Blog do Flavio Gomes
Stock Car

ASSUNTO ENCERRADO

SÃO PAULO (enche, como enche…) – Vou procurar ser o mais bem-educado possível ao relatar os fatos que seguem. Ontem, recebi de um leitor um monte de fotos dos restos do carro de Gustavo Sondermann largados em Interlagos, perto das caçambas de lixo. O autódromo está um nojo, e não me espanta que nove dias […]

SÃO PAULO (enche, como enche…) – Vou procurar ser o mais bem-educado possível ao relatar os fatos que seguem.

Ontem, recebi de um leitor um monte de fotos dos restos do carro de Gustavo Sondermann largados em Interlagos, perto das caçambas de lixo. O autódromo está um nojo, e não me espanta que nove dias depois do acidente estas tristes lembranças da morte de um piloto ainda estejam lá.

Mandei as fotos para meu editor, o Victor Martins, que encarregou nossa repórter, Evelyn Guimarães, de escrever um texto sobre o assunto. O texto está aqui. Tem 11 parágrafos. Apenas o primeiro faz referência ao mórbido entulho. Os outros dez relembram tudo que aconteceu, a repercussão, as consequências. Para contextualizar o assunto. Não há uma palavra sequer que insinue que Sondermann morreu por causa de uma eventual fragilidade do carro da Copa Montana. Nada.

Muito bem.

No final da tarde, Zequinha Giaffone, que me telefonara no início da semana passada para falar sobre o assunto e fazer o mesmo convite que seu irmão Felipe fez por escrito aqui no blog, para visitar a fábrica onde os carros são feitos, ligou para a Evelyn. Irritado, foi bastante rude com minha repórter. Não sei o teor exato da conversa, porque não temos o hábito de gravar telefonemas. Depois de ouvir alguns impropérios, ela me ligou razoavelmente nervosa para perguntar o que fazer diante da ira de Zequinha, que nos acusou de prejudicar seu trabalho, o trabalho de construção dos carros, e disse que o chassi estava em poder da polícia, ou algo assim, e que as fotos mostravam apenas pedaços carenagens e não sei mais o quê.

De fato, as fotos mostram apenas pedaços de carenagens. O texto, aliás, diz isso também. Quem fez críticas a esse desleixo, a esse abandono inaceitável de pedaços de carro que poderiam ajudar numa investigação completa do acidente, fui eu hoje de manhã neste post aqui. Não foi a Evelyn, que apenas escreveu um texto bastante completo sobre o acidente, sem nenhum juízo de valor, sem emitir opinião nenhuma. Texto que contém, por exemplo, o parágrafo abaixo, que nada tem a ver com os restos da carenagem:

Ainda em resposta ao grave acidente, a CBA também confirmou a formação de uma comissão de segurança, além de promover uma investigação minuciosa das causas do acidente. A informação foi confirmada ao Grande Prêmio por Paulo Gomes, que integra a diretoria da CBA. “A CBA também vai investigar esse acidente. Vamos fazer um trabalho muito minucioso, para saber todas as causas. Essa investigação será conduzida como são feitas as investigações de acidente de aeronaves. Vamos usar os mesmos critérios”, disse Paulão.

O incomum grifo em vermelho é meu.

As investigações de acidente de aeronaves não descartam pedaços de fuselagem no lixo. Qualquer peça é importante, pode revelar causas, pode orientar medidas futuras. As investigações que a CBA diz que vai fazer (e não vai) não deveriam descartar nada, absolutamente nada. Como descartar, por exemplo, o parabrisa, mesmo depois de tantos testemunhos de pilotos que disseram ser impossível enxergar qualquer coisa nesses carros quando chove?

Portanto, o que publicamos é mais do que pertinente. Não estamos minimamente preocupados com quem faz os carros, ou com quem não faz. Se eles vêm de Cotia ou de Marte. Se os donos da fábrica são Giaffones ou Matarazzos. Estamos, apenas, mostrando que o discurso da seriedade das investigações, sempre proferido à farta depois de acidentes como o de Sondermann, não passa disso: discurso, cascata, mentira.

O descaso com enormes pedaços do carro no qual Sondermann morreu não tem justificativa alguma. Não importa se são só restos de carenagem. Podia ser um parafuso, apenas. Numa investigação séria, deveriam ter sido preservados. Pode ser até que não sirvam para nada, mas isso quem tem de dizer é um perito, e não os garis de Interlagos. E não vai haver perícia alguma.

O texto da Evelyn não aponta o dedo para ninguém. Não menciona a JL, empresa dos Giaffone. Não atribui a ninguém em especial a responsabilidade pelo descarte de peças que, numa perícia de verdade, numa investigação de verdade, deveriam, sim, ser tratadas com cuidado e zelo absolutos.

Muita gente tem me perguntado se eu, ou alguém do site, vai aceitar o convite feito para conhecer a fábrica. Depois do que aconteceu hoje, respondo que declinamos do convite. Não seria muito útil. Não tenho conhecimento de engenharia e projetos para ver carros de corrida sendo montados e afirmar se são seguros, ou não. Quem tem de visitar a fábrica é a polícia, acompanhada de engenheiros capazes de produzir laudos técnicos confiáveis. Que poderia também visitar a Vicar, organizadora do campeonato. E poderia dar uma passadinha na sede da CBA, que o chancela. Não para prender ninguém. Mas para descobrir se as coisas estão sendo feitas como deveriam. Para evitar que mortes como a de Sondermann se repitam.

Mas não vai acontecer nada, esqueçam. No máximo, vão nos telefonar de novo. Peço apenas aos queixosos que não aborreçam meus repórteres com telefonemas raivosos. Eles não têm culpa de nada e estão apenas cumprindo sua missão de informar. Se quiserem incomodar alguém, liguem para mim. No horário comercial.