Blog do Flavio Gomes
F-1

DAS CORRIDDEN (3)

SÃO PAULO (assim, assim) – Olha, vamos com calma. Foi legal, mas também não foi esse assombro todo o GP da Alemanha. É a história do copo meio vazio ou meio cheio. Hoje eu vi meio vazio. O pole fora da briga tão cedo, e de novo porque seu carro não se entende com os […]

dascorridden3SÃO PAULO (assim, assim) – Olha, vamos com calma. Foi legal, mas também não foi esse assombro todo o GP da Alemanha. É a história do copo meio vazio ou meio cheio. Hoje eu vi meio vazio. O pole fora da briga tão cedo, e de novo porque seu carro não se entende com os pneus? Acho ruim.

(Aqui, vale um parêntese. Ou dois, porque um abre, o outro fecha. Há semanas, desde o famoso teste secreto que todo mundo sabia que estava acontecendo em Barcelona, se especula se a Mercedes aproveitou os três dias de pista para resolver seus dramas com a borracha. Mônaco e Canadá não contavam, eu disse. Silverstone deu a impressão de que sim. Nürburgring, de que não. Resumo: pode ter ajudado um pouquinho. Mas não muito. O carro prateado, hoje, foi ficando para trás sem chances de reação. Hamilton até tenta, luta. Mas deve ser um desespero danado. Só que a próxima é na Hungria. Lá, não vai ter problema. E vão voltar a dizer que a Mercedes se aproveitou dos testes. É dura, a vida.)

As últimas voltas? Emocionantes? Estarrecedoras? Excitantes? Excepcionais? Esplêndidas? Esfuziantes? Eletrizantes? Extraordinárias? Extasiantes? (Adjetivos com “e”, sem Google; sou mesmo um dicionário.)

Nada disso. Expectantes, apenas.

O cenário era promissor: volta 50, Raikkonen no box para colocar pneus macios, voltando em terceiro. À frente dele, e bem pertinho, o companheiro Grosjean em segundo com médios e Vettel em primeiro também com os médios. Em quarto, um pouquinho atrás, Alonso com macios novinhos em folha.

Faltando dez voltas, pois, Tião duro, Grojã duro, Tagarela mole e El Fodón mole. Entre os quatro, o quê? Uns 5 segundos? Era isso. Óbvio que Kimi e Alonso viriam babando com seus pneus macios. Óbvio que Grosjean e Vettel tentariam resistir. Seria uma batalha épica, jamais esqueceríamos esse final de corrida e o mundo nunca mais seria o mesmo.

E sabem o que aconteceu? Picas. O Raikkonen passou o Grosjean porque a equipe solicitou certa gentileza do mais jovem e ficou em segundo. Chegou 1s atrás do Vettel, mas não ameaçou o alemão. Alonso ensaiou passar o francês da Lotus, mas também não conseguiu.

Sendo assim, as últimas dez voltas, que todos esperavam que fossem estonteantes, foram espasmódicas e quase entediantes. Ah, mas se a corrida tivesse mais umas cinco voltas, vai dizer alguém. Mas não tinha. Então, não encham.

De qualquer maneira, como eu dizia no início, a corrida pode não ter sido um negócio do outro mundo, mas foi interessante para observar a eficiência de algumas estratégias, além de ver algumas ultrapassagens bonitas. A tática da Ferrari, por exemplo, de largar com pneus médios para assumir a liderança depois de seis ou oito voltas, quando os macios iriam parar. Isso aí podia dar certo. Só que não rolou. Alonso parou logo, também, na 13ª volta. “Eu não estava confortável”, falou. O que ele tinha? Uma pedra na sapatilha incomodando? Coceira no rabo? Grojã, que largou com macios, foi parar na 14ª… Então, não rolou.

Massa, àquela altura, já estava fora da briga havia muito tempo e não dá para saber se daria certo com ele. Agora, no momento em que escrevo, ainda não sei o que aconteceu na sua rodada solitária que a TV não mostrou direito. É o mistério do domingo, que será explicado pela equipe daqui a pouco. E pelo piloto também. O que não quer dizer que saberemos a verdade verdadeira. Pode ter rodado sozinho. Não acho muito provável, porque aquela curva é bico, docinho de coco, tem uma área de escape maior que o estacionamento do Carrefour de Nürburg. Não tem Carrefour em Nürburg, mas vocês entenderam o que eu quero dizer.

Outra possibilidade é uma quebra. Do quê? Câmbio? Mas… Câmbio? Entrar marcha sozinha, travar roda, girar? Nessa merda toda eletrônica? Esquisito, muito esquisito. E é aquele negócio. Se foi o piloto e a equipe quiser livrar a cara dele, vai ter de inventar um problema mecânico e assumir uma culpa que não é dela, a equipe. Se for algum problema mecânico ridículo e a equipe não quiser se expor, quem vai ficar com a suspeita da culpa é o piloto.

Bem, eles que se virem para explicar. O fato é que Felipe poderia fazer uma corrida por pontos razoáveis, ainda mais que largou bem, saindo de sétimo para sexto, e sem perder posição para Alonso. Tinha uma perspectiva interessante. Interessante, mas não exatamente incrível. Era ali, para quinto ou sexto, no más.

Porque na frente, certamente, chegariam os que chegaram. Vettel fez de novo uma prova impecável, assumindo a ponta na largada depois da má partida de Hamilton, de novo, que foi jantado pelos dois pilotos da Red Bull antes da primeira curva. Parou na hora certa, administrou os pneus, relargou bem depois do safety-car e nas últimas voltas guiou com vigor para não permitir que Raikkonen o atacasse. Vigor e muita delicadeza para não destruir a borracha. Tratou seu carro como se deve tratar uma garota: com vigor e, principalmente, muita delicadeza.

A dupla da Lotus também foi legal de ver. Acho, apenas acho, que Raikkonen poderia ter tentado não fazer a terceira parada. O safety-car da volta 25 foi providencial para os filhotes da Genii. Entrou porque a Marussia de Branquinho estourou o motor, ele parou o carro na grama, saiu do cockpit, recolocou o volante e o carro foi embora, sozinho, de ré. Atravessou a pista e, por conta própria, se auto-estacionou num lugar menos perigoso. Quando eu digo que carros têm alma, é disso que estou falando.

Foram cinco voltas atrás do Mercedão tunado de segurança que ajudaram, também, Webber. O pobre Canguru Desolado, com quem tudo acontece, tivera um problema na nona volta. O pneu traseiro direito não foi fixado e saiu rolando sozinho nos boxes. Acertou as costas de um cinegrafista, Paul Allen, que neste exato momento está num hospital em Koblenz se perguntando por que não filma exposições de orquídeas em vez de corridas de carros. Teve uma fratura no ombro e umas costelas trincadas. Para o tamanho da porrada que levou, até que foi pouco. A Red Bull puxou o carro de volta, colocou o pneu faltante e Mark caiu para último. Recuperou a volta perdida com o safety-car e foi buscar um lindo sétimo lugar.

Desconfio que para alguém como ele, que vai parar com a F-1 no fim do ano e não tem nenhuma aspiração no campeonato, largar em último deve ser bem mais divertido do que na pole. Eu ficaria fazendo isso até o fim da temporada.

Mas eu falava de Raikkonen. Ele assumiu a liderança ali pela volta 42, quando Grojã e Vettel, segundo e primeiro, pararam pela terceira vez. Quando os dois cabras voltaram, o finlandês tinha uns 18 segundos de vantagem e 18 voltas pela frente. Será que os pneus médios aguentariam até o fim? Eu teria arriscado.

Mas na volta 50 Kimi foi para os boxes, colocou os macios para a fase final da prova e o que aconteceu a partir daí eu já contei, quase nada, e acabou que Vettel venceu pela quarta vez no ano (30ª na carreira, primeira na Alemanha) e voltou a abrir de Alonso na classificação. A diferença que tinha caído para 21 pontos em Silverstone subiu de novo e foi para 34: 157 a 123. Raikkonen e Grosjean fecharam o pódio, com Alonso em quarto, Hamilton em quinto, Button em sexto (bela prova), Webber em sétimo, Pérez em oitavo, Rosberguinho em nono e Hülkenberg em décimo.

Vettel tem o caminho muito fácil para o tetra. A Ferrari teve bons momentos no começo do ano, mas não dá sinais de que vai conseguir algo que, neste momento, é determinante para uma reação no campeonato: melhorar nas classificações, roubar poles da Mercedes e da Red Bull. Largando sempre na terceira ou quarta fila, não dá para fazer milagre. Já a Mercedes também não representa ameaça para o alemãozinho. Arrebenta nos treinos, mas não se garante em corrida.

Tiãozinho, tão novinho, vai emplacar quatro taças seguidas. Alonso e Hamilton, dois que são feitos do mesmo material, passarão meses emburrados. Kimi, também saído da mesma fornada, não vai se importar muito porque quando estava sendo fabricado alguém instalou nele uma carga extra de neurônios do foda-se.