Blog do Flavio Gomes
F-1

NAZOROPA (3)

SÃO PAULO (duca) – Era para ser a pior corrida do ano. Foi uma das melhores. Graças a alguns pilotos soberbos. Alonso, Raikkonen e Schumacher no pódio. Pódio retrô. A molecada é boa. Mas os velhinhos ainda dão muito caldo. Inclua-se nessa lista Webber, o quarto colocado. Fernando se emocionou muito, como nunca tinha visto. […]

SÃO PAULO (duca) – Era para ser a pior corrida do ano. Foi uma das melhores. Graças a alguns pilotos soberbos. Alonso, Raikkonen e Schumacher no pódio. Pódio retrô. A molecada é boa. Mas os velhinhos ainda dão muito caldo. Inclua-se nessa lista Webber, o quarto colocado.

Fernando se emocionou muito, como nunca tinha visto. Pegou até bandeirinha da Espanha, parou na frente da arquibancada, chorou no pódio nos dois hinos, e se mais hinos houvesse, iria chorar também. Ele vive um momento diferente em sua vida pessoal. Não foi aquele choro desbragado e sofrido, acabou sendo até contido. Mas não importa, não há categorias de choro, chorou e pronto. Choronso. Esse pode. Sabe o que foi o começo da temporada. No fim do ano, se separou da mulher. Entrou numas. Está apaixonado pela Ferrari, que retribui com paixão igual. Vai ser um chorão emotivo até o fim do ano. A Ferrari, acho, desperta tais sentimentos.

Mas lágrimas à parte, guiou pacas. A começar das três posições que ganhou na largada. Ontem, depois de ficar em 11° no grid, disse que pódio estava fora de questão. Que iria salvar alguns pontinhos e ver o que fazer na próxima. Malandrón. Era o oitavo até a primeira bateria de pit stops. Passou Hülkenberg na pista. Nos boxes, ganhou as posições de Kobayashi e Raikkonen. De repente, apareceu em quarto “virtual”. Foi aí seu melhor momento na prova: voltou no tráfego, a galera da frente teria de parar, mas não se sabia quando, e ele foi passando um a um, com uma precisão irritante, até ficar em quarto mesmo. Quando a McLaren, de novo, se embananou na parada de Hamilton, durante um safety-car para tirar pedaços de pneus da pista, terceiro.

Aqui, parênteses para Hamilton. Pobre Hamilton. Estava tranquilo, em segundo, até a parada. Vergne e Kovalainen se enroscaram, pneus se dissolveram pelo asfalto e lá foi a turma da limpeza para a pista enquanto o safety-car juntava todo mundo. Ótimo para a corrida, porque Vettel estava um ano na frente do resto, caminhando célere para uma nova e sossegada vitória. No box, uma parada de 20s para todo mundo virou 30s para Lewis. Caiu para sexto.

E quando a prova recomeçou, a sorte começou a sorrir para Fernandinho. Sorte auxiliada pela competência, é bom que se diga. Primeiro, ele passou Grosjean, então o segundo colocado, na pista. No muque e na moral. Na mesma volta, Vettel quebrou. Problemas elétricos. Choque no rabo. Sei lá o quê. Pane em alguma coisa. Alternador, segundo o time. Babau. Mas aí Garibaldo cresceu e foi para cima. Tinha carro para brigar com Alonso. Os pneus iriam acabar, uma hora ou outra. Era apenas uma questão de saber com quem a borracha seria mais generosa.

Não deu nem tempo. Romain, de repente, parou também. “Sistema de alimentação de combustível”, informou a equipe pelo Twitter. A bomba perdeu pressão. No meu DKW acontece isso, também, quando resseca o diafragma. Depois, avisaram que foi alternador. Por isso que prefiro dínamo.

Aí ficou mais fácil para Alonso. Mas ainda tinha coisa para acontecer, porque nas últimas dez voltas de todos os GPs é o tal negócio: quem cuidou dos pneus com mais carinho começa a chegar nos caras da frente. A duas voltas do fim, Raikkonen assumiu o segundo lugar ao passar Hamilton — as ultrapassagens hoje, quase todas, foram lindas, sem asa-móvel ou outras viadagens. Maldonado curtiu, estava em quarto, e foi fazer o mesmo ao perceber que a borracha do britânico tinha ido para o caralho. Expressão chula, mas bem precisa, que só o português nos oferece: “Para o caralho” é autoexplicativo e pode ser usado em várias circunstâncias. Ontem, por exemplo, no Canindé, mandamos o São Paulo para o caralho.

Mas voltando à corrida, Maldonado e tal, Lewis não deixou. Se tocaram. O inglês foi parar no muro, foi para o caralho, e ficou putíssimo. Achei que foi culpado. Pastor perdeu o bico. Caiu de terceiro para décimo. Chávez vai interromper hoje o fornecimento de petróleo para todos os países de língua inglesa do mundo.

E aí, acelerando loucamente, surgem Schumacher e Webber, que tinham largado de pneus duros, lá atrás, e na parte final da prova tinham os macios calçados em seus carros. Foram atropelando Deus e todo mundo e na última volta, com a batida de Hamilton e o infortúnio bolivariano, Michael apareceu em terceiro, com Mark em quarto. Raikkonen, nas últimas voltas, ainda foi avisado pelo rádio que os pneus de Alonso iriam acabar e que poderia vencer. Mas como não acabaram, não inventou muito e ficou na dele, em segundo. Porque, como diz o ditado mui popular, “quem tem pneu, tem medo”.

Dez títulos mundiais no pódio: dois de Alonso, um de Kimi, sete de Schumacher. No Canadá, levaram troféus Hamilton, Grosjean e Pérez. Todos meninos, egressos da GP2, média de idade 25 anos. Hoje, Alonso, Raikkonen e Schumacher. Todos velhacos, egressos da era dos dinossauros, do Paleolítico, dos tempos em que “iPad” era o que a menina dizia para o menino quando ele partia pra cima sem pedir nada, idade média 35 anos. Schumacher voltou ao pódio depois de seis anos. O último tinha sido na China em 2006, salvo engano. Troféu mais do que merecido para um cara que teve a coragem de voltar a correr depois dos 40. Fodástico do bairro Peishotten.

Isso é legal nesta F-1 2012. Tem para todos os gostos. Jovens e velhos competitivos, carros de todos os tipos andando na frente e brigando até o fim, atuações assombrosas (hoje, além dos quatro primeiros, há que se elogiar Di Resta, sétimo com apenas uma parada, Hülkenberg, quinto, Maldonado, que era para ter terminado em terceiro, Kobayashi, que lutou muito e se envolveu em dois acidentes, sobre os quais falo daqui a pouco, e até Petrov, que chegou a estar em décimo, incrível), atuações horrorosas, toques, disputas, mesmo numa pista de merda como a de Valência.

Grande campeonato.

Grande campeonato que não fazem os brasileiros. Aliás, me digam: verdade que a Globo passou metade da corrida discutindo se a punição a Senninha no toque com Koba-Mito foi injusta, que o comissário era finlandês (Salo) e por isso queria foder o Brasil inteiro por causa do piloto reserva da Williams (Bottas)? Porra, putaquepariu. OK, Bruno poderia chegar mais à frente, mas Kamui também. E daí? Na hora, na rádio, eu disse: Senna espremeu o japa, vai ser punido — embora eu ache um exagero o que se pune na F-1; mas pelos critérios vigentes, foi ele que teve culpa. Só que esse incidente NÃO TEM UMA PORRA DE IMPORTÂNCIA NENHUMA NUMA CORRIDA COMO ESSA! Será que é tão difícil entender? É tão difícil compreender a irrelevância de um toque e uma punição numa disputa ali pelo oitavo ou nono, quando se tem uma disputa tão bela na frente, com protagonistas do porte de Hamilton, Vettel, Alonso, Raikkonen?

Bem, dane-se. Bruno até que se recuperou bem, chegou quase nos pontos, tem um carro bom, precisa aproveitar e não está aproveitando. Quanto a Massa, deu azares de todas as montas. Primeiro, na hora de trocar pneu. Uma volta antes do safety-car. Vai ser cagado assim no inferno. Aí despencou, de sétimo para 14°, passou a enfrentar as dificuldades de sempre, sucumbiu. Ainda foi acertado por Kobayashi numa disputa de posição, o pneu furou, acabou lá atrás. Até o Petrov passou ele. Putz.

Alonso tem 111 pontos agora. Como Vettel e Hamilton abandonaram, Webber, quem diria, é o vice-líder com 91. Ó o Webber, ó! Lewis tem 88 e está em terceiro. Vettel, com 85, é o quarto. É uma gangorra da peste, este Mundial. O australiano tem cinco quartos lugares, já. Regularidade é tudo. Alonso é o único, agora, com pontos em todas as corridas. El Fodón de Las Astúrias. É a chave para ser campeão. Por isso acho que Hamilton foi bem burro hoje ao tentar, sem pneus, segurar Maldonado. Deixa. Chega em quarto, faz 12 pontinhos, vai a 100. Agora, viu Fernando escapar. Terá de correr atrás.

Faltam 12 provas, ainda. Está bonita a festa.