Blog do Flavio Gomes
Automobilismo internacional

MOTORSPORT IS DANGEROUS

SÃO PAULO (não cola…) – Depois do acidente gravíssimo de ontem em Daytona, no final da prova da Nation, meu e-mail foi invadido por corintianos que não se conformam com minha defesa inconteste da punição ao coletivo, e não apenas ao indivíduo que disparou o sinalizador e assassinou Kevin Espada em Oruru. O argumento, quase […]

SÃO PAULO (não cola…) – Depois do acidente gravíssimo de ontem em Daytona, no final da prova da Nation, meu e-mail foi invadido por corintianos que não se conformam com minha defesa inconteste da punição ao coletivo, e não apenas ao indivíduo que disparou o sinalizador e assassinou Kevin Espada em Oruru. O argumento, quase sempre confuso, é: “Olha aí, mano, o acidente na corrida matou uma pessoa. Vão fazer o quê agora, mano, proibir todas as corridas ou fazer corridas com portões fechados?”

Até onde eu sei, não morreu ninguém, felizmente. Há feridos, muitos. Foi uma panca e tanto.

E é claro que não recebi nenhum e-mail exatamente assim, é apenas um resuminho do teor da maioria das mensagens. Ninguém desses que me escreveram saberia colocar o circunflexo no lugar certo e alguns escreveram “fechado” com x. Isso não importa, de qualquer maneira. É indigência moral e intelectual comparar as duas coisas. Ninguém foi ao autódromo em Daytona com a intenção de atirar um pneu nos torcedores, ou arremessar um motor pelo alambrado. Ao contrário dos “12 de Oruro” e seus colegas, que como tantos outros lá estavam para fazer esse tipo de cagada deliberadamente.

(A propósito, aqui cabe uma pequena observação que gostaria de deixar um pouco mais em evidência do que apenas registrada na resposta a um comentário no post sobre a tragédia com o menino boliviano. Tenho recebido, e lido e ouvido igualmente, mensagens de gente que diz, resumidamente, o seguinte: “Não se pode punir uma nação de 20 milhões de corintianos por causa de apenas um criminoso”. É o discurso, inclusive, mais usado por jornalistas que querem “ficar bem com a Fiel”. Morrem de medo de irritar a Fiel. A esses, digo o seguinte: a punição, tirar o público dos jogos do Corinthians, quando muito vai afetar os 30 mil que vão ao Pacaembu a cada partida. Os demais 19.970.000 corintianos não serão afetados pela punição, eles assistem aos jogos em casa pela TV, ou escutam pelo rádio, porque ou moram longe, ou não têm dinheiro para o ingresso, ou precisam acordar muito cedo no dia seguinte. Assim, não me venham com esse papo de que estão “punindo uma nação de 20 milhões de loucos”. Estão punindo os caras que vão aos jogos, boa parte desses com claras propensões a fazer o mesmo que fizeram com Kevin, o que reduz ainda mais o número de afetados pela medida. Vamos parar de demagogia.)

Quando se vai a um evento automobilístico, para trabalhar ou assistir, há uma inscrição nos ingressos e nas credenciais que não deixa muitas dúvidas para quem os porta: “Motorsport is dangerous”.

Futebol não é para ser “dangerous”. Se é, que os dirigentes e as autoridades assumam sua incompetência e mandem imprimir nos ingressos: “Cuidado. Futebol é perigoso. Se você for atingido por um morteiro no olho, despencar da arquibancada ou levar uma cacetada de um policial, reclame com o papa. Assim que tivermos um novo”.