Blog do Flavio Gomes
F-1

XINGLINGS (4)

SÃO PAULO (nessun dorma) – O GP da China teve vários protagonistas. E apesar da fricção (esse “c” mudo ainda existe?) intensa, um único abandono, de Alguersuari — ficou sem a roda depois de um pit stop. Nenhuma pancada feia, nenhuma defesa de posição desleal, nenhuma porta fechada na base da falta de educação. Só […]

SÃO PAULO (nessun dorma) – O GP da China teve vários protagonistas. E apesar da fricção (esse “c” mudo ainda existe?) intensa, um único abandono, de Alguersuari — ficou sem a roda depois de um pit stop. Nenhuma pancada feia, nenhuma defesa de posição desleal, nenhuma porta fechada na base da falta de educação. Só Pérez se estranhou com alguém da Force India, creio que Sutil. Mas foi tudo na buena.

Vettel não ganhou porque sua má largada levou a Red Bull a repensar a estratégia de três paradas. Encaixotado em terceiro, Tião Alemão foi para dois pit stops e terminou a corrida com pneus duros e lerdos. Enquanto isso, Webber veio lá de trás e foi o cara do domingo. Depois de um vexame daqueles no sábado, largou em 18° com pneus de pau, deixando para usar os jogos macios nas três paradas. No fim, voava. Foi passando todo mundo, até chegar ao pódio. Mais umas três voltas, ganharia a corrida.

A estratégia de duas paradas também se revelou um fiasco para a Ferrari. Alonso largou mal de novo e ficou mais tempo do que deveria na pista com pneus macios em petição de miséria. Massa, que largou muito bem, se viu numa boa situação na segunda metade da prova, perto de Vettel e com uma parada a menos do que a maioria, o que me levou a pensar até que poderia brigar pela vitória. Mas os pneus duros depois do segundo pit stop fizeram dele uma presa fácil para uma fila de carros no final. E terminou em sexto. De bom, para o brasileiro, o fato de ter chegado na frente de Fernandito. E ter andando um bom tempo com o espanhol no cangote, sem que ninguém na equipe esboçasse qualquer papagaiada.

Hamilton merece um parágrafo à parte. Quase nem largou. Momentos antes de sair para o grid a equipe descobriu um vazamento de gasolina. Os mecânicos gastaram toneladas de papel toalha para enxugar o carro. Saiu dos boxes no talo, e imagino a tensão no grid para arrumar tudo. Quando largou, no entanto, deixou os problemas para trás. Foi aquele Hamilton de encher os olhos, combativo, decidido, sem desistir nunca. É, os ingleses também não desistem nunca. Estava muito emocionado no pódio. Foi daquelas vitórias de equipe, mesmo. Seus mecânicos tiveram uma atuação espetacular. E Lewis os recompensou com uma pilotagem exuberante.

A Red Bull continua favorita ao título. O desempenho de Webber é o suficiente para demonstrar que seu carro é melhor que os outros. Mas o time tem um calcanhar de Aquiles (afinal, qual era o problema do calcanhar de Aquiles? Doía quando trotava? Ou fazia bolha quando ele usava tênis novos?): o KERS.

Ainda não li as declarações dos pilotos, mas suponho que o KERS de Vettel não funcionou como deveria na largada. E, na corrida, desconfio que estava desligado. É algo que, em algumas pistas, pode ser fatal. Afinal, são uns 80 cavalinhos a mais que fazem falta quando é preciso se defender de alguém faminto como Hamilton. A equipe vai ter de encontrar alguma solução. Esse KERS rubrotaurino das três primeiras corridas do ano me pareceu meio xingling.

Menções honrosas também devem ser feitas, nesta prova de Xangai, a Schumacher e Kobayashi, além de Rosberguinho. Kovalainen também merece ser citado. Chegou na frente de Pérez (OK, o mexicano pagou uma punição, mas azar dele) e de Maldonado. A Williams deve se preocupar bastante com isso. Se começar a tomar da Lotus, é porque a coisa está realmente feia. Outro que não pode ser esquecido é o glorioso Karthikeyan. O indiano conseguiu terminar a prova com apenas uma parada. Devagar e sempre, com tempos de volta altíssimos. Mas chegou, uai, e coladinho em Liuzzi — que fez três pit stops.

Agora, algumas semaninhas de folga até a Turquia. A primeira fase do campeonato deixa um saldo bem positivo. Nunca tantos passaram tantos em tão pouco tempo. Para quem reclamava que isso andava em falta, só resta comemorar.