Blog do Flavio Gomes
Brasil

:-(

SÃO PAULO – Para quê palavras, não é mesmo? Vamos rir. Ou chorar, chorar de rir. Chico começou a fazer rir em 1947. A Segunda Guerra tinha terminado dois anos antes. É portanto, parte da vida de todos que estamos vivos. Todos. Mesmo os mais novos, que hoje dão risadas menos nobres e sutis com […]

SÃO PAULO – Para quê palavras, não é mesmo? Vamos rir.

Ou chorar, chorar de rir.

Chico começou a fazer rir em 1947. A Segunda Guerra tinha terminado dois anos antes. É portanto, parte da vida de todos que estamos vivos. Todos. Mesmo os mais novos, que hoje dão risadas menos nobres e sutis com um humor que não é nem uma coisa, nem outra. Que é fácil, e por isso pobre e bobo, desnecessário e irrelevante.

Seus mais de 200 personagens moldaram a personalidade do Brasil, mais, até, do que reproduzi-la. Quando não nos víamos imediatamente em Chico City ou na Escolinha, descobríamos em pouco tempo que éramos nós, sim, ali. Num país que tem muitas caras, ele foi o único que conseguiu interpretar todas. Todos os macunaímas que somos.

Chico fumou, bebeu, cheirou, trepou, brigou, gritou, agonizou, voltou, criou. Criou o tempo todo com uma genialidade incomum. O Brasil, que todos achamos espetacular e genial, não produziu grandes gênios universais, não. Um ou outro, e Chico está nessa meia-dúzia. “Não posso consertar nada, mas tenho obrigação de denunciar tudo.” Fez isso a vida inteira, da maneira que mais irrita os medíocres: rindo deles.

Chico não foi herói, nem anti-herói. Nunca quis ser exemplo de nada, nunca veio a público com discursos panfletários para defender isso, ou aquilo. Passou a vida cuidando da felicidade dos outros, e pode haver uma existência mais essencial do que essa?

Quando olhamos para todos os Chicos que Chico foi, sentimo-nos todos Chicos. Todos fomos ou somos Salomé, Bozó, Bento Carneiro, Pantaleão, Alberto Roberto, Coalhada, Washington, Urubulino, Véio Zuza, Roberval Taylor, Professor Raimundo, Nazareno, Justo Veríssimo, Nicanor, Linguinha, Painho, e fomos também seus alunos na Escolinha, todos eles, todos somos um pouco de Chico, mas só ele foi capaz de ser todos nós.

Somos todos filhos de Francisco, e por isso estamos tristes hoje.