Blog do Flavio Gomes
Nas asas

MINUTO DE SILÊNCIO

SÃO PAULO (não acredito) – Para informar que depois de 66 anos voando, a companhia húngara Malév anunciou hoje sua insolvência e parou de operar todos seus voos a partir de Budapeste. A companhia já foi estatal, privada, multinacional, e hoje é de novo controlada pelo goberno da Hungria. Jamais vou compreender os meandros da […]

SÃO PAULO (não acredito) – Para informar que depois de 66 anos voando, a companhia húngara Malév anunciou hoje sua insolvência e parou de operar todos seus voos a partir de Budapeste.

A companhia já foi estatal, privada, multinacional, e hoje é de novo controlada pelo goberno da Hungria. Jamais vou compreender os meandros da economia globalizada que extingue até uma empresa que pertence a um país. Mas jamais, da mesma forma, vou me conformar com a frieza com que essas coisas são tratadas.

Voe para o paraíso, minha querida Malév, com suas lindas aeromoças de vestidos curtos, pernas longas, batom carmim e cabelos negros. Voe para o paraíso com o inigualável charme do Leste, em suas aeronaves soviéticas que carregaram nossos camaradas por décadas a fio.

Nunca vou me esquecer do velho terminal 1 do aeroporto de Ferihegy  — palavra que eu julgava querer dizer “aeroporto”, mas nada mais era que uma corruptela de “montanhas de Ferenc”, sendo “Feri” um apelido carinhoso para Ferenc, e “hegy”a palavra para “montanhas”, já que aquelas terras pertenciam a Ferenc Mayerffy no século 19 e a colina foi removida para a construção do aeroporto nos anos 40). Me interesso por nomes de aeroportos, por isso não me julguem.

O terminal antigo, meio cinzento, escuro, com balcões de madeira e espiões por todos os lados. Eu, pelo menos, via espiões por todos os lados. A fila do visto, os dólares trocados por forints, o primeiro Lada alugado de um sujeito que me levou à periferia de Budapeste para entregar o carro diante de pagamento cash, os moleques orelhudos, os acrílicos coloridos.

O mundo perde a graça a cada dia que passa.