Blog do Flavio Gomes
F-1

HISPÂNICAS (2)

SÃO PAULO (Chávez na cabeça) – Imagino se fosse o Bruno na primeira fila. Meio “Jornal Nacional” para ele, mais meio para lembrar do tio. Feita a maldade. Aqui em Interlagos a gente fala muita maldade. Mas sejamos francos: que baita resultado de Maldonado. É o que sempre digo. Há pagantes e pagantes. Muito piloto […]

SÃO PAULO (Chávez na cabeça) – Imagino se fosse o Bruno na primeira fila. Meio “Jornal Nacional” para ele, mais meio para lembrar do tio.

Feita a maldade. Aqui em Interlagos a gente fala muita maldade.

Mas sejamos francos: que baita resultado de Maldonado. É o que sempre digo. Há pagantes e pagantes. Muito piloto que, ao longo da história, desembolsa uns cobres para correr e não dá em nada. E outros que valem o investimento. Da turma atual, Grosjean e Pastor são dois deles. Para não falar de Pérez, encaminhadíssimo para a Ferrari em 2013.

Digo isso porque Maldonado costuma ser malhado por estas bandas. É o Chávez, é a PDVSA, onde já se viu? Típica bobagem pachequista, já que Bruno também entrou na Williams com grana de patrocínios, assim como esse menino finlandês, Bottas, está chegando com grana forte da Finlândia e deve ser titular no ano que vem. A Venezuela vem investindo forte em automobilismo, via PDVSA. Quando tiverem paciência, deem uma olhada na quantidade de pilotos do país correndo de tudo por aí.

De qualquer forma, para não dizer que pego no pé de alguém, metade do “Jornal Nacional” da TV venezuelana hoje vai ser do Maldonado. A outra metade será ocupada pelo telegrama que Fidel está escrevendo.

Mas não se trata de crucificar ninguém, apenas constatar que a fase brasileira na F-1 é de fato opaca como há muito. Bruno ficou no Q1. Na sua última tentativa, rodou. Estava sem pneus, disse. É um resultado particularmente ruim quando se olha para o desempenho do venezuelano durante todo o fim de semana. Maldonado já havia andado bem no último treino livre e liderou o Q2. Chegou a ficar na pole por alguns instantes, ao superar Alonso, até todos serem batidos por Hamilton, que enfiou mais de meio segundo no bolivariano.

E chegamos a Fernandinho, El Fodón de las Astúrias. Terceiro no grid com esse carro é quase um milagre. Olhemos para Felipe, agora: 17°, o último do Q2. E aí se tem a exata noção da diferença entre os pilotos, de como Massa está mal e só piora, de como a situação verde-amarela está black e nada beautiful. Os dois brasileiros dividem a nona fila. Seus parceiros estão em segundo e terceiro.

De novo, não se trata de pendurar ninguém em cruz alguma que porventura tenha sobrado no Monte Gólgota, mas de constatar que o protagonismo de outrora simplesmente está extinto. As estrelas são outras.

Hamilton fez sua terceira pole no ano e 22ª na carreira. A McLaren teve um dia esquisito, com Button ficando no Q2, talvez a maior surpresa do sábado entre os pilotos das equipes de ponta. A Red Bull também tem explicações a dar, depois de bons testes em Mugello e da liderança de Vettel no último treino livre. No Q3, o alemãozinho saiu dos boxes e voltou sem fechar volta. Aguardemos o que tem a dizer. Webber, como Button, ficou no Q2. Ambos podem se consolar por terem guardado alguns pneuzinhos macios para a corrida.

Assim, de lógica, mesmo, o grid de Barcelona teve Lewis na pole e os dois pilotos da Lotus mais ou menos onde se esperava que estivessem, quarto (Grosjean) e quinto (Raikkonen). Pérez em sexto e Rosberg em sétimo fecharam o grupo dos que gastaram pneus no Q3. Schumacher e Kobayashi nem saíram dos boxes — o japonês, na verdade, nem voltou depois do Q2. E Sebastian também ficou sem tempo. Isso, realmente, precisa mudar. A FIA deveria obrigar todo mundo a fechar ao menos uma volta. É algo que será discutido para o regulamento do ano que vem. Schumacher não anda no Q3 por princípios, quase. É um dos mais ferozes críticos da dependência exagerada dos pneus, da maneira como eles condicionam o estilo de pilotagem de cada um. Virou corrida de economia de borracha, não de carro no limite contra carro no outro limite. É a opinião dele, da qual não compactuo 100%, mas é preciso levar em conta qualque análise que parta de um heptacampeão mundial.

Hamilton virou 1min21s707 para cravar a 150ª pole da história da McLaren, melhor tempo disparado do fim de semana. Maldonado chegou a andar mais rápido no Q2 do que no Q3, mas não faria muita diferença. O venezuelano não deve ser considerado candidato a pódio, apesar da inédita primeira fila (sua melhor posição de largada fora um sétimo em Silverstone no ano passado). O ritmo de corrida dele e da Williams não é das coisas mais sólidas da F-1 atual, mas se ele não fizer nenhuma bobagem, pode pensar em terminar entre os seis primeiros. O pódio está mais para os dois da Lotus, com alguma chance para Alonso — que precisa contar com alguns azares dos adversários, porque em condições normais leva até da Red Bull.

A estratégia de pneus vai ser decisiva amanhã. Os duros serão usados o mínimo possível, porque seu rendimento é muito pior que o da borracha macia. Esta, por sua vez, gasta que é uma beleza. Ano passado, Vettel venceu com quatro paradas numa corrida que teve 77 pit stops. Vai ser parecido.

Daqui a pouco a gente volta.