Blog do Flavio Gomes
F-1

YEONGAM STYLE (4)

SÃO PAULO (vou passar na padaria) – Alonso vai passar a noite hoje olhando para a fotografia da taça bonita que tirou lá em 2006, na festa da FIA, aquela foto já meio amarrotada que fica sempre dentro da carteira, cantando baixinho, melancólico, choroso… Ciao, ciao, bambina, Un bacio ancora E poi per sempre Ti […]

SÃO PAULO (vou passar na padaria) – Alonso vai passar a noite hoje olhando para a fotografia da taça bonita que tirou lá em 2006, na festa da FIA, aquela foto já meio amarrotada que fica sempre dentro da carteira, cantando baixinho, melancólico, choroso…

Ciao, ciao, bambina,
Un bacio ancora
E poi per sempre
Ti perderò

Ah, que tristeza tem sido este restinho de campeonato para El Desanimadón de Las Astúrias. Vettel, conhecido como Fêttel no Jardim Botânico, ganhou a terceira seguida e finalmente passou Alonsito. Abriu seis pontos e agora, desconfio, não larga mais o angu. Está 215 a 209 para Sebastião. Kimi, o tagarela, tem 167 e já deu adeus à rapadura. Hamilton, com 153, também.

A vitória vetelliana na terra de Psy foi com aquele style de sempre: larga bem, assume a ponta e tchau. No caso do GP sul-coreano de hoje, passou o pole Webber, o Homem-carburador, logo nos primeiros metros. Fez as duas paradas de praxe e correu para o abraço. E foi Psy quem lhe deu a bandeirada. Discretamente, diga-se, sem os trejeitos de Gangnam. Achei que Tião Alemão iria dançar a famosa coreografia no pódio enlatado, mas não o fez. Antes, preferiu acariciar seu carro no Parque Fechado  — os primeiros carinhos depois de alguns meses de relação tumultuada, com idas e vindas, separações e voltas.

Newey inventou alguma coisa que está funcionando muito bem nesta reta final, fazendo Vettel lembrar os bons tempos do ano passado, em que chegava aos autódromos para fazer a pole e vencer, e qualquer coisa abaixo disso era considerada uma merda. Hoje conseguiu sua quarta vitória no ano, terceira seguida e 25ª na carreira. Passou a ser o sétimo maior vencedor da história, ao lado de Lauda e Clark. Superou Fangio, o que não é pouco. E para completar a alegria energética, o Homem-carburador chegou em segundo.

Alonso foi o terceiro, e subiu ao pódio com cara de ânus. Ele sabe o tamanho da trolha que o espera nas quatro provas que fecham o campeonato. Precisa de um milagre, macumba, vudu. Que alguém amaldiçoe Vettel para que ele quebre, bata, pegue o avião para o país errado. Em condições normais, o alemão leva. É difícil imaginar que a Ferrari vá dar um salto de qualidade tão brusco agora.

O único consolo para Maranello é que a McLaren desandou de vez e a Lotus estancou. Portanto, sua batalha é direta com a Red Bull, sem precisar se incomodar com mais ninguém. E Massa voltou a ajudar. Fez bela corrida hoje e poderia até superar Alonso — o que seria uma estupidez de todos, dele, da equipe, do primeiro-ministro, de Gina Lollobrigida e de quem mais se metesse a palpitar sobre o assunto. Era óbvio que Felipe não podia passar Fernando. Assim como era óbvio que Fernando também já não estava acelerando tudo que poderia (e por isso Massa chegou), já que a coisa com os pneus estava sinistra.

A ponto de o engenheiro de Vettel, depois da corrida, pedir desculpas por encher tanto o saco do alemãozinho com conselhos sobre a borracha. “Eu estava assustado aqui, brother”, falou. Alguma coisa estava para acontecer, como um estouro do dianteiro direito, o mais crítico. No fim deu tudo certo para todos. Ou quase todos.

Para alguns, para ser sincero, não deu nada certo. Button, por exemplo, foi acertado por um alucinado Kobayashi, que levou junto Rosberguinho. Os dois saíram da corrida e o japonês seguiu. Depois, abandonou e pediu desculpas. Falando nele, no Mito, parece que as coisas estão ruins para 2013. Já é dada como certa na Sauber, no ano que vem, a dupla Hülkenberg-Gutierrez. Para onde vai nosso japa preferido? Sem Kobayashi, podem fechar a F-1.

Outro que comeu o pão que o demo amassou foi Hamilton, o único a fazer três paradas e ainda a arrancar um pedaço do carpete verde (AstroTurf é o nome da bagaça, me informou Everald Marcchi, um amigo que tem uma cabeça fenomenal) para arrastá-lo até o fim da corrida preso à lateral do carro. Lewis teve um problema na barra estabilizadora que deixou seu carro inguiável desde o início. “Foi o ponto mais heróico jamais conquistado na longa história da McLaren”, elogiou Martin Whithmarsh, chefão dos prateados. “Lewis teve uma pilotagem épica, majestosa”, derreteu-se, quase chorando.

Esse circuito sul-coreano definitivamente não é dos meus. Pista chata, abandonada durante o ano, num lugar ermo, distante (ermo e distante são a mesma coisa), afastado, desabitado, longínquo (também é tudo a mesma coisa), no cu do mundo (idem).

O resumo é que a corrida foi chata e só serviu para mudar o líder do campeonato, algo que aconteceria mesmo se ela fosse disputada em volta do Pacaembu, aqui do lado. Não precisavam ter ido tão longe.

Algo mais a registrar? Sim, a boa briga Hamilton-Raikkonen lá pela altura da volta 25, a mensagem de rádio para Massa (a FOM só coloca isso no ar para sacanear) pedindo para ele não ficar tão perto de Alonso e o bom desempenho dos tororrossinos, oitavo para Verme e nono para Ricardão, que largou em 21° e foi buscar. Ah, e o banho de champanhe de Vettel em Johnny Herbert, o entrevistador da vez — que está gordo, senhores.