Este diálogo ocorreu há cerca de 5 mil anos, e desde então sabe-se que na capital malaia chove todos os dias, santos ou não, ali pelo fim da tarde. Consta que Bernie Ecclestone estava presente quando o Infalível conversou com seu emissor alado, na condição de dono da produtora encarregada de fazer o vídeo e, de quebra, sócio do construtor da arca. Mas, pelo jeito, não registrou a informação pluviométrica.
E por isso já tem alguns anos que Bernie marca treinos e corrida na Malásia para aquela que ficou conhecida como a Hora de Noé.
Claro que choveu na classificação agora há pouco, que deu ao Comandante Amilton sua segunda pole no ano, 33ª na carreira, fazendo o inglês ultrapassar Nigel Mansell e empatar com Jim Clark e Alain Prost nas estatísticas. Lewis é, agora, o quarto maior poleman da história, atrás apenas de Schumacher, Senna e Vettel.
Mas ainda acho que não ganha o campeonato.
O dia em Kuala Lumpur começou como aquele de 5 mil anos atrás, quando a equipe liderada por Bernie chegou à cidade para gravar a história de Noé: quente e úmido. Na hora do terceiro treino livre, o tempo estava nublado. Com pista seca, a Mercedes fez 1-2 com Rosberguinho e Hamilton e enfiou 1s1 no terceiro colocado, Raikkonen. No fim da tarde, desabou o toró nosso de cada dia, um daqueles de salvar o Sistema Cantareira. Era tanta água que não teve jeito: a direção de prova foi adiando o início das práticas até que as condições da pista apresentassem um mínimo de segurança. O retardo foi de 50 minutos em relação ao horário original.
E os tempos que no seco giravam na casa de 1min40s subiram para algo em torno de 2min. Falando em tempos, vale registrar o recorde de Sepang: 1min32s582, de 2005, Alonso de Renault. Arredondando, os carros estão 8s mais lentos depois de nove anos. A F-1 gastou fortunas para ficar bem mais lenta. Curioso, isso. Para não dizer ridículo e estapafúrdio.
Pois que o Q1 começou, finalmente, e com pneus intermediários a turma foi para a água e poucos incidentes foram registrados, com destaque para a panca de Ericsson, que depois de bater ficou um bom tempo dentro do cockpit buscando sinal no celular da sua família para informar à equipe o que tinha acontecido. Sem créditos, porém, desceu do carro e voltou aos boxes para relatar pessoalmente que fez uma ligeira cagada e bateu. Faltavam 50s para o fim do treino e o resultado não foi muito abalado. Ficaram na primeira degola, pela ordem, Maldanado (que sugeriu à Lotus largar a pé amanhã), Futil, Branquinho, Koba-Mito, Chalton e Sonyericsson. Rosberg foi o mais rápido.
No Q2, a chuva piorou. Ou melhorou, dependendo do ponto de vista. Para a lavoura, melhorou. Para o vendedor de capas, melhorou. Para o Sistema Cantareira, melhorou. Mas para o vendedor de algodão-doce, piorou. Para o dono do carro conversível, piorou. Para a Williams, piorou.
É, a Williams. Como na Austrália, onde a chuva veio no Q2 e no Q3, a Williams apanhou da chuva. É simples explicar: experimentem colocar água num Martini. Fica aguado e ruim. Esse é o problema da Williams: incompatibilidade entre patrocinador e precipitações. Ou chove, ou anda. As duas coisas não dá. Bem que o time tentou alguma coisa, colocando pneus intermediários em Sapattos e Massacrado. Mas não rolou. Outros que tentaram o mesmo, como o falante Raikkonen, tiveram de voltar aos boxes para calçar os pneus de chuva forte, conhecidos como “Noés”.
O Q2 chegou a ser interrompido por uma barbeiragem de Alonso, que não viu o soviético Kvyat numa curva de baixa e bateu nele. Quebrou um braço da direção da Ferrari do espanhol, mas a equipe, muito rápida, conseguiu trocar e ele pôde voltar à classificação. Na retomada dos trabalhos, Hamilton cravou a melhor volta, dando sequência ao domínio da Mercedes. Limados: K-viado, Gutierros, Massacrado, Maria do Bairro, Sapattos e Grojã. Felipe, ao repórter Marcelo Coragem, da Globo, disse que “não é novidade que nosso carro nessa condição não rende”. Bottas ainda perdeu três posições por ter atrapalhado Ricciardo. Larga em 18°.
Classificados para o Q3, portanto, as duplas de Ferrari, McLaren, Red Bull e Mercedes, mais uma Force India, do Incrível Hulk, e uma Toro Rosso, de Verme.
O único que tentou algo diferente no Q3 foi Button, que andou com pneus intermediários. “Se pans dá certo”, falou pelo rádio. Não deu. Larga em décimo. A briga lá na frente ficou para Hamilton, Tião Alemão e Rosberguinho, que terminaram o treino nessa ordem. Vettel andou bem perto, mas Nico, não. A diferença para seu parceiro foi de 0s619. Alonso terminou em quarto, seguido por Ricardão, Tagarellen, Hulk, Magnólia, Verme e Bonitton.
Teremos chuva na corrida, claro, é algo determinado pelo Impoluto há 5 mil anos por conta de uma gravação importante para o HolyTube, e não há nenhum motivo para acreditar que será diferente amanhã. Hamilton e Vettel são excelentes na chuva. Alonso também. Se pans, vai ser uma prova muito interessante, porque a Hora do Noé pode vir depois da largada. Espero que seja assim, porque senão o GP vai começar sob safety-car, o que é uma chatice. Quando chove no meio de uma corrida, é sempre mais legal.
Se pans, Bernie estava certo ao escolher a Hora de Noé para essa prova, mesmo. É mais divertido.