Blog do Flavio Gomes
Brasil

A VEREADORA E O TELEGRAMA

SÃO PAULO (minha parte fiz) – A história do telegrama da vereadora Edir Sales teve alguma repercussão e foi parar hoje no jornal “Agora”. De acordo com a reportagem, a vereadora informou que não vai mais mandar telegramas de condolências a ninguém. Uma repórter da “Folha de S.Paulo”, do mesmo grupo, também telefonou, mas não […]

SÃO PAULO (minha parte fiz) – A história do telegrama da vereadora Edir Sales teve alguma repercussão e foi parar hoje no jornal “Agora”. De acordo com a reportagem, a vereadora informou que não vai mais mandar telegramas de condolências a ninguém. Uma repórter da “Folha de S.Paulo”, do mesmo grupo, também telefonou, mas não saiu nada no jornal. O blog do Marcelo Duarte, no “Estadão”, também abordou o tema.

Para encerrar o assunto, ao menos do meu lado, porque não tenho muito saco para levantar bandeiras e tremulá-las se não houver vento, seguem duas trocas de e-mail de modo que esse assunto seja tratado com toda transparência, já que o tornei público. Uma com a jornalista Kátia Leite, editora da “Folha de Vila Prudente”, bairro da Zona Leste, reduto eleitoral da vereadora, que pertence ao partido do prefeito Kassab, o PSD. Ela está preparando uma reportagem sobre o caso entrou em contato com a assessoria da política.

Já questionei a assessoria da vereadora que imediamente respondeu que ela tem um cadastro de mais de 12 anos, no qual você está incluído. Ainda de acordo com a assessoria da vereadora, a explicação para ela saber do falecimento da sua sogra é a seguinte:

“A assessoria da vereadora foi informada do acontecimento através de manifestação direta de um munícipe que soube do caso e sugeriu ao gabinete o envio dos pêsames. Ao constatar a presença do jornalista em nosso cadastro e, por se tratar de uma figura pública e pertencente ao meio jornalístico, no qual a vereadora atuou por anos como radialista, a assessoria achou pertinente o envio do telegrama. Porém, diante da reação do jornalista Flávio Gomes, a vereadora ordenou a suspensão do envio deste tipo de telegrama a quem quer que seja.”

Respondi à jornalista com uma declaração formal (chiquérrimo, isso) que pedi que fosse publicada na íntegra, se possível. Segue (desculpe, Kátia, se me antecipo ao jornal, que não sei quando circula; mas relaxe, seus leitores, provavelmente, também não sabem que eu existo):

É mentira. Desafio a vereadora a dizer qual foi o munícipe que falou com ela sobre a morte da minha sogra. E se faço parte do ‘cadastro’ da vereadora, gostaria de saber como fui parar nele. O prestativo munícipe que informou a vereadora talvez tivesse sido mais gentil se recomendasse a ela que enviasse um telegrama à minha ex-mulher, não a mim. Não conheço a vereadora, nem como política, nem como radialista. Nunca tinha ouvido falar dela e jamais tivemos qualquer contato profissional. Meus dados, neste triste caso, só foram fornecidos ao Serviço Funerário Municipal. Só eu, da família, recebi telegrama de condolências da vereadora, ninguém mais. Porque só eu forneci endereço, ao cuidar dos trâmites necessários para liberação e transporte do corpo. Trata-se de invasão de privacidade, subtração de dados que supostamente são sigilosos, fornecimento ilegal de informações, mau uso de dinheiro público. Não conheço a vereadora, minha sogra não a conhecia, ninguém da família conhece. A mim parece claro que a vereadora ou alguém em seu gabinete tem acesso aos dados de todas as pessoas que preenchem cadastros no Serviço Funerário para cuidar das questões relativas a mortes na cidade. Centenas de telegramas como esse devem ser enviados diariamente a familiares ou amigos que preenchem a documentação necessária no sistema do Serviço Funerário. E não me parece apenas uma coincidência o fato de a vereadora pertencer ao partido do prefeito, que controla o Serviço Funerário Municipal.

Agora pela manhã a vereadora me enviou um e-mail, que torno igualmente público porque considero justo lhe dar a palavra, já que ela se explica sobre o assunto. Vai na íntegra:

Prezado Senhor FLÁVIO GOMES,

Chegou ao meu conhecimento, através da imprensa, a sua indignação com o telegrama de condolências enviado pela minha assessoria em decorrência do falecimento de sua sogra.

Lamento profundamente o ocorrido, sobretudo porquanto a verdadeira intenção, quando da expedição do telegrama, era a de exprimir a Vossa Senhoria, cuja notoriedade pública fez com que seu estado de luto chegasse ao conhecimento de meus assessores, votos de pesar e solidariedade com este momento tão delicado que atravessa juntamente com seus familiares.

Entretanto, para minha tristeza, a manifestação formal através do telegrama enviado acabou gerando inconveniências, o que me leva a expressar minhas sinceras desculpas e a informá-lo que tão logo soube do acontecimento determinei à minha assessoria que suspendesse definitivamente o envio de quaisquer novos telegramas de condolências, a partir da presente data, a quem quer que seja.

Vereadora Edir Sales

Respondi à vereadora, também por e-mail, e acho justo que vocês leiam:

Prezada vereadora,

O que tinha a dizer sobre este assunto, já disse no meu blog. A inconveniência, neste caso, foi saber que dinheiro público foi usado para exprimir condolências a um ilustre desconhecido de V.Sa. a partir de dados fornecidos ao Serviço Funerário Municipal. A afirmação de que meu “estado de luto” chegou aos seus assessores é inverossímil. Não os conheço e em nenhum momento tornei pública, em qualquer veículo de comunicação que trabalho, a informação sobre a morte da minha sogra. É assunto privado, particular, que não diz respeito a ninguém, exceto amigos e familiares. Não tenho o hábito de tornar públicas questões estritamente pessoais.

Agradeço seu e-mail, mas considero que V.Sa. extrapolou suas funções como representante dos cidadãos paulistanos. Minha “notoriedade pública” não justifica gasto algum de dinheiro da cidade que, por menor que seja a quantia, poderia ser usado em coisas mais úteis.

Considero o assunto encerrado.

Atenciosamente

Flavio Gomes

PS: uma vez que este episódio tornou-se público, informo que sua mensagem e esta réplica serão publicadas no meu blog para que meus leitores (e eventualmente alguns de seus eleitores) tenham conhecimento da conclusão do caso, e para que sua resposta tenha exatamente o mesmo espaço que teve meu post original.

Muito bem. Todos os lados se manifestaram, que cada um faça agora seu julgamento. O meu eu já fiz, está no post que publiquei aqui na madrugada de sábado. Não retiro, nem acrescento uma vírgula. Sobre a mensagem enviada pela vereadora, sigo intrigado com a notória publicidade do meu “estado de luto”, que nunca foi tornado público por minha “notoriedade”. Até receber o telegrama, não escrevi uma linha, nem disse uma palavra em público sobre a morte da minha sogra  — que não é, ou pelo menos não era, tema de interesse de ninguém, além da minha família e dos nossos amigos. E se por conta desse fuzuê todo esses telegramas cessarão, ótimo.

No mais, meu nome não tem acento. Arrumem no cadastro.