Blog do Flavio Gomes
Corridas de clássicos

P10, P1 E P2

SÃO PAULO (tempo, tempo…) – Eu já tinha feito uma provinha de regularidade anos atrás, mas era trilha, de Troller, e foi bem bacana. Terminamos em quarto, eu e o Ricardo Lopes, meu navegador. Portanto, não dá para dizer que ficamos realmente surpresos, eu, Gerd, Jason Vôngoli e nossa amiga que foi de carona, com o […]

SÃO PAULO (tempo, tempo…) – Eu já tinha feito uma provinha de regularidade anos atrás, mas era trilha, de Troller, e foi bem bacana. Terminamos em quarto, eu e o Ricardo Lopes, meu navegador. Portanto, não dá para dizer que ficamos realmente surpresos, eu, Gerd, Jason Vôngoli e nossa amiga que foi de carona, com o resultado que obtivemos sábado no I Raid da Mantiqueira. Digamos que nos considerávamos favoritos.

E foi legal receber o telegrama do Loeb de noitinha no Hotel Serraverde, sede da prova, em Pouso Alto, nos dando os parabéns — mais uma vez o Carlos André, como anfitrião, passou dos limites de gentileza e da camaradagem.

Mas vamos falar logo da prova. Foram 28 clássicos do porte de Corvettes, Jaguar E-Type, Alfa Romeo, alguns Mercedes, alguns Porsches, um La Salle, Camaro, Mustang, enfim, uma salada completa de carros espetaculares que partiram de São Lourenço para um giro pela Mantiqueira de mais de 200 km num sábado de sol e céu azul de doer os olhos de tão lindo.

Gerdolino, com toda sua tarimba alemã-oriental, nos informou que nunca tinha participado de rali algum. Jason, meu navegador, tinha alguma experiência pilotando, não navegando. Eu, quando vi o livro de bordo cheio de tulipas, pedi um chope.

Saímos cedinho de Pouso Alto até São Lourenço. Abastecemos, 1 pra 50 (os doistempistas sabem do que se trata), e no local da largada optamos pela média de velocidade baixa. Sete o fizeram: nós, o Fusca Itamar vermelho da dupla Sérgio/Ana Maria, o MG de Max/Vitor, o Avallone do Viola, o Mustang de Anthony/Camila, a F100 de André/Selma e o La Salle de Muricy/Fernando.

Suspeito que ninguém estava apostando muito no Gerd. Talvez porque nossos equipamentos fossem um tanto quanto toscos: dois iPhones que serviram de cronômetro (esqueçam GPS, não tinha sinal), ambos com suas baterias acabando, e uma caneta que pedimos emprestada ao Mahar. Não chegou a ser usada. Mais um Marlboro e dois Trident de menta, uma caixa de fósforos, duas velas e duas boinas, além de uma bandeira da DDR e um rolinho de papel higiênico coberto com uma capinha de crochê que minha mãe costurou e que não poderia ser usado por se tratar de objeto de decoração. Com isso, julgamos que seria suficiente partir para um resultado decente.

Foram quase oito horas de raid, passando por Caxambu, Conceição do Rio Verde (onde quase nos casamos com a loirinha do Fusca bordô), Lambari, Carmo de Minas e São Lourenço de volta. Estradas ótimas e lindas, embora a paisagem fique em segundo plano nessas provas, porque a gente só olha para o velocímetro e para o cronômetro. O hodômetro não contou muito como referência porque por alguma razão o quilômetro alemão oriental é um pouco maior que o brasileiro.

O Jason foi um navegador espetacular, e a prova disso é que zeramos 8 dos 20 PCs e em 6 perdemos entre 1 e 3 pontos. Em 14 deles, pois, construímos um resultado mais do que aceitável, apenas 92 pontos perdidos no total (7 nos últimos 9 PCs, um espanto), o que nos deu a décima posição na classificação geral! Entre os que optaram pela média baixa, ficamos em primeiro. E na categoria “Futuros Clássicos”, terminamos em segundo, atrás apenas do Mazda Miata da dupla Claudio/Carlos Alberto, que perdeu 71 pontos. A vitória na geral foi de Emilio/Glicia de Corvette, meros 6 pontos perdidos.

Nos primes de Lambari e São Lourenço, Gerdolino ficou em 18°, mas poderia ser melhor se eu não tivesse feito uma ligeira cagadinha de não abrir a torneirinha da gasolina quando largamos na subida da montanha. Quando parado, todos sabem, torneirinha fechada. Aí largamos e o bichinho foi para o slalom com uma velocidade assustadora. Mas nos últimos três cones o motor apagou e lembrei do diabo da gasolina. Abri, mas ele leva alguns segundos para funcionar de novo. Paciência.

E foi o único problema do carro em 300 km de SP a Pouso Alto, mais 200 km de raid e mais 300 km de volta para casa em três dias. Todo mundo ficou besta com Gerdolino, inclusive Mestre Crispim, que voltou de carona para SP depois de participar, como navegador, no Malzoni pilotado por Jan Balder.

Agora imaginem… Esse Malzoni, que pertence ao Carlos André, foi o carro das Mil Milhas de 1966, que Jan e Emerson Fittipaldi perderam a três voltas do final quando engripou o cilindro do meio. Crispim era o chefe dos mecânicos dos cinco carros da Equipe Brasil, o último suspiro dos carros de fábrica da Vemag nas pistas: três Malzonis e duas carreteiras. É a edição mais célebre das Mil Milhas, vencida por Camillo Christófaro com a Amarela #18. Emerson, Jan, Crispim e Interlagos inteiro choraram pelo Malzoni #7 que ia vencer, mas acabou em terceiro. Crispim e Jan no mesmo carro 46 anos depois… É algo que deixa qualquer um emocionado e, sobretudo, feliz. Aliás, era só ver o sorriso dos dois durante o sábado todo para entender o que é felicidade. E para sacar como é que se deve lidar com o passado: com alegria e carinho, sem essa de ficar se lamentando que o tempo passa, o tempo voa. Deram uma aula, os velhinhos, Jan ao volante, Crispa na planilha, sem nunca ter feito um rali na vida.

Só para registrar, terminaram em 17° porque erraram na entrada de Caxambu, levando a gente junto. Foi onde perdemos mais pontos, mas depois recuperamos. Tem um descarte também e acho que no fim não pesou muito no resultado final.

Eu e o Jason (e nossa amiga) curtimos cada segundo. A parada em Lambari, no cassino desativado, foi especialmente gostosa. Almoçamos lá e ganhei de um blogueiro um pacotinho de água mineral de Cambuquira. Nas pequenas cidades, o povo na rua vendo os carrinhos foi muito legal. A região é linda e a organização foi primorosa, em todos os sentidos. É muito legal colocar antigos para rodar. Nenhum quebrou, o que é incrível. A cumplicidade piloto-navegador também é um grande barato e quando terminou, meu parceiro de Botafogo avisou: vamos fazer outros. Gerdolino é o cara.

Nas fotos lá em cima, tem material da querida e gatíssima Lúcia Simões (perfil dela no Facebook, cheio de fotos do evento, aqui; na página do seu marido Zé Rodrix Octavio, um dos organizadores, também gatíssimo, mais fotos) e uma ou outra que nós batemos pelo caminho com nossos telefones-cronômetros-câmeras, cujas baterias arriaram assim que chegamos de volta a Pouso Alto. Aqui, a cobertura da Fátima e do Fernando Barenco, do Maxicar, com centenas de fotos maravilhosas

E é o seguinte: ano que vem a gente volta para vencer. Desta vez, vamos levar canetas próprias e cronômetros manuais Heuer, muito mais charmosos. Uma prancheta também é bom. No mais, temos equipamentos suficientes.