Blog do Flavio Gomes
F-1

CURRY, LOLA, CURRY (3)

SÃO PAULO (adeus, Tucanistão!) – Pobre Alonso. Hoje ele viu o tamanho da espiga de milho. Sua cara no pódio de Buddh era a imagem deste final de campeonato. El Desanimadón de Las Astúrias. Vettel ganhou mais uma, na paz de Shiva. Largou na pole, liderou todas as voltas e só não fez a melhor […]

SÃO PAULO (adeus, Tucanistão!) – Pobre Alonso. Hoje ele viu o tamanho da espiga de milho. Sua cara no pódio de Buddh era a imagem deste final de campeonato. El Desanimadón de Las Astúrias.

Vettel ganhou mais uma, na paz de Shiva. Largou na pole, liderou todas as voltas e só não fez a melhor delas porque Button, na última, foi o estraga-prazeres da tarde. Evitou mais um Grand Chelem. Grand Chelem. Puta merda, que nome feio.

Mas vejam que belo tipo faceiro, esse alemão. Foi sua quinta vitória no ano, a quarta seguida. Quatro seguidas na mesma temporada é algo que ele nunca tinha conseguido. Quatro seguidas na mesma temporada é algo que tinha acontecido pela última vez com Button em 2009, na espantosa Brawn. São três consecutivas tendo liderado todas as voltas. Três vitórias de ponta a ponta seguidas é algo que tinha acontecido pela última vez com Senna em 1989, não sei exatamente em quais corridas. Alguém aí descubra. São 205 voltas seguidas na liderança, desde que assumiu a ponta do GP de Cingapura. O recorde é de 304, estabelecido por Alberto Ascari em 1952. Com a vitória de hoje, Tião Alemão chegou a 26 na carreira e, agora, é o sétimo nas estatísticas, tendo deixado para trás Lauda e Clark. A próxima vítima é Jackie Stewart, com 27. Bateu nos 1.013 pontos acumulados e, depois de Buddh, só perde para Schumacher (1.560) e Alonso (1.313) — embora essa estatística seja a menos importante de todas, tanta foram as mudanças no sistema de pontuação das corridas desde os tempos das bigas em Roma.

E o rapaz tem 25 anos. Ah, meus 25 anos… Com 25 anos, eu não tinha conseguido nada disso. Mas já tinha um DKW.

Bem, Alonso foi o segundo e subiu para 227 pontos. Vettel tem 240. A diferença, que era de seis, passou para 13 — 13 é um bom número para um dia como hoje, preciso me lembrar disso logo mais. O que pode fazer o espanhol agora? Rezar para Nossa Senhora de Guadalupe que, dizem, compreende o idioma. Tião pode fechar a conta nos EUA, se vencer em Abu Dhabi e Austin, mesmo com Fernandito em segundo. Curioso: o título pode vir justo na prova que, para o Brasil, não terá transmissão ao vivo pela TV aberta, porque essa corrida será realizada no mesmo horário de Portuguesa x Grêmio, no Canindé. Azar da F-1.

No pódio, do lado esquerdo do alemão, estava Webber. Só não deu dobradinha rubrotaurina porque o desolado marsupial ficou sem o KERS lá pela 20ª volta. Alonso chegou e passou. Esse GP indiano não foi dos melhores, mas pelo menos teve bons momentos. A largada, por exemplo, daquelas de prender a respiração até terminar a primeira volta, com Alonso passando os dois carros da McLaren numa balada só, para levar o troco de Button logo depois e, na quarta volta, devolver o passão no bonitão. Hamilton também passou o companheiro e aí as coisas se estabilizaram, com a já citada exceção do final da prova, quando Webber ficou com o carro manco.

E foi um festival de navalhadas nos pneus, também. Primeiro, Verme em Matusalém, jogando este para o fim do pelotão. Depois, Ricardão em Chapolin e, por fim, Koba Mito em Maldanado. Todos rasgaram seus pneus nas asas dianteiras cujos defletores foram lâminas afiadas nas pedras dos amoladores de facas mais populares de Nova Déli. Ou Délhi. Como devemos escrever isso?

Com poucas paradas — a imensa maioria optou por apenas um pit stop, era o bastante —, a corrida se desenrolou sem maiores pirotecnias, mas com boas disputas no pelotão do meio. O primeiro-sobrinho foi um dos protagonistas, com belas ultrapassagens sobre Maldonado e Rosberguinho, para chegar em décimo. Na hora de sua parada, ele perdeu tempo na entrada dos boxes, a única do mundo que tem até área de escape, de tão rápida que é.

(Dizem que os pilotos conversam no jantar: e aí, fez a entrada de box flat? E os que não fazem são vítimas de bullying.)

Massa fez uma corrida correta, nem muito boa, nem muito ruim. Largou em sexto, em sexto chegou. Quando foi ultrapassado por Raikkonen, retomou a posição imediatamente como se dissesse: garotão, é para ficar tudo como está, não inventa.

E foi assim.