Blog do Flavio Gomes
F-1

BARCELONETAS (4)

SÃO PAULO (coisa rara) – A alegria de Alonso com o quarto lugar no grid, em que pese a denúncia grave de Gola profonda aí embaixo, de que corre solto na Ferrari um esquema de apostas interno, dá bem a dimensão do que está acontecendo na F-1 nesta temporada. A Red Bull é hoje o […]

SÃO PAULO (coisa rara) – A alegria de Alonso com o quarto lugar no grid, em que pese a denúncia grave de Gola profonda aí embaixo, de que corre solto na Ferrari um esquema de apostas interno, dá bem a dimensão do que está acontecendo na F-1 nesta temporada. A Red Bull é hoje o que foi a Williams em 1992 e 1993, ou a Ferrari em 2002 e 2004. É um outro campeonato, outra liga, outro mundo. Assim, Alonso sabe que sua disputa é com a McLaren. E ficar à frente de uma delas, mesmo tendo um carro pior, é uma façanha e tanto. Ainda não li as declarações de Fernandinho, mas tenho certeza que ele dirá que fez uma das melhores voltas de classificação de sua vida. E, mesmo assim, ficou a quase um segundo do pole, Webber. Para Hamilton, a diferença foi de apenas 0s003.

Alonso vai brigar pelo pódio amanhã, tirando leite de pedra mais uma vez e provando que a Ferrari acertou ao esticar seu contrato até depois do fim do mundo, que como se sabe termina no ano que vem — essa história de que iria acabar hoje foi apenas um factoide. A corrida legal de Barcelona será entre Alonso e a dupla da McLaren. A Red Bull vai fazer uma dobradinha sossegada, se nenhum dos dois errar na largada e se os pit stops forem tranquilos.

O top 10 de hoje teve um Petrov admirável em sexto com o Lada preto e um Maldonado idem, em nono. Fala-se muito mal desse rapaz venezuelano, mas ele tem seus bons momentos. É esforçado. E colocar essa carroça da Williams no Q3 é algo digno de aplausos. Foi a primeira vez no ano, diga-se. Barrichello ficou no Q1 com uma nova modalidade de problema: câmbio incoerente.

Há que se destacar, também, a gradual conversão da Lotus verde em equipe de verdade. Kovalainen foi ao Q2 e larga em 15º à frente dos dois carros da Force India — que adotou uma tática estranha de pneus duros no Q2. Aos poucos, a equipe vai deixando o grupo das nanicas absolutas, vitalícias no Q1.

E merece uma palavrinha a tática de Schumacher para a corrida. Com um problema no KERS, ele não fez tempo no Q3. Mas saiu dos boxes com pneus duros, e voltou. Isso significa que vai largar com esses pneus amanhã, o único entre os dez primeiros. Isso deve lhe render algumas boas posições até a primeira bateria de pit stops e, depois disso, será aquele com maior quantidade de pneus macios para a corrida. No ano passado, ele terminou em quarto na Espanha, seu melhor resultado desde a volta à F-1. É o que irá buscar de novo. Pódio é difícil, mas não se pode negar que a ideia foi boa.

Mas nada boas estão as classificações. Essa história de guardar pneu é legítima e absolutamente razoável, porque as diferenças entre os dois compostos são gritantes. Os pneus de pau que a Pirelli levou a Barcelona são mais de 2s mais lentos por volta que os macios. É uma aberração gigantesca. E por causa disso não se vê mais briga alguma no Q3. Hoje, Vettel abriu mão de tentar tirar a pole de Webber para não gastar mais um jogo. E também não tinha o KERS, por isso seria uma tentativa em vão. Schumacher não fez volta rápida. Massa teve de se contentar com uma volta ruim. Ninguém fez duas tentativas no Q3. A Force India sacrificou o grid usando pneus de pau no Q2 para guardar os bons para a corrida. Desse jeito a classificação perde o sentido.

É algo que dá para aprimorar. Já que virou tudo uma zona, mesmo, que se mexa nos sábados, para que a economia de borracha não se sobreponha à disputa pelas melhores posições no grid.