Blog do Flavio Gomes
F-1

MEU, BURN! (4)

SÃO PAULO (assim, assim…) – O pódio foi legal. No meio, Rosberguinho todo elegante e formoso. À sua direita, Daniel Risada com sua boca cheia de dentes. À esquerda, Kevin Magnólia meio atônito, sem entender direito o que estava acontecendo. Um resumo do GP da Austrália em poucas palavras? Vamos lá. Vitória da Mercedes, previsível, […]

aussiemagnetSÃO PAULO (assim, assim…) – O pódio foi legal. No meio, Rosberguinho todo elegante e formoso. À sua direita, Daniel Risada com sua boca cheia de dentes. À esquerda, Kevin Magnólia meio atônito, sem entender direito o que estava acontecendo.

Um resumo do GP da Austrália em poucas palavras? Vamos lá.

Vitória da Mercedes, previsível, segundo lugar da Red Bull, surpresa, e terceiro promissor da McLaren com um estreante. Williams que andou bem com Bottas e não andou com Massa, atropelado por Koba-mico, Ferrari que de novo fez um carro de quinta (posição), 15 pilotos completando a prova, Hamilton e Vettel emburrados e uma corrida ruim, no fim das contas, que valeu pela alegria rasgada de Ricciardo e pelo terceiro lugar de Magnussen, e que teve em Sapattos o único cara que lutou de verdade por posições, depois de algumas trapalhadas. O resto correu com medo de quebrar. E no fim das contas o bicho nem era tão feio assim. Quebras houve, claro, mas não muito mais do que a média para corridas inaugurais de campeonatos de carros.

Rosberguinho fez uma largada do capeta, saindo de terceiro para primeiro antes que Hamilton pudesse dizer “Pindamonhangaba”. Outro que partiu com disposição foi Bottas, de 15° para décimo. E Felipe, coitado, largou direitinho, estava bem posicionado para fazer a primeira curva, ninguém de um lado, ninguém do outro, quando levou um tranco por trás de Kobayashi. Inexplicável e decepcionante, num primeiro momento. Nosso mito virou mico. Pediu desculpas e tal, mas Massa tinha todos os motivos do mundo para estar putcho de la vita, como se diz em Ciudad del Este. Pediu que a FIA fosse rigorosa com o japonês.

Mas aqui se faz necessária uma explicação, para que não crucifiquemos Kobayashi antes do tempo, e injustamente. Uma hora depois da corrida, a Caterham informou que o japoronga ficou totalmente sem freio traseiro. E o que causou a pane foi algo “fora do controle do piloto”, e que o assunto seria levado à FIA. “The Stewards determine that the incident was caused by a serious technical failure completely outside the control of the driver…”, informou o Twitter do time, para terminar: “The team is directed to work with the FIA Technical Delegate in determining the cause of the systems failure.” Me parece claro que deu merda no tal freio eletrônico que a FIA inventou para ajudar a alimentar um dos dois motores elétricos da unidade de força dos infernos. E foi coisa séria.

Na panca, Kamui arrebentou a frente de seu carro e empurrou o Williams do brasileiro para a área de escape que, segundo aprendi na transmissão da TV, é agora composta por areia movediça — o que considero perigoso, o carro pode afundar e nunca mais ser encontrado, assim como seu piloto, se não for rápido para sair do cockpit; sempre tive muito medo de areia movediça, achei de mau-gosto a escolha desse material.

Na quarta volta, a Mercedes chamou Hamilton para os boxes. Contrariado, o inglês foi. Algo estava por quebrar. Uma volta depois, atitude semelhante com Tião, o Alemão. Foi para os boxes, não viu nenhum mecânico por ali, ficou no cockpit esperando, até que passou alguém com uniforme da Red Bull e perguntou a ele o que estava fazendo ali. “Pit stop, ora, pneus, regulagem na asa, paninho na viseira, aquela coisa toda, brakes, first gear, go, go, go!”, respondeu o piloto. O desconhecido encostou no carro, deu um tapinha no ombro de Sebastian e disse: “Pobre alma…”.

Como ninguém apareceu pra trocar pneus, regular as asas, limpar a viseira e dizer go, go, go, Vettel saiu do carro e foi embora.

Nico, o Rosberg, estava tranquilo na frente. O mesmo podia ser dito de Ricardão e sua arcada dentária privilegiada. E de Magnussen, também. Todos sossegados. Esgoelando-se vinha Bottas, já em sexto, quando exagerou na dose e deu uma lambida no muro com o pneu traseiro direito. A roda quebrou, ele teve de ir aos boxes e chamaram o safety-car para dar uma limpada na pista. Isso foi na 12ª volta. A relargada aconteceu apenas na 16ª. Um exagero dos infernos, para tirar apenas um pneu furado e um pedaço de roda da pista.

O fato é que todo mundo aproveitou para fazer a primeira parada, e Sapattos caiu para 16°. Teria de remar tudo de novo, como seus antepassados vikings fizeram séculos antes para chegar a Nova York.

Foi só uma licença poética.

Minhas anotações, depois dos pit stops, foram retomadas na volta 30 e escrevi no meu bloquinho: “NR DR KM NH FA JB JEV KR ninguém ataca ninguém, muita espera, é preciso reavaliar esse conceito de corrida, bom mesmo era quando tinha carro-asa e patrocínio de marca de cigarro, ah, que saudades daquelas manhãs de domingo em que comia pastel na feira e não precisava ficar escrevendo na puta da madrugada com um sono desgraçado”. Um dia esses bloquinhos serão encontrados e expostos num museu de literatura.

Na volta 33 Button abriu a segunda janela de pit stops e se deu muito bem, porque quando os outros pararam ele tinha conseguido duas posições, de sexto para quarto. Alonso também superou Hülkenberg, a quem perseguira durante boa parte da corrida sem conseguir passar, e Rosberguinho, na volta 39, foi o último da turma da ponta a parar. Sem sustos, sem pressa. Bottas, lá de trás, vinha passando todo mundo de novo e no finalzinho assumiu a sexta posição para lá ficar e pedir desculpas à Williams pela ligeira cagada no início. Não fosse aquilo, com o carro que tinha em mãos, talvez até pudesse pensar num pódio.

Fim de papo, os dez primeiros foram Rosberguinho, Risada, Magnólia, Bonitton, El Fodón de la Quinta Posición, Sapattos, Hulk, Kimi Tagarela (discreto e apático), Verme e Danii-se Kvyat, que estreou fazendo um pontinho e não tem do que reclamar — depois que explicou ao engenheiro a parada da Crimeia, conseguiu algum silêncio no rádio; mas desconfio que isso aconteceu mais pelas fotos de algumas moçoilas russas que mandou por whatsapp do que por algum interesse real do colega pela península do Mar Negro.

Foi a quarta vitória nico-rosberguiana na F-1, abrindo a nova era turbo da categoria. Ricciardo chegou ao pódio pela primeira vez, para júbilo da torcida marsupial, e Magnussen tornou-se o primeiro estreante a levar um troféu desde Hamilton em 2007 — de quebra, conduziu a Dinamarca ao pódio pela primeira vez.

E agora vou voltar ao leito. Quando acordar, conto como foi a prova da Classic Cup e minha vitória na categoria GTS com um Puma Transformer Mad Max numeral 69. O Lada quebrou no treino, eu já estava indo embora, quando tudo aconteceu e no fim das contas foi um dia ótimo que terminou com um trofeuzinho e a inesquecível placa “69 P1”. Mas essa história vai ficar para depois. Por enquanto, sigam o noticiário de Melbourne no Grande Prêmio.