Blog do Flavio Gomes
Museus & coleções

DESCASO TOTAL

SÃO PAULO (não temos salvação) – Reproduzo na íntegra o e-mail do André Passatowski. Quase um pedido de socorro. Vejam as fotos, uma por uma. E fiquem deprimidos o resto do dia. O assunto não é novidade. O Jason Vogel já publicou matérias a respeito pelo menos duas vezes. Mas há algum tempo não ouço […]

SÃO PAULO (não temos salvação) – Reproduzo na íntegra o e-mail do André Passatowski. Quase um pedido de socorro. Vejam as fotos, uma por uma. E fiquem deprimidos o resto do dia.

O assunto não é novidade. O Jason Vogel já publicou matérias a respeito pelo menos duas vezes. Mas há algum tempo não ouço falar mais nada. Estive na terça-feira de carnaval, dia 8, na cidade de Comendador Levy Gasparian – RJ, no simpático distrito de Monte Serrat, divisa com MG. Estávamos em 6 pessoas e pretendíamos conhecer o Museu Rodoviário, que até onde sei é o único do gênero no país. A importância deste museu é bem conhecida: inaugurado há quase 40 anos, fica às margens da primeira estrada pavimentada do Brasil, a União Indústria, e o prédio servia como estação de muda, para troca dos cavalos que puxavam as carruagens. Fazem parte do acervo peças interessantes, como marcos de estradas, maquinário utilizado para a construção de estradas (como rolos compressores), algumas peças menores como uma bomba de gasolina e motores, além de veículos que serviram ao antigo DNER, que são dois ônibus (um Ford e outro que creio ser GM, mas não tenho certeza), dois Jeep’s e um raro caminhão Chevrolet. Na parte interna do museu, segundo consta (não consegui ainda encontrar o museu aberto), existem carruagens e uma Harley-Davidson que foi utilizada pela PRF, entre outros itens.

Pra começar, não encontrei nenhuma informação sobre dias e horários de funcionamento do museu, nem mesmo um telefone de contato. Fomos na cara e na coragem, pois mesmo que o museu estivesse fechado, valeria a pena pelo passeio e pelo local.

Estive lá em 2006, durante um rali de regularidade de antigos e um dos pontos de parada foi em frente ao museu. Naquele dia, o museu estava fechado e só pude olhar e fotografar de fora. Já naquela época era lamentável o estado das peças do acervo que ficam do lado de fora do prédio, sofrendo a ação do tempo, sem nem mesmo uma cobertura contra a chuva. Agora, 5 anos depois, tive a mesma falta de sorte e não consegui entrar. Olhei e fotografei da rua, novamente. E a deterioração das peças do museu está ainda pior.

Passados os anos, parece que apenas a natureza se esforçou para mudar alguma coisa naquele lugar. Pneus murchos, vidros já verdes de tanto limo, a ferrugem avançou demais e ameaça seriamente a estrutura dos ônibus, cujos vidros laterais estão caindo e seus interiores viraram depósito de tralhas. O teto de um dos ônibus parece pender para um dos lados… O caminhão teve sua caçamba de madeira desmontada e, besteira dizer, parece até triste, olhando para a rua e vendo o tempo passar enquanto se desmancha. Os tratores e outras máquinas mais robustas parecem resistir um pouco mais, mas ainda assim sentem a ação do tempo. Senti falta de alguns motores que havia antes no lado de fora do museu (duvido que estejam agora na parte interna do prédio). Em resumo, e sem exageros: a parte externa do prédio parece um ferro-velho, uma coleção grotesca de sucata, e receio que algumas destas peças não tenham mais condições estruturais para uma restauração decente.

Vale destacar: a Estrada União e Indústria foi inaugurada em junho de 1861. Fará daqui a alguns meses, portanto, 150 anos. Sem muitos motivos para comemorações.

Pelo visto, ninguém se responsabiliza por este patrimônio que vai se perdendo… E todos nós perdemos também.

Abraços

André Grigorevski