Blog do Flavio Gomes
Brasil

FAÇA-SE A LUZ

SÃO PAULO (e chega de reclamar) – Sobre a AES Eletropaulo (prometo que é o último de hoje sobre casos extrapista), é o seguinte. Pago contas de luz há mais tempo do que me lembre. A conta chega, você paga e pronto. Atrasou um ou dois dias? Paga e a multa vem na fatura seguinte. […]

SÃO PAULO (e chega de reclamar) – Sobre a AES Eletropaulo (prometo que é o último de hoje sobre casos extrapista), é o seguinte. Pago contas de luz há mais tempo do que me lembre. A conta chega, você paga e pronto. Atrasou um ou dois dias? Paga e a multa vem na fatura seguinte. Esqueceu de pagar, viajou, o boleto não chegou? Vem na fatura seguinte e pronto.

Era assim.

Ontem recebo uma correspondência da (do?) Serasa Experian. As pessoas tremem só de ouvir o nome: Serasa.

Trata-se, até onde vai minha compreensão, de uma empresa de dedoduragem que, ao que parece, serve de guia para o comércio e outras áreas da vida econômica nacional. Ter o nome no (na?) Serasa significa ser caloteiro, mau pagador, pilantra, picareta. É assim que o mercado vê quem tem o nome no (na?) Serasa.

Pois bem. A conta de luz de junho chegou e caiu em alguma pilha de papéis que por alguma razão não chegou às minhas mãos. Eu pago algumas dezenas de boletos e contas por mês. Não controlo direito, porque é muita coisa. O ônus é meu, óbvio. Se não paguei no dia certo, pago com multa. Assumo minha desorganização, que nem é tão grande assim. Conto nos dedos os atrasos das contas da minha vida.

A AES Eletropaulo, esse exemplo de empresa eficaz e prestativa, mandou meu nome para o (a?) Serasa. Que, por sua vez, me avisou que se eu não pagar a porra da conta até não sei quando, meu nome, com CPF, endereço, telefone, cor dos olhos e tamanho do pau será incluído em seus cadastros. Portanto, serei oficialmente um caloteiro.

Achei a conta e paguei. Exatos R$ 172,34 para essa empresa vagabunda que não consegue manter a eletricidade na cidade quando chove. Que tem a coragem de mandar para os alcaguetes do (da?) Serasa o nome de um consumidor que há 30 anos paga suas contas de luz religiosamente. E que na primeira falta recebe como prêmio a ameaça de ser transformado em caloteiro oficial.

Dia desses cheguei em casa por volta das seis da tarde e não tinha luz. Ventos fortes. Subi 11 andares de escada e passei a noite às velas. Acordei no dia seguinte sem luz. Desci 11 andares de escada. Não sei a que horas a energia voltou. Sei que por mais de 24 horas um dos funcionários do prédio teve de ficar na garagem, sentado numa cadeirinha, abrindo e fechando o portão. Perdeu suas horas de folga, de sono, de vida. Porque a AES Eletropaulo não conseguiu fazer a luz voltar. Em alguns bairros, naquela ocasião, foram dias sem energia. No meu, pouco mais de 24 horas. Sou um privilegiado.

Aí a empresa tem a coragem de mandar para o (a?) Serasa o nome de alguém que esqueceu de pagar a conta.

Nessas mais de 24 horas sem luz, alguns ovos se estragaram na minha geladeira, e não tive coragem de tomar meus Chamytos, nem de comer as salsichas que iria cozinhar para colocar no macarrão se tivesse luz para enxergar as panelas. Apesar disso, de a AES Eletropaulo me dever alguns ovos, alguns Chamytos e algumas salsichas, não mandei o nome dela para o (a?) Serasa. Deveria. Mas posso, se preferirem, sugerir o que fazer com as salsichas.