Blog do Flavio Gomes
F-1

TÔ CONFÚCIO (3)

SÃO PAULO (sonhar com o impossível é o primeiro passo para torná-lo possível) – Eu achava que a Ferrari ainda não estava bem o bastante para ganhar corrida. Ledo e ivo engano. Está sim, porque tem um cara como El Fodón ao volante. O espanhol foi soberbo hoje na China. Pé embaixo do começo ao […]

toconfucio3SÃO PAULO (sonhar com o impossível é o primeiro passo para torná-lo possível) – Eu achava que a Ferrari ainda não estava bem o bastante para ganhar corrida. Ledo e ivo engano. Está sim, porque tem um cara como El Fodón ao volante. O espanhol foi soberbo hoje na China. Pé embaixo do começo ao fim, sem perder tempo nas suas voltas depois das paradas e o resultado: fim do jejum de 12 corridas sem vitórias e 31 no currículo. Empatou com Mansell e, agora, só tem menos vitórias que os grandões Schumacher, Prost e Senna.

Três provas, três vencedores diferentes de três equipes diferentes. Como se previa, o campeonato começa mais ou menos como o do ano passado. Com um detalhe nada desprezível: Alonso teve um início de temporada bem pior em 2012, com um carro lamentável. E ainda assim lutou pelo título até o fim. Agora, tem uma caranga bem mais que razoável. Pode não ser um foguete em classificação, mas é honestíssima em ritmo de corrida. E, nessas condições, ele sabe o caminho das pedras.

Meu favorito Raikkonen começou a dançar na largada. Patinou e caiu de segundo para quarto. Depois ainda acertou a traseira de Pérez na 16ª volta e teve de percorrer as demais 40 com o bico todo torto e parte da asa dianteira quebrada. Não afetou tanto assim seu desempenho. Prova de que aquele monte de aletas, aletinhas e aletonas não passa de frescura de projetista. Mesmo assim, terminou em segundo com a pilotagem segura de sempre. Hamilton, meu outro favorito, fechou o pódio. Vai ter dificuldades para vencer enquanto a Mercedes não saciar o apetite de seu carro por borracha. É um dos que mais sofrem com a queda brusca de performance dos pneus. Cruzou a linha 0s2 à frente de Vettel porque o W03 é um come-Pirelli dos infernos. Mas levou mais um troféu para casa. O carro é rápido, bem rápido. E Lewis tem pilotado com cabeça e serenidade. A mudança de ares está lhe fazendo bem. E muito mal à McLaren.

Foi interessante, esse GP chinês, embora tenha sido previsivelmente ditado pela questão pneumática. Faz parte. Cada um faz sua aposta e vê se no final dá certo. Vettel, por exemplo, largou com os duros, levou o primeiro stint até onde dava, escalou o pelotão e transformou o nono lugar no grid num quarto no final. Fez a última parte da prova com macios rapidíssimos e poderia beliscar o pódio se não fosse afoito demais na metade da última volta ao retardar uma freada na ânsia de passar Hamilton. Perdeu meio segundinho ali e não teve tempo para recuperar. Button também largou com os duros, compensou as deficiências da McLaren com uma tocada limpa e delicada (“Ricciardo, uau!”), fez uma parada a menos (duas, contra três da maioria) e chegou em quinto.

Menos bem, para não dizer mal, foi Massa. Novamente perdeu ritmo depois do primeiro pit stop e passou boa parte da corrida empacado atrás de Di Resta. À Globo, admitiu que seus pneus não funcionaram bem “pelo meu estilo de pilotar”. Terminou em sexto. E fecharam os pontos Ricciardo-uau (ótima corrida), Resta Um (boa, também), Grojã (médio) e o incrível Hulk, que também largou de médios e esteve à frente de Vettel na liderança até fazer a primeira parada. No fim, mordeu apenas um pontinho. Melhor que nada.

Alonso assumiu a ponta logo na quinta volta, porque Hamilton, mesmo tendo largado bem, engoliu sua borracha rapidinho e foi ultrapassado — Massa foi na balada, em bela manobra. O mercêdico fez o primeiro pit stop na sexta volta. Quando El Fodón parou, na sétima, era o “líder real”, por assim dizer, posição que manteria até o fim — sempre que tinha alguém na frente, era alguém que precisaria parar nos boxes.

Webber, que tinha largado dos pits, jogou fora os macios já na primeira volta, mas teve um domingo daqueles. Primeiro, tentou passar por dentro de Vergne. Bateu. Trocou o bico e quando voltou para a pista o pneu traseiro se soltou. Não entendi direito se foi um problema de suspensão ou de aperto da porca. Em todo caso, abandonou. Se já tinha saído desolado da Malásia, é possível que, neste exato momento, esteja pensando numa forma não muito dolorosa de suicídio.

O entra-e-sai dos boxes, embora tenha mexido bastante nas posições momentaneamente, não alterou a essência das primeiras colocações, que eram previsíveis a partir do momento em que Alonso assumiu a ponta. A briga real era pelo segundo lugar entre Kimi e Hamilton também desde o início — porque Massa, que poderia estar nessa batalha, dela desapareceu muito rápido. Button, embora tenha andado bastante tempo na frente, só esteve por lá porque com uma parada a menos ficava sempre algumas voltas a mais na pista que os rivais antes de seus pit stops. Mas sem um ritmo muito emocionante.

Interessante, pois, a corrida. Mais interessante do que boa. Alonso recebeu a quadriculada 10s à frente do tagarela finlandês. Nunca teve a vitória ameaçada. O que é uma ótima notícia para ele e para a Ferrari. Num determinado momento, o rádio disse que ele não precisava ir tão rápido, que podia dar uma segurada. A resposta do espanhol foi algo na linha “e quem disse que estou indo rápido?”.

Vettel lidera o Mundial com 52 pontos. Raikkonen tem 49, Alonso foi a 43 e Hamilton tem 40. Massa caiu para quinto com 30. Isso se não mexerem no resultado nas próximas horas, em que estarei dormindo. É que teve um monte de gente que usou a asa móvel sob bandeira amarela, o que seria investigado depois da corrida.

Domingo que vem tem mais no Bahrein. Xìe xìe e zài jiàn.