Blog do Flavio Gomes
F-1

TRI IN SAMPA (11)

SÃO PAULO (fritando o coco) – Eu tenho uma mochila. Já tive pochete, também. Tenho fotos de pochete. Uma vermelha, da Marlboro, na qual levava: 1) passaporte; 2) bloquinho; 3) canetas; 4) chave de casa (não usava, fora do Brasil, mas ficava comigo); 5) passagem de avião (naqueles tempos, o tíquete era de papel, cheio […]

SÃO PAULO (fritando o coco) – Eu tenho uma mochila.

Já tive pochete, também. Tenho fotos de pochete. Uma vermelha, da Marlboro, na qual levava: 1) passaporte; 2) bloquinho; 3) canetas; 4) chave de casa (não usava, fora do Brasil, mas ficava comigo); 5) passagem de avião (naqueles tempos, o tíquete era de papel, cheio de números indecifráveis e carbono entre as folhas, que sujava os dedos de vermelho); 6) carteira, contendo cartão de crédito, RG, carta de motorista, certificado de reservista e título de eleitor; 7) dinheiro, em três moedas: dólares, cruzeiros e a do país em questão (pesos, francos, liras, libras, forints, ienes, marcos, pesetas, escudos, essas coisas extintas); 8) chave do carro alugado e respectivos documentos; 9) gravador de fita cassete; 10) pilhas de reserva; 11) protetores auriculares; 12) chave do quarto de hotel; 13) uma carteira de cigarros; 14) isqueiro (Zippo, sempre).

Como se vê, a pochete era grande e funcional. 

Há alguns anos, troquei a pochete pela mochila, e algumas dessas coisas continuam sendo carregadas comigo. Quando estou no Brasil, claro que não preciso levar os itens 1, 5, 7, 8 e 12. Os itens 9 e 10 também estão fora de uso, e o 11 só quando tem corrida.  Em compensação, levo chaves de outros carros, um Moleskine tamanho médio, máquina fotográfica e carregador de celular. Como perdi muitos Zippos, deixei de comprá-los. Agora perco Bics. Também tenho dois celulares, um bom e outro para ser entregue aos meliantes em arrastões, pré-pago, com crédito suficiente para o meliante ligar para mim e me xingar.

Minha mochila, portanto, é valiosa.

Cheguei hoje ao autódromo por volta das 9h e como sempre faço dei uma paradinha na Ferrari para um expresso. Coloquei a mochila numa cadeira voltada para o paddock, por onde passam os pilotos, os mecânicos, os jornalistas, os convidados, os bicos, os pneus, os motores quebrados, os câmbios e os compressores. Agora há pouco precisei pegar alguma coisa nela. Oh! Não estava aqui na sala de imprensa, onde deveria estar.

Fiz uma regressão, auxiliado por especialistas no tema, e consegui voltar no tempo. Descobri que fui vassalo de uma princesa de grandes olhos e lábios, cabelos muito negros e sobrancelhas grossas na Idade Média, País de Gales, parece. Muito bonita. Não me serviu de muita coisa, pedi para pular toda essa parte e chegamos a hoje de manhã, e por sorte lembrei do expresso na Ferrari. Saí correndo, e já da passarela que leva às escadas, olhei para baixo e lá estavam a cadeira e a mochila.

Desci, tomei outro café, peguei a mochila, que ficou tomando sol indiferente aos pneus, compressores, pessoas, câmbios e motores, e trouxe tudo para meus braços, menos a princesa de sobrancelhas grossas e cabelos negros.

Linda história, não?