Blog do Flavio Gomes
Brasil

TICKETS FOR FUCK (2)

SÃO PAULO (prestação de contas) – Me telefonaram da Tickets For Fun. Alguma alteração no sistema foi feita, porque segundo a atendente de ontem, o sistema não deixava ninguém me ligar. Lígia, o nome da moça. Gerente, ou diretora, de atendimento. Algo assim. Foi muito simpática, solícita e, principalmente, paciente. Porque ouviu um discurso fervoroso […]

SÃO PAULO (prestação de contas) – Me telefonaram da Tickets For Fun. Alguma alteração no sistema foi feita, porque segundo a atendente de ontem, o sistema não deixava ninguém me ligar. Lígia, o nome da moça. Gerente, ou diretora, de atendimento. Algo assim. Foi muito simpática, solícita e, principalmente, paciente. Porque ouviu um discurso fervoroso deste que vos bloga.

Pois vamos lá. Primeiro, ela disse que não é padrão da empresa o atendimento que recebi etc. Que a atendente seria “reorientada”. Perguntei se tinham mandado a moça embora por causa disso e ela garantiu que não. Espero que não, mesmo. Porque a culpa de a atendente atender daquele jeito não é dela, é da empresa que a orienta a ser robótica daquele jeito. Isso é coisa que vem de cima, de quem está cagando para a atendente e para o atendido. E me disse, a menina Lígia, que os ingressos seriam entregues em casa até as 17h de hoje. OK, resolvido o meu problema.

O meu. Mas não o problema.

É óbvio que esse, digamos, atendimento diferenciado só ocorreu porque sou quem sou, porque saio berrando no blog e no Twitter, e que essas coisas têm alguma repercussão. Não me orgulho miminamente disso. Deveria ser assim com todo mundo. Respeito e preocupação em atender bem.

Realmente, como pontuaram alguns blogueiros, errei ao mencionar na mensagem que mandei terça-feira para a empresa que sou jornalista da ESPN e que conheço Fulano e Cicrana que trabalham lá. Tem jeito, mesmo, de “olha lá que sou fodão, hein?”. Mas, de qualquer forma, não foi isso que levou a empresa a me telefonar. Porque a resposta àquela reclamação foi automática, padronizada: ligue para o telefone tal e se vire.

O que levou a me ligarem foi a reação das pessoas no Twitter, que é um bom termômetro, e aqui no blog. Claro que isso bateu em algum pica-grossa lá dentro e devem ter dito: atendam esse pentelho logo que ele para de encher o saco.

À menina, Lígia, eu disse o seguinte: leia os comentários no blog. Não precisa nem ler o que eu escrevi; leia os comentários. Porque é isso que deveria deixar deprimidos todos os que trabalham nessa empresa. Foi o que eu disse. Como é que vocês conseguem trabalhar sossegados numa empresa que tem essa imagem junto ao público? Eu daria um tiro na cabeça se lesse mais de 300 comentários de internautas esculachando minha empresa sem dó, nem piedade. E com 100% de razão em suas reclamações.

A pergunta que fica é: a solução do problema seria tão rápida se eu não tivesse um blog muito visitado? Creio que não, embora a menina, Lígia, tenha sugerido que sim, que a empresa se preocupa em atender bem seus clientes. Lamento, mas os comentários não me levam a crer que isso seja verdade.

Sendo assim, sugiro que todos os usuários desse serviço passem a exigir dele o mesmo tratamento que eu tive. Que mencionem o caso do Flavio Gomes, que berrou feito um cabrito histérico e fez com que o sistema fosse mandado à merda. Porque é claro que dá para mandar o sistema à merda, ele não pode se sobrepor à ação humana, à disposição de uma empresa de atender bem quem está pagando por seus serviços. Não precisei recorrer ao Procon, nem a um advogado, nem a um tribunal de pequenas causas, o que é ótimo  — porque não tenho saco, nem tempo para isso. Mas essa não é a regra. É a exceção das exceções.

Disse à menina, Lígia, que os comentários dos blogueiros deveriam servir de lição para a empresa. Para seus funcionários e proprietários. Deveriam imprimir tudo e colocar nas paredes. Disse a ela que é horrível, trágico, saber que um caso idiota desses só teve um desfecho rápido porque tenho sei lá quantos mil leitores. Cuidem dessa gente, disse eu à menina Lígia. Tratem-nos com respeito, como consumidores que são. E, sendo sincero, duvido que esse episódio vá mudar muito as coisas. Fosse eu o dono, ou um diretor, supervisor, gerente, atendente, dessa empresa, usaria o caso para mudar de postura, de atitude, de posição diante das pessoas que usam os serviços que presto. Mas será que isso vai acontecer? Que vai virar um “case” a ser discutido na próxima reunião do “board”?

Duvido.

Há alguns dias, ligou aqui no escritório uma menina dizendo que tinha comprado o Almanaque WARM UP e que a revista não tinha chegado à sua casa. Eu atendi o telefone. Não perguntei nada, o número da compra, o dia do depósito, o registro do comprovante, nada. Pedi apenas seu endereço, desculpei-me pelo inconveniente, levantei da cadeira, dei quatro passos, peguei um envelope, coloquei a revista dentro e mandei pelo correio. Não sei o que aconteceu com a remessa original, se extraviou, se estava num avião que caiu, se alguém jogou no lixo. Meu prejuízo, se houve, foi de um Sedex e uma revista. É muito pouco diante do desconforto dela, a cliente, que teve de procurar meu telefone, ligar para São Paulo (ela é do Rio), cobrar aquilo que já tinha comprado e que por alguma razão não foi entregue. Pode ser até que dias depois tenha chegado a sua casa uma segunda revista. Ótimo, fique com duas. Ela reclamou com uma pessoa de carne e osso, que a atendeu e resolveu seu problema. É assim que as coisas deveriam funcionar.

Claro que comparar minha empresa nanica a uma gigante que vende milhares de ingressos pela internet pode parecer exagero. Mas é um exemplo. Minha empresa produz conteúdo jornalístico e duas vezes por ano vende revistas pela internet. É aquilo a que nos propomos, e fazemos. Se a Tickets For Fun tem como principal atividade promover shows e encher as burras com a venda de ingressos, que o faça com honestidade de princípios e respeito aos clientes. Caso contrário, que faça outra coisa.

Quanto à tal taxa de conveniência, concordo 100% com os blogueiros. Essas empresas são, na prática, cambistas oficiais. É um negócio vergonhoso, não sei como os órgãos de defesa do consumidor permitem que isso seja feito. Qual a diferença entre pagar a taxa de conveniência sobre um ingresso pelo qual já se está pagando um valor determinado e comprar uma entrada de um jogo de futebol na porta do estádio de um cambista 171 pagando ágio sobre o preço original? Nenhuma. O ingresso que comprei não custa 260 reais (inteira), como informa o site. É mentira. Você só vai saber quanto é a tal taxa de conveniência quando fecha a compra. No caso dos meus ingressos, 156 reais divididos por 4 dá 39. O ingresso, então, custa 299. É uma afronta, fico imaginando o dono da empresa gargalhando quando entra essa grana limpa, fácil, na conta. Assim como aquela picaretagem de cartão de crédito que te cobra 5 reais por mês de seguro sei lá das quantas. Se a empresa tem um milhão de clientes, são 5 milhões por mês limpinhos, sem custo algum. E se você não quer pagar, tem de ligar, esperar as gravações, falar com atendentes, perder um tempo desgraçado.

O capitalismo é, sim, uma selvageria.

Bem, assunto encerrado por enquanto. A próxima vítima é a AES Eletropaulo. Volto já.