Blog do Flavio Gomes
Automobilismo brasileiro

SÓ QUE…

SÃO PAULO (irritado) – A F-3 Sul-americana está em Londrina neste fim de semana. No grid, 13 carros, sendo apenas sete da categoria principal (a outra é a Light, que larga junto). Oito chegaram ao final. Vi uma etapa, no Velopark, ao vivo. Os carros são legais, as equipes são organizadas, mas ninguém participa. Mas […]

SÃO PAULO (irritado) – A F-3 Sul-americana está em Londrina neste fim de semana. No grid, 13 carros, sendo apenas sete da categoria principal (a outra é a Light, que larga junto). Oito chegaram ao final. Vi uma etapa, no Velopark, ao vivo. Os carros são legais, as equipes são organizadas, mas ninguém participa. Mas campeonato de oito carros, que tem sido a média no grid este ano, não é campeonato.

A categoria conseguiu o patrocínio da Petrobras via Lei de Incentivo ao Esporte. O Ministério dos Esportes aprovou no fim do ano passado a captação de R$ 7.063.763,75 graças a um projeto apresentado, em nome da F-3, por um certo Instituto de Desenvolvimento do Desporto Brasileiro, aparentemente sediado no Paraná. F20E2E83E05527D02E7CAC982229" target="_blank">Está aqui, para quem quiser ver. Não há nada de ilegal nisso. Qualquer um pode apresentar um projeto ao Ministério, que o analisa e, se achar que deve, aprova. E se a Petrobras quer colocar seu dinheiro nisso, tudo bem. Faz parte de suas atribuições, acredito, apoiar o esporte a motor. O valor total, aliás, ficou longe de ser captado. A Petrobras, de acordo com o site, entrou com R$ 1.800.000,00. Acho até que essa lei é interessante, se bem utilizada e tratada com seriedade. O mesmo vale para a cultura, o audiovisual e tudo mais. Há um punhado de leis de incentivo pingando no pedaço.

Só que…

Só que tem coisa errada aí. Os projetos contemplados pela Lei do Incentivo ao Esporte exigem alguma contrapartida social/educacional/de fomento. A legislação é bem complexa. No caso da F-3, a tal contrapartida, até onde eu sei, seria a Fórmula Universitária — em tese, um ambiente para formação de pilotos, técnicos e engenheiros, com a participação de universidades. A F-Universitária não existe.

Um passeio por esses projetos aprovados, na área automobilística, revelam outras coisas esquisitas. O Interlagos Motor Clube, por exemplo, egrégio organizador de muitas etapas do popularíssimo Campeonato Paulista de Velocidade no Asfalto, emplacou dois. É só entrar aqui e colocar em “Proponente” o nome do dito cujo. Um dos projetos aprovados se chama “Das ruas para o esporte”. Suponho que seja para ajudar a financiar as provas de arrancada. Não consegui localizar no site uma descrição do projeto. Talvez esteja em algum lugar, não sei. O valor aprovado para captação é de R$ 1.331.147,16. E os proponentes prometem um público de… 230 mil pessoas.

Putz. 230 mil pessoas? Será que o Ministério pede uma comprovação razoavelmente crível desse público estimado?

Tem outro, também do Interlagos Motor Clube. Para o Campeonato Paulista de Kart. Valor aprovado de R$ 1.506.235,00. Estimativa de público: 173 mil pessoas.

Putz.

É importante dizer que o Interlagos Motor Clube não captou nada até agora. E é importante também esclarecer que esses valores não são dotações públicas para nada. O proponente aprova seu projeto e sai a campo para arrumar patrocinadores/doadores/financiadores. Se conseguir, ótimo. Se não conseguir, azar. O governo não entra com dinheiro algum. Apenas abre mão de arrecadar determinados valores em impostos, que deixam de reforçar os cofres públicos para financiar os projetos aprovados.

Mas sugiro aos técnicos do Ministério do Esporte que, pelo menos no caso do automobilismo, procurem saber por onde anda esse público monumental antes de aprovar algum projeto. Prometer que 173 mil pessoas verão um campeonato de kart me parece meio exagerado.

PS: a F-3 estimou seu público em 180.020 pessoas para toda a temporada. Parece mais um exagero, mas como uma de suas nove rodadas duplas acontece junto com a F-1 em Interlagos, é possível que se chegue perto disso ao longo do ano — embora em todas as demais provas o público seja minúsculo.