Blog do Flavio Gomes
F-1

MOGYORÓD (3)

SÃO PAULO (eu não lembrava, céu é azul mesmo?) – Minha dúvida ontem era se Hamilton iria parar duas ou três vezes, porque eu desconfiava que Lotus e Red Bull poderiam tentar algo com duas paradas. Se isso acontecesse, a Mercedes teria alguma dificuldade, com uma parada a mais. Mesmo assim, achava que Lewis iria […]

SÃO PAULO (eu não lembrava, céu é azul mesmo?) – Minha dúvida ontem era se Hamilton iria parar duas ou três vezes, porque eu desconfiava que Lotus e Red Bull poderiam tentar algo com duas paradas. Se isso acontecesse, a Mercedes teria alguma dificuldade, com uma parada a mais. Mesmo assim, achava que Lewis iria levar.

Levou. Com três paradas. Como Vettel também fez três. Assim como fez a Lotus, com Grojã (quatro, porque pagou um drive-through de tirar até monge do sério). E a Ferrari, que já não importa muito porque é café-com-leite. Até Webber, que poderia tentar duas, largando mais atrás com pneus médios, também fez três. Só Raikkonen parou duas vezes, o que indica que para todo o resto era impossível. A Lotus consegue, Kimi também. Os demais, nem com reza brava.

Assim, com estratégia-padrão de três pit stops para quase todo mundo, numa pista dificílima para ultrapassar, com um carro veloz e largando na pole — e bem, diga-se, sem titubear, mantendo a ponta sem maiores problemas —, Hamilton levaria.

Levou. Pela primeira vez no ano, primeira na Mercedes, 22ª na carreira. É o 13° nas estatísticas, agora, ao lado de Damon Hill. Interessante notar que daqui a pouco tempo, assim que Hamilton ganhar mais três, teremos três pilotos em atividade entre os dez maiores vencedores da história (ele, Alonso e Vettel). É um negócio importante, que mostra como essa geração que estamos vendo é boa e valorosa — e para acabar de vez com esse negócio chato de ficar dizendo que “ah, bom era quando tinha Senna, Prost e Mansell”; a molecada de hoje é tão boa quanto, e quem quiser ficar “xatiado” com isso, que fique.

A largada do GP húngaro foi nervosa, uma porção de “quase-toques”, até o de Massa em Rosberg, que estragou a corrida do loirinho. Caiu para 12° e não teve como se recuperar. Felipe perdeu parte da asa e assim ficou a prova inteira, também numa condição de discreto coadjuvante, até terminar em oitavo.

A brincadeira boa estava, como de costume, mais à frente, com três protagonistas claros em condições parecidas de estratégia, e um quarto um pouco mais atrás, com tática diferente. Refiro-me a Hamilton, Vettel e Grosjean, os três primeiros na abertura da prova, e a Raikkonen, sexto na primeira volta, este com duas paradas previstas.

Um cara que acabou sendo decisivo na corrida foi Button. Largou muito bem e ganhou cinco posições para aparecer em oitavo logo de cara. Por duas vezes, por ter largado com pneus médios e ter feito stints mais longos, ficou várias voltas à frente de Vettel. Foi isso que impediu o alemão de se aproximar de Hamilton após os pit stops. A diferença que na primeira parte da prova nunca foi muito maior que 2s, em determinado momento pulou para 12s graças ao tempo que Vettel perdeu atrás de Button. E isso Hamilton soube administrar sem ter de engolir borracha desesperadamente para fugir da Red Bull.

(Aliás, essa nova borracha foi ótima para a Mercedes. Os pneus são mais resistentes e o carro melhorou no quesito desgaste. Os prateados vão brigar por mais vitórias neste ano. Não sei se Hamilton ainda pode entrar na briga pelo título. Mas tende a incomodar, e tem todo o direito de sonhar, não paga nada.)

Já na décima volta, a turma que largou com pneus macios, quase todos, começou a parar. Lewis foi o primeiro, e voltou em oitavo. Vettel parou duas voltas depois e quando saiu do box, estava atrás de Button. Hamilton tinha conseguido se livrar rápido do ex-companheiro de McLaren. O alemão empacou atrás dele. Grojã parou na 14ª. Na volta 21, com Button segurando todo mundo, o mercêdico já tinha enfiado mais de 10s para cima de Vettel.

Na 24ª, finalmente Vettel passou Jenson. Grosjean também, mas se tocaram, o francês usou uma via alternativa para evitar uma batida pior e acabou punido por isso. Achei uma baita sacanagem com o pobre coitado, que a partir do drive-through saiu da briga pela vitória. Há versões, depois confirmo, que teria sido punido por passar Massa pela área de escape. Se foi, sacanagem igual. Me identifico com Grojã.

A segunda janela de pit stops se abriu na 32ª volta, com Hamilton. Tudo sob controle. Voltou atrás de Webber, que não se preocupou muito em segurar o inglês para ajudar Vettel. Foda-se o Vettel, deve ter pensado. Depois do segundo pit stop, na 35ª, Tião se viu de novo atrás de Button, o maior aliado de Hamilton na corrida. E ali tudo se definiu de vez.

Raikkonen foi aparecer entre os primeiros já depois da metade da prova. Quando fez seu segundo pit stop, na volta 43, colocou-se em sexto com um monte de gente tendo de parar de novo à sua frente. Na 51ª, Lewis parou pela terceira vez. Na 56ª, foi a vez de Vettel. Kimi escalou o pelotão e surgiu em segundo, com o líder do campeonato babando atrás dele. E ficou babando até o final, com uma ou outra tentativa de ultrapassagem e choramingando pelo rádio. “Ele não me deu espaço!”, gritou. E o rádio: “OK, vamos falar para o Charlie”. Bichice total. Parecia criança reclamando com o bedel da escola. OK, vamos contar para o diretor e ele vai falar com o papai do Kimi para não fazer isso de novo.

Hamilton, com a vitória (quarta dele na Hungria; o cara gosta dessa pista), foi a 124 pontos no campeonato. Vettel, que fechou a prova em terceiro, atrás de Raikkonen, tem 172. São 48 de vantagem. É muita coisa, ainda. Webber foi o quarto, uma bela prova, e Alonso terminou em quinto sem ter sido notado. O resultado alçou Raikkonen à vide-liderança do campoeonato, com 134 pontos. Fernandinho agora é o terceiro, com 133. Está se afastando da briga a passos largos e decididos. Quem parece capaz de ganhar corridas nessa segunda metade da temporada, além da Red Bull, é a Mercedes. A Lotus, com Raikkonen, frequentará o pódio assiduamente, mas sem brigar por vitórias em condições normais. E a Ferrari é uma lástima.

Fecharam a zona de pontos Grosjean em sexto, seguido por Button, Massa, Pérez e Maldonado, que fez o primeiro ponto do ano para a Williams. No fim das contas, foi um GP bacaninha, especialmente pela redenção de Hamilton. Esse cara é realmente bom. Vettel, aos poucos, vai se livrando da ameaça que Alonso parecia representar no começo do ano. Segue sendo o grande favorito ao título. Vai ter algum trabalho com a Mercedes aqui e ali, mas só perde a taça se fizer muita bobagem, ou tiver muito azar. Ele não costuma fazer bobagens, e também não é um azarado contumaz, pelo contrário.

Agora, férias da F-1. Corrida de novo, só no dia 25 de agosto na melhor pista de todas, Spa. E que todos aproveitem o verão europeu, que é quente e delicioso.

ATUALIZANDO…

O drive-through de Grosjean foi pela ultrapassagem sobre Massa. O infeliz ainda tomou 20s pelo toque em Button, mas não perdeu o sexto lugar. Pegaram bem pesado com o rapaz.