Blog do Flavio Gomes
Futebol

AMOR FC

SÃO PAULO (cada segundo vale) – Minha Lusa garantiu ontem sua permanência na Série A. É, hoje, o 13° melhor time do mundo — considerando que o clube campeão do mundo é brasileiro e o Brasil é pentacampeão mundial, e portanto o melhor futebol do mundo é jogado aqui, e como estamos em 13° no […]

ficamos

SÃO PAULO (cada segundo vale) – Minha Lusa garantiu ontem sua permanência na Série A. É, hoje, o 13° melhor time do mundo — considerando que o clube campeão do mundo é brasileiro e o Brasil é pentacampeão mundial, e portanto o melhor futebol do mundo é jogado aqui, e como estamos em 13° no principal campeonato do país onde se joga o melhor futebol do mundo, somos o 13° maior time do mundo.

Um clube de torcida pequena, receitas idem, ignorado pela imprensa em geral, considerado um estorvo por quem gerencia o futebol no país, ser o 13° melhor do mundo é um milagre do futebol.

Nós, que torcemos para a Portuguesa, amamos o futebol. Ontem, um punhado de nós foi a Campinas para declarar esse amor. Não sei se os jogadores, todos, percebem. Alguns, sim. Há os que nasceram ali, e há os que chegaram há pouco tempo, mas notam que existe algo de especial e diferente num time como esse.

A Portuguesa de uns 15 anos para cá tinha tudo para dar errado. A cantilena é a mesma de sempre, que em algum grau todos os torcedores de todos os times declamam: má administração, gestão amadora, burrice em níveis industriais.

Mas a gente não se importa tanto, toma essa realidade como algo quase inevitável, e por isso fomos a Campinas, e a todos os cantos, em pequeno ou minúsculo número, para sentar no concreto áspero ou nas novas cadeirinhas almofadadas apenas para estar lá. Quando acabou o jogo ontem, descemos das velhas e históricas arquibancadas do Majestoso para aplaudir nossos meninos e nosso gordinho, e demos um tapa na cara do futebol mercantilista que contaminou o mundo.

A Portuguesa é uma peça de resistência, assim como o Criciúma, o Santa Cruz, o Sampaio Corrêa, e muitos, muitos outros times do Brasil que compõem o Amor FC, aquele grupo dos que amam clubes, não títulos, essa bobagem supérflua que as pessoas usam apenas para se proclamarem melhores que as outras.

Eu me acho melhor que os outros quando vejo o moleque de camisa 9 pendurado no alambrado nessa imagem aí no alto, à direita do cara sem camisa, quase no meio da foto. É um dos meus moleques, que ontem foi dormir mais leve e feliz. Ele se orgulha do que é. Sabe perder e ganhar, aprendeu a sofrer e a se alegrar. Alguns dias atrás estávamos, eu, ele e o outro moleque, no Maracanã. Fomos de carro, estacionamos mais ou menos perto, caminhamos com nossas camisas no meio da torcida do Botafogo, merecemos olhares de respeito e nenhuma, nenhuma hostilidade.

Torcedor de futebol de verdade respeita quem ama um clube. Torcedor de futebol de verdade está feliz com a Portuguesa, essa pequena aldeia gaulesa que se recusa a ser mais do que isso, porque é isso que somos. Temos nossos Asterixes, Obelixes, Panoramixes e Chatotorixes. Dependendo dos resultados da última rodada, podemos terminar o ano em décimo, o décimo maior time do mundo, na frente de representantes poderosos bancados pelo Império Romano.

Não temos arena, temos um estádio. Não temos celebridades em campo, nossos jogos não passam ao vivo na TV, não colaboramos com os índices de audiência das emissoras abertas, ou fechadas, o dinheiro que chega é pouco, há quem nos considere pequenos e irrelevantes, mas não tenho nem raiva desses, me causam é pena.

Pena, porque a gente tem uma poção mágica que vem de algum lugar misterioso, e não é todo mundo que vai bebê-la um dia na vida. A cruz que a gente carrega no peito, ao contrário do que muita gente imagina, não é um fardo, é uma dádiva.

Somos um milagre, um milagre do amor.