por isso, que se lembre dele por aquilo que fazia dentro de um carro. Todo o resto, seu endeusamento, sua transformação em mártir, em ídolo infalível, quase um santo que só não foi canonizado porque o papa ainda não sacou nada, não passa de babaquice.